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A pergunta que Lula deve fazer na Bélgica para ganhar vantagem no debate climático

Zerar as emissões de carbono é um desafio comum a todos. A responsabilidade por elas, no entanto, recai mais sobre alguns, do que sobre outros

Rodrigo Caetano
Rodrigo Caetano

Editor ESG

Publicado em 18 de julho de 2023 às 12h03.

Divergências na área ambiental são o principal entrave para a conclusão do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Nesta semana, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, viajou a Bruxelas, na Bélgica, numa tentativa de desatar o nó, amarrado em função dos índices preocupantes de desmatamento na Amazônia que se estabeleceram no governo anterior. A questão ambiental, no entanto, está relacionada a um novo padrão de comércio global, calcado nas emissões de carbono de cada país e nas metas de descarbonização estabelecidas no Acordo de Paris, em 2015.

Lula melhorou os dados de desmatamento, mas a situação ainda não está sob controle. Ao mesmo tempo, há sinais contraditórios vindos do governo, em especial no que se refere à exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, um projeto há tempos considerado inviável em função do risco ambiental, mas que retornou à pauta pelas mãos da Petrobras – o que já rendeu, inclusive, uma crise entre o presidente e Marina Silva, a ministra do Meio Ambiente.

Reduzir o debate à Amazônia deixa o Brasil em uma posição desconfortável. Para sair dela, o melhor a fazer é ampliar a pauta. E há um aspecto da transição para a economia de baixo carbono que europeus e americanos, em especial, preferem que seja tratado de forma quase evasiva: a responsabilidade pelas emissões. Com a velha tática de capitalizar os lucros e socializar os prejuízos, os países ricos assumem a responsabilidade pelo que fizeram no passado, mas ressaltam que as mudanças climáticas afetam o planeta por inteiro, portanto, é um problema comum.

Se isso fosse verdade, é bem possível que o problema já estivesse resolvido.

Quem emite mais paga menos, quem emite menos sofre as consequências

A COP27, realizada em Glasgow, Escócia, há dois anos, consagrou a expressão “justiça climática”. O conceito ganhou tração pelo esforço de jovens ativistas -- a “turminha da Greta”, como muitos veteranos da diplomacia chamavam qualquer agrupamento de pessoas abaixo dos 30 anos. A demanda é por privilegiar, nas políticas de transição econômica, quem mais sofre com as mudanças climáticas, notadamente a base da pirâmide social. Mais do que aceitável, é uma exigência inteligente, na medida em que resolve dois problemas: a crise climática e a desigualdade social. Esse conceito, no entanto, precisa ser ampliado.

Dois recentes relatórios mostram a urgência em levantar a bandeira da justiça, também, na questão das contribuições nacionais para o esforço de combate ao aquecimento global. Ainda que o planeta seja o mesmo para todos, e que, teoricamente, alcançar o objetivo final de conter o aumento da temperatura em 1,5°C até o final da década beneficie a humanidade em sua totalidade, é nítido que o preço a se pagar é consideravelmente mais penoso para uns, e relativamente fácil para outros.

O estudo Climate Inequality Report, publicado este ano, aponta para uma tripla desigualdade, como bem argumenta o historiador econômico Adam Tooze, da Universidade Columbia, em Nova York: a crise climática impacta mais quem menos contribuiu para ela e quem tem menos condições de contribuir para sua solução. Já os maiores responsáveis por ela e estão na melhor posição para solucioná-la, são aqueles menos ameaçados pelas consequências do aquecimento global. A ideia de um problema global, que exige esforços semelhantes de todos, cai por terra.

Quando se analisa o problema de uma perspectiva ainda mais micro, é possível visualizar uma quarta dimensão: quem mais contribui individualmente para a crise climática são as pessoas que mais se beneficiaram do desenvolvimento econômico. Globalmente, os 10% mais ricos da população respondem por quase metade das emissões; e o 1% no topo por 17%. Isso significa que 800 milhões de pessoas com mais recursos emitem o equivalente a cerca de 7 bilhões de pessoas que estão abaixo na pirâmide social. Mas é justamente aqueles que menos se beneficiaram do desenvolvimento econômico, e que emitem menos, que sofrerão as maiores consequências do aquecimento global.

O que Lula deve perguntar para ganhar uma vantagem no debate climático? Simples: é para falar sério mesmo, ou sério de brincadeira?

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