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ESG para alcançar a sustentabilidade no longo prazo

É possível aderir às normas ESG e manter uma significativa margem de crescimento econômico

 (Luis Alvarez/Getty Images)

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A emergência da pauta ESG nos últimos anos apresentou às empresas um novo paradigma de negócios. ESG significará uma mudança estrutural mais duradoura na forma como as empresas consideram as cadeias de fornecimento e a forma como fazem negócios.

Em certos casos, a implementação de processos e controles internos, sejam eles para melhoria ou remediação de algum incidente, é vista com mais credibilidade pelo mercado, se acompanhadas do trabalho de uma consultoria especializada e que possa trazer referências e melhores práticas para esta implementação. Além disso, as organizações se beneficiarão de ter um impacto mensurável em relação aos principais objetivos de negócios e visões de sucesso de longo prazo. Em vez de propor o ESG como uma solução apartada da estratégia, ele deve se tornar parte de um plano de negócios maior.

Especialmente durante a pandemia, em que o aprofundamento de desigualdades socioambientais reforçou a necessidade de bons indicadores no campo para a retomada do crescimento. Em adição, o aumento da atenção regulatória aos riscos ambientais e sociais e a mudança nas preferências dos consumidores por produtos sustentáveis enfatizaram a importância de cadeias de suprimentos sustentáveis, éticas e transparentes. Não por acaso, aliás, empresas com práticas ESG consolidadas foram as que melhor se destacaram no período.

Por outro lado, algumas companhias, principalmente as de pequeno e médio porte, ainda entendem a escolha entre um futuro mais sustentável e o crescimento dos negócios como polos de oposição. Isto é, gastos relacionados a ESG — que envolvem, entre diversas medidas, a adoção de energias renováveis e o aperfeiçoamento contínuo de programas de compliance e anticorrupção — são vistos como puro custo, em vez de investimento.

Isso culmina, por vezes, menos em uma genuína transformação de cultura organizacional do que uma preocupação de marketing — fenômeno batizado de greenwashing (em português, algo como “maquiagem verde”). De forma emblemática, foi o que levou, por exemplo, à submissão da Volkswagen no fim da década passada a uma monitoria imposta pelo Departamento de Justiça americano (DOJ) após um esquema de fraude nos testes de emissão de poluentes naquele país.

Desta forma, uma adoção desajeitada de práticas ESG pode criar um sério problema de reputação e credibilidade a uma empresa, mesmo que haja interesse na adesão.

Um aspecto essencial é a gestão das ações implementadas, a qual reside na construção de um padrão consistente e universalmente acordado para medir e relatar os indicadores de ESG em uma empresa. O ideal, afinal, é que investidores e partes interessadas tenham clareza e comparabilidade nas métricas, longe de qualificações abstratas.

Em outro plano, é importante que haja avaliações de riscos periódicas e implementação de testes sobre os processos e controles corporativos, até mesmo para que os administradores saibam como gerir e compreender como é feita a extração dos indicadores.

Vale destacar que as ações relacionadas à ESG devem estar sempre em alinhamento com os recursos e com a visão da própria empresa, uma vez que este tema não é uma ilha à parte, como à primeira vista pode parecer. Justamente pela natureza multidisciplinar (meio ambiente, sociedade e governança), ele representa um desafio a ser incorporado aos valores intrínsecos da companhia e, por conta disso, a exigência de uma visão técnica e elucidativa do assunto para que a mensagem seja clara. Em última instância, o aculturamento da empresa sobre seu impacto no manejo dos recursos naturais, nas dinâmicas sociais e na qualidade de vida da população.

Hoje, já ficou claro para uma boa parte das lideranças que o ESG se tornou item principal da agenda nas empresas. No Brasil, embora o tema ainda esteja engatinhando, algumas companhias já atendem a critérios internacionais de desempenho sustentável.

A Natura, grupo de cosméticos que atualmente também é proprietário da Body Shop e Avon, garantiu sua certificação de empresa B (isto é, uma empresa que tem como modelo de negócio atender a altos padrões de desempenho social e ambiental, a critérios de transparência e de responsabilidade legal em equilibrar lucro e propósito) e terminou o ano de 2021 com um lucro líquido de R$ 1 bilhão, conforme relatório anual de 2021 da companhia.

Isso mostra que é possível aderir às normas ESG e manter uma significativa margem de crescimento econômico. Ou seja, não se trata de técnicas de marketing, mas de um trabalho sólido, técnico e alinhado a metas de longa duração e aos valores da empresa.

Patrícia Latorre é sócia da StoneTurn, tem mais de 20 anos de experiência assessorando clientes em gestão de risco, compliance e monitoria

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