ESG

O plano sustentável do Chile para desbancar o salmão da Noruega

Para conquistar mercado, o país latino-americano precisa reduzir os antibióticos e aprimorar os controles ambientais. Uma nova constituição vai ajudar

Salmão (Hotels in Eastbourne / www.eastbourneguide.com / Stock Xchng/SXC)

Salmão (Hotels in Eastbourne / www.eastbourneguide.com / Stock Xchng/SXC)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 24 de setembro de 2021 às 12h06.

As exportações de salmão na região de Los Lagos, principal polo produtor do Chile, cresceram quase 10% em 12 meses, até julho deste ano. O valor vendido alcançou quase 400 milhões de dólares. É um resultado expressivo, porém há espaço para avançar. O Chile ainda não figura entre os maiores exportadores do peixe, muito apreciado nos rodízios de sushi brasileiros.

Para fomentar o setor, os produtores chilenos desenvolveram um plano que envolve uma dose de marketing, e uma dose ainda maior de mudanças na cadeia de produção. O objetivo é tornar a indústria de salmão do país mais sustentável, com padrões de qualidade próximos dos noruegueses, que até 2019 figuravam como os maiores exportadores globais – a pandemia derrubou as vendas nórdicas, mas o país deve se recuperar este ano.

No marketing, a aposta é no futebol. Em junho, a ProChile, agência de fomento econômico do governo federal, lançou uma campanha estrelada por Alexis Sánchez, atacante da seleção chilena e da Inter de Milão.

Mais controle, menos antibióticos

A questão para os chilenos é atingir padrões de qualidade e sustentabilidade de produtores mais desenvolvidos. Enquanto na Noruega o uso de antibióticos praticamente não existe, no Chile, são aplicados 500g de remédios por tonelada de peixe, em média, segundo reportagem da revista The Economist.

Outro problema está no controle ambiental. As fazendas chilenas são acusadas de despejar resíduos da psicultura nos rios, o que já teria ocasionado um acidente ambiental em 2016, quando uma alga venenosa matou milhares de salmões confinados, que foram despejados no oceano exacerbando o problema – os produtores negam que as 4,5 mil toneladas de peixes mortos descartadas tenham tido algum impacto.

De qualquer maneira, segundo a The Economist, as regras ambientais para o descarte de resíduos da piscicultura são 15 vezes mais frouxas no Chile do que na Europa.

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A solução vem da constituinte

A questão é que essas regras foram instituídas pela ditadura de Augusto Pinochet, cujo plano, desenvolvido pelos militares, era de diversificar as exportações chilenas para além do cobre. De fato, atualmente o salmão é o segundo produto mais vendido para o exterior.

Em 2019, milhares de chilenos saíram às ruas para pedir uma nova Constituição. Uma das principais insatisfações é que a carta atual, escrita na ditadura, privilegia os grandes negócios em detrimento dos cidadãos comuns. Em maio, foram eleitos os 155 cidadãos que vão reescrever o documento. Mais da metade deles apoia aumentar o nível de proteção ambiental.

Tanto barulho em torno do tema já vem dando resultado. Entre 2017 e 2019, o uso de antibióticos na indústria de salmão chilena caiu cerca de 30%. Já é um avanço, mas ainda longe de desbancar os noruegueses.

 

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