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Jornalista
Publicado em 29 de abril de 2021 às 18h56.
Última atualização em 19 de junho de 2024 às 14h58.
Como uma empresa especializada em roupas e acessórios pode pregar o anticonsumo, reverter 1% do lucro anual para a preservação do meio ambiente e ainda superar 1 bilhão de dólares em vendas ao ano? Essa é a história da Patagonia. E um dos grandes profissionais por trás da construção da marca é Vincent Stanley, que fará a abertura oficial do evento Melhores do ESG: repensando o valor de tudo, promovido pela EXAME.
O maior evento online e gratuito sobre ESG do Brasil começa na próxima segunda-feira, 3 de maio, e segue até 18 de junho. Ele reúne os maiores especialistas do setor em 40 painéis sobre como os padrões de responsabilidade social, governança e sustentabilidade podem influenciar o sucesso dos negócios e dos investimentos. Entre eles, está Stanley.
Às 17h, o coautor do livro The Responsible Company falará ao público sobre o processo de construção da Patagonia, onde começou a trabalhar em 1973, e contará como a empresa virou uma referência no mercado. Em 2020, a companhia foi eleita Campeã da Terra, maior honraria ambiental concedida pelas Nações Unidas.
Em entrevista à EXAME, Stanley fala sobre sua trajetória, compartilha lições valiosas e descreve a sensação de participar do evento. “Estou honrado. Sou grato a EXAME por dedicar um tempo tão valioso à nossa empresa e espero que os aprendizados da Patagônia sejam úteis para os empresários no Brasil”, diz. Leia a íntegra abaixo.
Comecei a trabalhar na Patagonia há 48 anos, quando ela ainda era uma pequena fabricante e distribuidora de equipamentos de escalada. Esperava trabalhar por apenas alguns meses para economizar dinheiro e viajar. Como não surfava, era a única pessoa que ficava no escritório quando todos saíam para aproveitar as praias da Califórnia.
Comecei a atender aos pedidos do revendedor por telefone e fui convidado para ser o primeiro gerente de vendas da empresa. Eu tinha 21 anos e não fazia ideia do que um gerente de vendas fazia. Ensinamos e aprendemos uns com os outros a construir o negócio. Por ser um escritor profissional, também trabalhei na construção do primeiro catálogo e tenho sido um dos guardiões da marca desde então.
Sabíamos que nossos produtos eram feitos com combustíveis fósseis não renováveis e altamente poluentes. Casacos de lã, roupas íntimas, jaquetas eram produtos com náilon e poliéster em suas composições. Por isso, tínhamos a intenção de reduzir seu uso desde o início. Trabalhamos com a Malden Mills, uma de nossas grandes fornecedoras de tecidos, para desenvolver poliéster reciclado em 1994. Os clientes foram extremamente receptivos, e os aumentos nos preços não foram tão altos.
Mudar do algodão convencional para o orgânico já foi mais desafiador, pois o uso intensivo de produtos químicos no cultivo não era amplamente conhecido pelo público e os aumentos de preços foram exorbitantes para a época. Mas a troca foi um bom investimento. Conseguimos explicar a mudança aos clientes e recuperar vendas e margem de lucro. E é claro que, com o tempo, conquistamos novos clientes por nossas práticas ambientais.
Não acredito que buscar um equilíbrio seja a melhor abordagem, embora esse tenha sido nosso pensamento por muitos anos. Quando mudamos para o algodão orgânico, costumávamos dizer “isso não faz sentido para o negócio, mas estamos fazendo a coisa certa e vamos encontrar uma maneira de nos sairmos bem”.
Mas o que realmente fizemos foi construir um tipo diferente de negócio. As restrições ambientais e sociais que impusemos a nós mesmos exigiram novas práticas que geraram produtos inovadores — que, por sua vez, se tornaram o coração da marca. Nossa lucratividade agora está enraizada em nossas práticas, não em um dilema entre nos darmos bem ou fazermos o bem.
Para empresas como a nossa, com uma enorme cadeia de abastecimento, é importante cooperar com os fornecedores para entender ao máximo os possíveis impactos sociais e ambientais — tanto na cadeia de abastecimento [em todas as etapas de fabricação] quanto no transporte da mercadoria e no descarte feito pelo consumidor final.
Não sabíamos quais eram os efeitos de nossos produtos até que começamos a nos questionar a respeito disso. Para agir, você precisa saber. Transparência é a chave para ganhar a confiança de funcionários, clientes, fornecedores e comunidades e fazer a coisa certa para o planeta. Compartilhe seus sucessos para que outras pessoas possam se beneficiar com o que você aprendeu. Compartilhe seus desafios para que todas as partes interessadas tenham ciência do que representam e como podem ajudar a resolvê-los.
Estamos em uma década crítica, com crises significativas de mudança climática, perda de biodiversidade e desigualdades sociais debilitantes dentro e entre as nações. As empresas precisam enfrentar esses desafios ou irão se deparar com pressões políticas e econômicas e, eventualmente, serão boicotadas por investidores, clientes e potenciais colaboradores.
Se você investe no longo prazo, não vai querer apostar seu dinheiro em empresas que ficaram paradas no tempo. Mas, sim, em companhias inteligentes e responsáveis que trabalharão para atender às necessidades das pessoas nesta era desafiadora. Empresas com boas práticas de governança têm mais chances de serem responsáveis, ágeis e de alcançar o sucesso.