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Sem crise global, é hora de consertar os países, afirma FMI

FMI alerta que regulação frouxa nos mercados desenvolvidos está causando o retorno de operações arriscadas como as que levaram à crise de 2008

Christine Lagarde, diretora do FMI, em encontro anual do órgão - 12/10/2017 (REUTERS/Yuri Gripas/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de outubro de 2017 às 09h35.

Washington - Superada a crise global, é hora de arrumar os países para aproveitar oportunidades, aumentar o potencial de crescimento, eliminar deficiências e criar amortecedores para os próximos trancos. Essa foi a mensagem central da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, ao apresentar sua agenda política, revista e atualizada a cada seis meses.

O recado, com detalhes especiais para países com diferentes graus de desenvolvimento, incluído o Brasil, tem sido de alguma forma repetida por dirigentes do Fundo desde o começo da semana.

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A recuperação continua, o produto mundial deve crescer 3,6% neste ano e 3,7% no próximo, pouco além das previsões anteriores, mas a reação é considerada incompleta.

Lagarde chamou a atenção para riscos de médio prazo, mencionando tensões financeiras, problemas geopolíticos crescentes e preocupações quanto à multiplicação de restrições comerciais.

A crise de 2008 começou no mercado financeiro e o perigo de novos problemas tem sido apontado por especialistas do Fundo.

Políticas monetárias frouxas, aplicadas no mundo rico para estimular a reativação dos negócios, têm propiciado o retorno a operações arriscadas.

"A busca de retorno pode ter ido longe demais", advertiu há poucos dias o diretor do Departamento de Finanças, Tobias Adrian.

Além disso, empresas de países do Grupo dos 20 (G-20) estão recorrendo a excessiva alavancagem (medida comumente pela relação entre a dívida e o capital próprio).

Em reuniões anteriores chamou-se a atenção para o aumento desse risco em grandes empresas brasileiras. Não se repetiu desta vez a advertência, pelo menos explicitamente.

Lagarde mencionou a incerteza quanto ao rumo da regulação financeira. As normas em vigor em dezenas de países são hoje muito mais estritas do que antes da crise global, mas também nessa área o trabalho permanece incompleto.

A diretora do FMI poderia completar esse comentário, se estivesse disposta a ser menos diplomática, apontando um risco maior. Reduzir a regulação bancária é uma das promessas do presidente americano Donald Trump. Dirigentes do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), têm defendido posição contrária, mas Trump pode indicar diretores mais afinados com seus critérios quando surgirem vagas.

A sugestão de aproveitar a calmaria para aumentar o potencial de crescimento vale para países de todos os grupos. Vale também para o Brasil, embora o cenário do País seja menos tranquilo, com uma pauta ainda complexa de arrumação das contas públicas. Em quase todo o mundo o potencial econômico tem diminuído. Em alguns casos, o enfraquecimento começou antes de 2008.

A pauta proposta pelo FMI envolve investimentos em infraestrutura, modernização tecnológica e aumento da capacitação da mão de obra. Esta última recomendação vale também para as economias mais avançadas, onde o aumento da desigualdade está vinculado, segundo várias pesquisas, ao descompasso entre a mudança da tecnologia e a adaptação dos trabalhadores às novas condições. A agenda inclui medidas tanto para aumento da produtividade quanto para garantir a inclusão. Nas palavras de Lagarde, para "assegurar a participação de todos nos ganhos do progresso tecnológico e da integração".

Parte do desemprego remanescente é associada à inovação tecnológica, de acordo com as mesmas pesquisas, mas o fechamento de postos tem sido usado como argumento a favor do protecionismo. Também nesse caso a política de Trump é parte das ameaças ao sistema internacional de comércio.

Entre os emergentes as prioridades podem variar, de acordo com a posição e as carências de cada um, mas os governos deveriam de modo geral buscar maior eficiência do gasto público, melhorar o ambiente de negócios e cuidar das deficiências de infraestrutura, segundo a agenda apresentada na quinta-feira, 12. Todos esses pontos têm sido mencionados quando se trata do Brasil nos estudos internacionais de competitividade.

O Fundo deverá, segundo Lagarde, estar preparado para ajudar os países membros a promover essas políticas, contribuindo com assistência para a formulação de políticas.

Esse tipo de assistência é em geral proporcionado a países bem menos desenvolvidos que o Brasil. Mas os indicadores de investimento, o estado das contas públicas, as dificuldades para levar um carregamento ao porto e a escassa oferta de mão de obra qualificada ou em condições de ser treinada mostram deficiências em todos aqueles pontos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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