Economia

Por que a taxa de desemprego do Brasil teve o melhor resultado para o trimestre em 9 anos?

O resultado veio abaixo da expectativa do mercado financeiro, que esperava uma taxa de 8,2% e foi o melhor do segundo trimestre desde 2014

Carteira de trabalho digital. (Marcelo Camargo/Agencia Brasil/Agência Brasil)

Carteira de trabalho digital. (Marcelo Camargo/Agencia Brasil/Agência Brasil)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 28 de julho de 2023 às 13h55.

A taxa de desemprego no segundo trimestre de 2023 caiu para 8%, o melhor resultado para o período desde 2014. O dado representa uma redução de 0,8% em relação ao primeiro trimestre do ano e 1,3% na comparação com o mesmo período de 2022. A pesquisa veio abaixo da expectativa do mercado financeiro, que esperava uma taxa de 8,2%.

Entre os fatores que explicam a queda do desemprego no segundo trimestre, segundo o IBGE e economistas consultados pela EXAME, está a melhora da economia, a sazonalidade, o aumento de trabalhadores sem carteira assinada e a alta de vagas no setor público. Entenda cada ponto que influenciou o resultado e o que esperar dos próximos dados de emprego no Brasil.

Resultado econômico nos últimos meses

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, explica que a queda do desemprego no Brasil não é surpreendente, pois, nos meses referentes à PNAD divulgada hoje, o Brasil apresentou um nível de atividade econômica positivo. "O melhor ambiente econômico tem motivado as pessoas a voltar ao mercado de trabalho", afirma. 

Padrão sazonal

Segundo a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy, o resultado positivo também se explica pela recuperação de um padrão sazonal do indicador, que historicamente apresenta aumento no segundo trimestre do ano.

As férias de junho e os feriados favoreceram o setor de comércio, serviços e transportes, que por sua vez foram ao mercado de trabalho para reforçar suas equipes. Mateus Pizzani destaca o setor de transportes como o que mais abriu vagas no semestre.

Trabalhadores sem carteira assinada

Outro destaque que puxou a alta da ocupação no trimestre encerrado em junho foi o aumento de trabalhadores no setor privado sem carteira de trabalho assinada. O contingente chegou a 13,1 milhões de pessoas, alta de 2,4%  — ou 303 mil pessoas  — na comparação com o primeiro trimestre. A taxa de informalidade teve avanço de 0,2% no segundo trimestre frente ao período anterior, chegando a 39,2%. No segundo trimestre de 2022, a taxa foi de 40%.

O número de trabalhadores domésticos também teve um aumento no trimestre. Houve uma alta de 2,6% frente ao trimestre anterior, chegando a 5,8 milhões. “O tipo de vínculo que se destaca como responsável pelo crescimento da ocupação vem de um dos segmentos da informalidade, que é o emprego sem carteira assinada”, acrescenta Adriana.

Setor público

O crescimento de 3,8% no número de empregados no setor público também explica a diminuição do desemprego no país. Quando se compara com o mesmo trimestre de 2022 houve alta de 3,1%, um acréscimo de 365 mil pessoas. Vagas na área de seguridade social representaram quase 4,2% da geração de vagas no setor. No total, a força de trabalho no setor público brasileiro é de 12,2 milhões.

Desalentados

A alta de empregos informais e do setor público resultou na queda da taxa de pessoas desalentadas — que desistiram de procurar emprego porque não tem esperanças de que irão encontrar. A PNAD apresentou uma redução de 5,1,% — ou 199 mil pessoas —, e na comparação anual, queda de 13,9%, cerca de 593 mil pessoas. 

Já a população fora da força de trabalho ficou em 67,1 milhões, permanecendo estável em relação ao trimestre anterior e crescendo 3,6%, mais 2,3 milhões de pessoas, quando comparada ao mesmo trimestre de 2022.

Impacto do resultado na Selic

Quando observa o resultado na perspectiva macroeconômica, Pizzani afirma que a melhora do dado não deve ser confundida com uma possível fonte de pressão da inflação. Ele explica que a melhora na taxa de desemprego está relacionada a uma melhora na utilização do capital humano que já estava no mercado. "É algo que pode ser comprovado tanto pela queda da taxa de subutilização, quando na queda da população desalentada", afirma.

Ele reforça que o aumento do emprego não foi acompanhado com o aumento da renda média do trabalhador, o que não impactará a inflação no curto prazo. "Sobre a a perspectiva da política monetária é algo positivo e não deve causar desdobramentos negativos pra decisão do Copom na próxima semana", conclui Pizzani.

Como vai ficar a taxa de desemprego nos próximos meses?

Segundo o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, as surpresas positivas do mercado de trabalho têm sido um dos pilares de sustentação da demanda neste ano, mas a tendência é de menor atividade nos próximos meses. "A tendência é que haja uma perda de dinamismo nos próximos meses, refletindo a menor expansão da economia", explica.

Mateus Pizzani segue na mesma linha e espera um afrouxamento do mercado de trabalho nos próximos meses. O economista explica que efeitos defasados do aperto monetário promovido pelo Banco Central devem impactar de forma negativa a geração de emprego. "Esperamos uma desaeração do setor de comércio e serviços, que são os dois principais setores de geração de vagas de emprego no país", explica. Ele afirma que a taxa deve ficar em 8,6% no final de 2023.

Já Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria, afirma que no curto prazo o Brasil ainda deve apresentar um crescimento na população ocupada, com destaque para o setor de serviços. Porém, ele afirma que a política monetária restritiva e a desaceleração global irão pesar contra o emprego no Brasil "A taxa de desocupação deve exibir um ligeiro crescimento na margem sem efeitos sazonais, apesar de se manter em patamar historicamente reduzido", afirma.

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