Brasil investe em algodão com identidade latino-americana
Dinheiro aplicado vem de ação que o país ganhou dos EUA há 10 anos
Agência de notícias
Publicado em 7 de outubro de 2024 às 17h39.
Última atualização em 7 de outubro de 2024 às 19h24.
Há mais de uma década, um programa liderado pelo Brasil trabalha para unir países latino-americanos em torno de um produto: o algodão . O Brasil é o maior exportador deste vegetal do mundo, terceiro maior produtor da fibra e líder em produção sustentável. A parceria +ALgodão incentiva países vizinhos a adotar práticas sustentáveis e investir no artesanato local, valorizando a identidade latino-americana com princípios como rastreabilidade, respeito ao meio ambiente e combate à fome e à pobreza.
Setor global e Dia Mundial do Algodão
O setor do algodão, que gera 250 milhões de empregos diretos e indiretos globalmente, foi reconhecido pela ONU ao estabelecer o Dia Mundial do Algodão em 7 de outubro. A cooperação internacional do programa +ALgodão é liderada pelo Brasil por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e da FAO, em parceria com a Embrapa e Empaer-PB. Países como Colômbia, Peru e Bolívia também integram essa iniciativa.
A origem do investimento para o programa remonta a 2002, quando o Brasil contestou os subsídios dos EUA na OMC. Após 12 anos de disputa, os EUA foram obrigados a pagar US$ 300 milhões ao Brasil, dos quais 10% foram destinados à cooperação internacional.
Parceria internacional e diversificação
Segundo Paulo Estivallet, embaixador brasileiro na Colômbia, desenvolver o algodão em países parceiros promove a diversificação e oferece uma alternativa ao mercado brasileiro em momentos de crise. A Colômbia, que já teve o algodão como segundo produto mais importante, agora trabalha com o Brasil para retomar sua produção, utilizando técnicas sustentáveis como biofertilizantes e irrigação eficiente.
Sustentabilidade e desafios locais
Desde 2017, o +ALgodão tem introduzido na Colômbia técnicas como rotação de culturas, que reduzem custos e aumentam a eficiência. A agricultora Rosa Rubiano Rojas, da região de Villavieja, vê resultados positivos: "Está indo muito bem e se vê uma boa mata e um bom algodão".
Uma das grandes vantagens do programa é a assistência técnica gratuita oferecida aos pequenos produtores, como Alfredo Antonio Ramos, que antes pagava altos valores por suporte técnico.
A sustentabilidade também está presente em iniciativas como o reaproveitamento de subprodutos do algodão e o desenvolvimento de biofertilizantes. Na Colômbia, a Agrosavia, equivalente à Embrapa, trabalha para recuperar sementes crioulas e criar um banco genético do algodão.
Impacto social e econômico
O algodão foi considerado "ouro branco" em algumas regiões da América Latina, e seu fortalecimento pode ajudar a combater fome e pobreza, especialmente em áreas rurais afetadas por conflitos, como na Colômbia. Além de incentivar a permanência das famílias no campo, o programa leva tecnologia avançada, como drones agrícolas, para atrair os jovens de volta à agricultura.
Empoderamento feminino
Outro destaque do +ALgodão é o foco em igualdade de gênero. Muitas mulheres latino-americanas, como as artesãs Adriana Reyes e Liris Barga, se beneficiam do acesso ao algodão para produzir artesanato tradicional. O programa não só reduz custos, mas também capacita mulheres a cultivarem seu próprio algodão.
Rastreabilidade e certificação
A coordenadora Cecília Malaguti ressalta que a segunda fase do +ALgodão está focada na rastreabilidade e certificação, atendendo à demanda dos consumidores por informações sobre a origem do algodão e as técnicas de produção empregadas.
Ao promover a sustentabilidade, o Brasil busca fortalecer a cadeia algodoeira na América Latina, vinculando o produto a valores como rastreabilidade, ancestralidade e respeito ao meio ambiente.