Economia

Temer terá seus 100 dias de lua de mel, diz Raul Velloso

Para especialista em contas públicas, escolha do ministro da Fazenda é o X da questão e o fiscal é a prioridade número 1


	Raul Velloso, especialista em contas públicas e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento
 (Ana Araujo/Veja)

Raul Velloso, especialista em contas públicas e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento (Ana Araujo/Veja)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 21 de abril de 2016 às 07h00.

São Paulo - "Sempre ouço falar que nos 100 primeiros dias os novos governos tem uma lua de mel com o público. Michel Temer vai ter direito aos 100 dias dele".

É o que acredita Raul Velloso, especialista em contas públicas e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento.

Com o prosseguimento do impeachment e as chances cada vez menores de que Dilma Rousseff termine seu mandato, todos os olhos se voltam para o vice.

O mercado financeiro está eufórico, mesmo sem muita clareza sobre quais seriam suas medidas econômicas (e sua possibilidade de sucesso).

Algumas pistas podem ser encontradas em um documento divulgado pelo PMDB em outubro do ano passado e nos possíveis nomes que tem surgido para sua equipe.

"É fundamental a escolha do ministro da Fazenda. Para mim esse é o X da questão", diz Velloso.

Ele aposta em Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula, também apontado pelo blog Primeiro Lugar. Veja a entrevista completa:

EXAME.com - Qual será o plano econômico de Temer? "A Ponte para o Futuro" é uma boa indicação?

Raul Velloso - Deve ter muita coisa em comum, porque não faria sentido divulgar aquilo se não fosse pra valer. Há uma percepção dele e de seus aliados que será necessária uma guinada, e esse texto é uma guinada.

Supondo que ele consiga atrair pessoas como o Henrique Meirelles e José Serra para o governo, eles vão exigir algo desse tipo. Ninguém vai entrar repetindo Nova Matriz Econômica.

EXAME.com - E está na direção correta?

Velloso - Acho que sim. Pode ter uma ou outra coisa a reparar, mas acho que está bem. 

EXAME.com - Mas dá para implementar? Porque fere o interesse de muita gente.

Velloso - Acho que não saiu mais coisa porque o Temer deve estar temendo uma precipitação no processo, uma vez que ele já andou se precipitando, né? Existe um texto escrito, o que o dispensa de já fazer o mesmo.  

Se eu o pudesse aconselhar, diria para fazer um escancaramento de tudo que vai ser herdado do governo anterior, e mostrar o que acha que dá para fazer - no curto prazo e mais adiante.

É normal que haja uma paciência maior do público com o timing e a intensidade das medidas, e a vida dele será dentro de uma expectativa muito forte, especialmente dos mercados financeiros e externos - que seguramente vão ficar eufóricos se ele souber escolher meia dúzia de ministros do agrado. 

É fundamental a escolha do ministro da Fazenda. Para mim esse é o X da questão e a partir daí, as coisas ficam bem mais claras.

EXAME.com - O documento também defende uma mudança em toda a estrutura do orçamento, com fim das vinculações e das indexações. É correto esse foco?

Velloso - O fiscal é a questão número 1. O que está no documento sinaliza áreas em que ele vai tentar atuar.

Não necessariamente acabar com as vinculações, mas certamente prorrogar a Desvinculação de Receitas da União (DRU) com um percentual melhor do que era, porque nem isso o governo Dilma conseguiu fazer. 

EXAME.com - São coisas grandes. O PMDB terá coragem de votar?

Velloso - Não se esqueça de que agora o PMDB está no centro do poder. É uma situação que nunca houve e é um teste para eles. E não esqueça que o clima deve estar muito favorável, porque será de alívio.

Vejo colegas que se dizem céticos com o governo Temer. Mas já? Dá a chance dele mostrar a cara - aí eu vou ver se sou cético ou não. 

Sempre ouço falar que nos 100 primeiros dias os novos governos tem uma lua de mel com o público. O Temer vai ter direito aos 100 dias dele.

Dizem que ele terá que criar novos impostos, mas em um governo de transição e que precisa se afirmar, não sei se é o caso. 

EXAME.com - Mas há como zerar o déficit primário em 2017 sem novos impostos?

Velloso - Não estou muito preocupado com isso. Muito mais importante é fazer o jogo da verdade, ao invés de esconder e fazer pedalada.

É a história do bode na sala: tem um que era a expectativa de déficit por 5 ou 6 anos com a relação dívida/PIB subindo para 80% ou mais. Agora, vai tirar o bode.

A gente vai aceitar déficit por mais um tempo sem aumentar impostos e uma divida que ainda vai crescer, mas vai poder contar com novas medidas e aumento da arrecadação pela retomada da economia.

É diferente da época do FMI, quando tinha que de repente mandar para o Congresso medidas porque havia a ameaça de não ter dólar nenhum. Essa situação não existe hoje.

Esse governo vai tentar chegar com uma credibilidade parecida que o Aécio teria se tivesse ganho. É por isso que o Temer muito espertamente foi atrás do Armínio [Fraga, para a Fazenda]. 

EXAME.com - Mas ele não aceitou. Algum nome está mais forte?

Velloso - Puro feeling: o Meirelles é um nome forte porque tem credibilidade e atende a vários requisitos para uma hora dessas.

EXAME.com - E pro Banco Central?

Velloso - Menos relevante. Pode vir o Ilan [Goldfajn, economista-chefe do Itaú] ou alguém parecido. Com certeza do mercado financeiro. 

Acompanhe tudo sobre:Ajuste fiscalArmínio FragaBanqueirosGávea Investimentosgrandes-investidoresImpeachmentImpostosLeãoMDB – Movimento Democrático BrasileiroMichel TemerMinistério da FazendaOrçamento federalPartidos políticosPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileiros

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor