Revisão da reforma da Previdência é “preocupante e decepcionante”
Para Luís Eduardo Afonso, professor da USP, mudanças desvirtuam "a grande lógica da reforma, que era igualar as regras para todo mundo"
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de abril de 2017 às 13h21.
Última atualização em 20 de abril de 2017 às 16h32.
São Paulo - Preocupante e decepcionante: é como o economista Luís Eduardo Afonso, professor da USP (Universidade de São Paulo), avalia a nova versão da reforma da Previdência .
O texto revisto foi apresentado ontem pelo relator, deputado Arthur Maia, para a comissão que analisa o tema na Câmara dos Deputados .
A nova versão mantém as regras atuais de contribuição para trabalhadores rurais, que na versão inicial seriam igualadas aos outros trabalhadores, e prevê regras diferentes para professores e policiais.
"O rural poderia ter uma contribuição um pouco maior. E os policias ficarem de fora depois de usarem mecanismos de força? É muito ruim", diz Afonso, em posição ecoada por outros economistas.
Ele se refere aos protestos da terça-feira, quando um grupo de manifestantes, em sua maioria policiais civis, invadiram e depredaram a Câmara dos Deputados.
"A grande lógica da reforma era igualar as regras para todo mundo. Se vai ser duro, que seja duro para todo mundo (ou quase). E de duas semanas para cá, criaram tantas exceções que a única coisa que foi mantida mesmo foi a idade de 65 anos para homens", diz Afonso.
Um dos temas que dividem economistas é a diferenciação de idade mínima entre homens e mulheres.
Por enquanto, a idade mínima será de 53 anos para mulheres e vai aumentando progressivamente (1 ano a cada 2 anos) até chegar aos 62 anos em 2036.
Para os homens, fica definido idade mínima de 55 anos no momento, com aumentos progressivos (também de 1 ano a cada 2 anos) até chegar aos 65 anos em 2038.
"3 anos em idade de aposentadoria faz muita diferença no longo prazo, porque cada ano é um a mais de benefício e um a menos de contribuição", diz Afonso.
O economista Paulo Tafner, técnico aposentado do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que estuda Previdência há décadas, nota que o mercado de trabalho será "totalmente diferente" daqui 20 anos.
Ele aponta que ao contrário do que ocorria no passado, as mulheres hoje já tendem a ter apenas um ou dois filhos, e que a desigualdade na divisão do trabalho doméstico tende a diminuir.
Para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, as mudanças chegaram “mais ou menos” ao limite, mas a resistência ainda é grande e a aprovação está longe de garantida.
São necessários 308 votos a favor para aprovação do projeto na Câmara, o equivalente a três quintos dos 513 deputados.
"O governo apresentou uma proposta para a sociedade e embora tenha muita responsabilidade, não podemos desfigurar sempre o texto com o argumento de que o Congresso não vai aprovar. O Congresso é igualmente responsável. Vamos sacrificando o longo prazo em função desses consensos de curto prazo que são péssimos", completa.