Economia

Usinas esperam diálogo com Dilma e política clara com etanol

Segundo a presidente da Unica, políticas mais claras para setor de combustíveis poderiam ajudar usinas de etanol a lidar com o elevado endividamento


	Cana de açúcar: indústria de cana espera um diálogo mais aberto no segundo mandato de Dilma Rousseff
 (Getty Images)

Cana de açúcar: indústria de cana espera um diálogo mais aberto no segundo mandato de Dilma Rousseff (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2014 às 12h40.

São Paulo - A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) espera que a presidente Dilma Rousseff mostre-se mais aberta ao diálogo, conforme prometeu em seu primeiro pronunciamento após ser reeleita no domingo, e apresente políticas mais claras para o setor de combustíveis que possam beneficiar os produtores de etanol, afirmou nesta segunda-feira a entidade.

"O diálogo sempre é melhor do que o não dialogo. Não podemos saber se o dialogo será positivo ou não, mas é importante que a presidente demonstre com clareza qual o papel ela espera da agroenergia na matriz de energia brasileira, se é um papel protagonista ou se é secundário", afirmou a presidente da Unica, Elizabeth Farina, em teleconferência com jornalistas.

Segundo a presidente da Unica, políticas mais claras para setor de combustíveis poderiam ajudar usinas de etanol a lidar com o elevado endividamento, em parte fruto do controle de preços de gasolina pelo governo nos últimos anos.

O preço controlado da gasolina, combustível concorrente do etanol hidratado no Brasil, limita repasses de custos das usinas ao preço do biocombustível, impactando as contas das indústrias.

As ações das companhias brasileiras de açúcar e etanol, como Cosan e São Martinho operavam em queda acentuada nesta segunda-feira.

Investidores avaliavam que uma mudança de governo poderia ter representado uma nova política para reajustes de preços da gasolina.

A própria Unica se aproximou de candidatos oposicionistas. Embora a entidade não tenha declarado apoio oficialmente a qualquer candidatura, o presidente do Conselho Deliberativo da associação, o ex-ministro Roberto Rodrigues, que atuou no governo Lula, declarou seu voto em Aécio Neves, segundo reportagens publicadas na mídia.

Questionada sobre o assunto, Elizabeth disse que é importante focar no futuro. "Olhando para frente, é fundamental que tenhamos diálogo no sentido de qual é a formação de preços que viabilize esse papel estratégico (do etanol)", disse ela, lembrando que a Unica foi um dos primeiros grupos industriais a organizar tal debate.

Além de políticas claras para os combustíveis, Elizabeth afirmou que o governo deveria reconhecer as "externalidades positivas do etanol", como o fato de ele ser um combustível menos poluente.

Isso poderia ser feito por meio do restabelecimento da Cide, tributo incidente sobre a gasolina, que poderia deixar o combustível fóssil mais caro, permitindo reajustes do etanol hidratado.

A presidente da Unica também avalia que o governo poderia colaborar com o setor ao elevar efetivamente a mistura de etanol anidro na gasolina, dos atuais 25 por cento para 27,5 por cento.

O governo já sancionou a lei que aumenta o teto da mistura, mas aguarda a conclusão de testes de viabilidade técnica.

"Ela (Dilma) colocou que interpreta o resultado das urnas e o próprio processo de campanha eleitoral... no sentido de mudança. Apesar de ela ter sido reeleita, ela colocou que quer ser uma presidente melhor e quer ser a candidata da mudança", disse a presidente da Unica, observando que o setor já mostrou que reage rapidamente a estímulos, com investimentos pesados no passado recente que resultaram também no elevado endividamento que hoje afeta o setor.

Entre 2004 e 2010, mais de 100 novas plantas industriais foram construídas no país, e o número de unidades produtoras em operação chegou a superar 400, segundo a Unica.

Investimentos represados

A propósito, a presidente da Unica avaliou que investimentos no setor de etanol só serão feitos considerando as "novas regras do jogo".

Questionada se a Unica aguarda também alguma ajuda para amenizar os problemas resultantes do elevado endividamento, a presidente da entidade afirmou que a simples sinalização sobre a política de preços já "aliviaria em parte as dificuldades financeiras que muitas usinas enfrentam, até pela desconfiança do setor".

Políticas claras sobre os combustíveis poderiam reduzir o risco sistêmico do setor, segundo ela.

Desde a crise financeira mundial em 2008, até 2013, mais de 70 usinas já fecharam as portas no Brasil, informou a Unica em relatório recente, que contabilizou ainda 66 unidades produtoras em recuperação judicial, considerando aquelas em operação e inativas.

Procurada pela Reuters, a Copersucar, maior comercializadora de açúcar e etanol que congrega muitas usinas associadas da Unica, afirmou que não comenta temas políticos.

A Unica representa o setor nesses temas, pontuou a assessoria de imprensa da Copersucar. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) também afirmou a Unica representa o setor para esses assuntos.

Questionada sobre outros temas pertinentes ao agronegócio relacionados à reeleição de Dilma, a Abag afirmou que a entidade vai aguardar alguns dias para se pronunciar. "Esse período é necessário para melhor entendimento sobre o quadro político que se configura e seus efeitos no agronegócio", disse a Abag por meio da assessoria de imprensa.

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