COP-27 chega a acordo sobre fundo para países com impactos climáticos
Decisão inédita visa o financiamento para países mais afetados por impactos da mudança climática
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de novembro de 2022 às 10h52.
Última atualização em 22 de novembro de 2022 às 07h33.
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ( COP27 ) chegou ao fim neste domingo com um acordo sobre a criação de um fundo de "perdas e danos" para os países mais afetados por mudanças climáticas, segundo comunicado oficial do evento realizado no Egito. Apesar da decisão inédita, líderes globais mostraram descontentamento ao questionar principalmente a falta de medidas efetivas para combater as emissões geradas pelo uso de combustíveis fósseis.
"Decidimos um caminho a seguir em uma conversa de décadas sobre financiamento para perdas e danos - deliberando sobre como abordamos os impactos nas comunidades cujas vidas e meios de subsistência foram arruinados pelos piores impactos das mudanças climáticas", disse Simon Stiell, Secretário Executivo da ONU para Mudanças Climáticas.
Ainda de acordo com o comunicado, a COP27 resultou na entrega de um pacote de decisões pelos países que reafirmaram seu compromisso de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. O pacote também fortaleceu ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptar aos impactos da mudança climática, além de aumentar o apoio financeiro, tecnológico e de capacitação necessário aos países em desenvolvimento.
Os governos concordaram ainda em estabelecer um "comitê de transição" para fazer recomendações sobre como operacionalizar os novos acordos de financiamento e o fundo na COP28 do próximo ano. Espera-se que a primeira reunião do comitê de transição ocorra antes do final de março de 2023.
A decisão, nomeada como Plano de Implementação de Sharm el-Sheikh, destaca que uma transformação global para uma economia de baixo carbono deverá exigir investimentos de pelo menos US$ 4 a 6 trilhões por ano.
Críticas
Nas primeiras horas da noite, a União Europeia e outras nações lutaram contra o que consideravam um retrocesso no acordo de cobertura abrangente da presidência egípcia e ameaçaram abandonar o restante do processo. O pacote foi revisado novamente, removendo a maioria dos elementos aos quais os europeus se opuseram, mas sem contemplar todas as demandas, segundo a Associated Press.
"O que temos diante de nós não é um passo à frente suficiente para as pessoas e o planeta", disse o vice-presidente executivo da União Europeia, Frans Timmermans. "Não traz esforços adicionais suficientes dos principais emissores para aumentar e acelerar seus cortes de emissões", complementou.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, também expressou frustração. "É mais do que frustrante ver as etapas atrasadas de mitigação e eliminação das energias fósseis sendo obstruídas por vários grandes emissores e produtores de petróleo", disse ela.
O acordo inclui uma referência velada aos benefícios do gás natural como energia de baixa emissão, apesar de muitos países pedirem uma redução gradual do gás natural, que contribui para a mudança climática, ainda de acordo com a Associated Press.
"Neste texto, recebemos garantias de que não há espaço para retrocessos", afirmou o secretário Executivo da ONU para Mudanças Climáticas. "Isso dá os principais sinais políticos que indicam que a redução gradual de todos os combustíveis fósseis está acontecendo".
Ativistas climáticos estão preocupados com o fato de que pressionar por uma ação forte para acabar com o uso de combustíveis fósseis será ainda mais difícil na reunião do próximo ano, que será realizada em Dubai, localizada nos Emirados Árabes, ricos em petróleo.