Economia

Solução para pobreza: dar o peixe e ensinar a pescar

Experimento com 10 mil pessoas em 6 países conclui que apoio direto somado com ativos produtivos é a melhor forma de superar a armadilha da pobreza


	Pescadores colombianos carregam peixes para o porto da ilha de San Andres
 (REUTERS)

Pescadores colombianos carregam peixes para o porto da ilha de San Andres (REUTERS)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 24 de maio de 2015 às 07h08.

São Paulo - O debate sobre o combate à pobreza às vezes cai na oposição entre "dar o peixe" ou "ensinar a pescar". Na verdade, o que costuma funcionar é uma combinação das duas coisas.

É essa a conclusão de um estudo conduzido por um grupo internacional de 9 economistas que incluiu Abhijit Banerjee, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Dean Karlan, da Universidade de Yale, e Jeremy Shapiro, da Universidade de Princeton.

O projeto "Graduation" envolveu cerca de 10.495 participantes identificados como "os mais pobres dos pobres"; metade vivia com menos de US$ 1,25 por dia.

6 países participaram (Etiópia, Gana, Honduras, Índia, Paquistão e Peru) e em cada um havia um grupo de controle e outro que sofria uma intervenção por 2 anos.

Primeiro, os participantes podiam escolher um "ativo produtivo" - como gado, galinhas ou ovelhas - e participavam de treinamentos para lidar com ele.

As famílias também recebiam um apoio financeiro ou alimentar por um período de 4 a 13 meses, assim como visitas regulares e orientação sobre saúde e habilidades básicas. Todos ganhavam acesso a uma conta de poupança, e alguns eram obrigados a fazer depósitos.

"A ideia é dar um "grande empurrão", por um período limitado de tempo, com a esperança de destravar a armadilha da pobreza", diz o estudo.

Em outras palavras: dar o peixe, a vara e o tempo para que a pessoa aprenda a pescar sem morrer de fome no caminho. 

O resultado: um ano após o fim da intervenção e 36 meses após a transferência do ativo, 8 dos 10 índices monitorados - como ativos familiares e segurança alimentar - continuavam apresentando ganhos consideráveis. 

Renda e receita eram significativamente maiores do que no grupo de controle e o consumo era maior em todas as famílias afetadas, com exceção daquelas em Honduras. E mais: o retorno sobre o investimento foi positivo, já que o dinheiro injetado na economia local superou o gasto inicial.

Agora, resta saber até que ponto os resultados se sustentam ao longo do tempo e qual é a possibilidade de fazer o programa em grande escala. O "Graduation" será expandido na Índia e no Paquistão e será incorporado à rede de proteção social nacional na Etiópia.

Essa não é a primeira vez que iniciativas tentam ampliar projetos piloto para erradicação da pobreza. O mais famoso deles, as "Vilas do Milênio" do economista Jeffrey Sachs, encontraram dificuldades inesperadas e tem sua boa parcela de críticos. 

Combate à pobreza

A transferência de renda pura e simples ganhou espaço nos últimos tempos com a experiência de países como o Brasil e o México e o trabalho de ONGs como a Give Directly. 

"A evidência mostra que a transferência direta causa o oposto da dependência. As pessoas não só continuam a ter um nível maior de renda, mas também parecem estar trabalhando mais e não menos do que estariam sem elas", disse o fundador Michael Faye em entrevista para EXAME.com.

Outro temor, de que os mais pobres usam dinheiro de assistência com álcool e cigarros, foi descartado por um estudo recente do Banco Mundial.

No Brasil, a queda da pobreza de 24,7% da população em 2001 para 8,9% em 2013 foi, de acordo com o Banco Mundial, resultado de 3 forças: crescimento econômico, mercado de trabalho positivo e políticas sociais.

Para continuar melhorando esse índice a partir de agora, o país terá que focar em justiça na política fiscal e no sistema tributário, melhora de serviços básicos e aumento de produtividade, diz o BM.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaAmérica LatinaÁsiaEtiópiaGanaHondurasÍndiaPaquistãoPeruPobreza

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor