ESG

Construtora Tenda vê ganhos na contratação de refugiados

Atualmente, 20 refugiados trabalham na Construtora Tenda. Além disso, há projetos com ONGs para ampliar o número de mulheres nas obras e escritórios

Grupo de refugiados é recebido em obra da Construtora Tenda  (Tenda/Divulgação)

Grupo de refugiados é recebido em obra da Construtora Tenda (Tenda/Divulgação)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 24 de março de 2022 às 07h00.

A diversidade no quadro de funcionários costuma ser um desafio para empresas do setor de construção, especialmente, quando nas obras, onde há uma população majoritariamente masculina e local. Mas, em busca de mudar o cenário e quebrar esteriotipos, a construtora Tenda tem investido em programas de contratação de mulheres e refugiados. "O mercado ainda é pouco diverso, com uma média de 18% de mulheres nas empresas do setor", diz Cristina Caresia, diretora de gente e gestão da Tenda.

Já na Tenda há um trabalho com ONGs que ajudam na inserção de mulheres na construção civil. "As ONGs começam esses trabalhos para que as mulheres possam reformar e melhorar a moradia sem depender de terceiros, mas percebemos uma oportunidade de ter mão de obra na empresa".

A partir disto, nos últimos 18 meses, iniciou-se um trabalho de sensibilização da liderança, que passou a ser treinada em temas como machismo e vieses inconscientes. "É comum pensarem que a mulher não aguenta o trabalho pesado, mas temos visto que não é bem assim". Desde o último semestre foram 35 mulheres contratadas para as obras, e o objetivo é dobrar a quantidade neste ano.

Segundo a executiva, a equidade de gênero é objetivo em toda a empresa. "São 51% de mulheres quando olhamos para cargos de supervisão, e 12% na diretoria. Não existe uma meta formal, mas estamos trabalhando para mudar o quadro para 50% em todas as posições. No ano passado, 54% das contratações nos escritórios foram de mulheres, um desafio quando se olha para os formandos em engenharia civil, por exemplo", diz Caresia.

Também em busca da equidade de gênero, a Tenda lançou um programa de estágio exclusivo para mulheres de áreas de tecnologia. Em 2021, foram seis mulheres contratadas.

Refugiados

Em 2021, a Construtora Tenda firmou uma parceria com a ONG AVSI e passou a contratar pessoas refugiadas da Venezuela que foram acolhidas em alojamentos em Roraima, na região Norte do país. "A ONG faz processos seletivos à distância e, depois, encaminha as pessoas para as cidades e empresas".

No caso da Tenda, a cidade escolhida para o projeto piloto foi Goiânia (GO). "Escolhemos o local por questões que foram desde adaptações climáticas até o acolhimento e empatia do gestor local", afirma Caresia.

Além disto, quando chegam ao local de trabalho, os novos funcionários passam por uma semana de treinamento e recebem acompanhamento contínuo do gestor e dos colegas para serem auxíliados, por exemplo, em barreiras da língua. "Temos um ritual de conversas diárias nas obras, o que também ajuda na integração".

Apesar das preparações, os primeiros refugiados passaram por dificuldades não mapeadas pela empresa. "Percebemos que alguns não estavam indo até as obras, mas depois descobrimos que o mesmo não tinha dinheiro para se locomover e chegar ao local. Precisamos oferecer um auxílio financeiro antes do trabalho e não apenas ao final do mês como as empresas costumam fazer".

Atualmente, 20 refugiados trabalham na Construtora Tenda, sendo que não houveram desistências ou demissões. "O acolhimento é fundamental para que eles continuem e tudo dê certo. Por aqui, temos percebido o sucesso da operação quando gestores de outras regiões se mostram interessados em contratar mais refugiados, um próximo passo a seguirmos".

No Brasil, outras empresas também percebem o valor da contratação de refugiados. A varejista Carrefour, por exemplo, tedia dedicado para a atração desses talentos, enquanto a rede de shoppings Iguatemi tem um programa com dezenas de contratados, no qual nenhum foi demitido até então.

Segundo relatório do Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR), idealizado pela empresa EMDOC, com apoio institucional da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre 2011 e 2020 foram 3.418 profissionais cadastrados de 72 nacionalidades atendidas, das quais as 10 mais recorrentes são: Venezuela (25%), Angola (18%), República. Do total, 1.396 pessoas foram impactadas diretamente pelo PARR por meio encaminhamento para entrevistas de trabalho, contratações e participação em projetos de formação profissional. 

 

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