Economia

Dantas aponta interferência política em setor de telecomunicações

Depoimento de banqueiro às CPIs dos Correios e do Mensalão divide tucanos, que desejam restringir investigação ao governo Lula, e petistas, que querem estendê-la ao governo passado

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h28.

O depoimento do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, foi menos explosivo do que prometia. Um sinal foi a reação do mercado, que teve um dia tranqüilo. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta de 2,59%, marcando 30 873 pontos e batendo seu recorde; o dólar comercial recuou 1,09%, cotado a 2,275 reais; e o risco-país baixou também 1,09%, para 362 pontos. Dantas afirmou que sofreu pressões políticas para realizar certas operações no setor de telecomunicações desde o governo Fernando Henrique Cardoso. O banqueiro também negou que os pagamentos realizados às agências SMPB e DNA, de Marcos Valério Fernandes de Souza, sejam dirigidos para financiamentos de campanhas do Partido dos Trabalhadores.

"Dantas não jogou mais lenha na fogueira das CPIs", diz Ricardo Ribeiro, analista político da consultoria MCM. Segundo Ribeiro, o banqueiro conseguiu se apresentar como um gestor de fundos que defende apenas o interesse dos seus investidores, esperando gerar o máximo de resultados em suas operações.

Foi justamente ao se declarar apenas um gestor preocupado com o interesse de seus investidores, que Dantas admitiu que sofreu pressões políticas, durante o governo passado, para efetuar negociações que poderiam comprometer o rendimento de sua carteira. Dantas informou que a Brasil Telecom (BrT), operadora de telefonia controlada pelo Opportunity, foi forçada a adquirir a gaúcha Companhia Rio-grandense de Telecomunicações (CRT) por um valor acima do que seria recomendável.

Dantas afirmou que, inicialmente, a Telefônica, que então controlava a CRT, havia pedido 730 milhões de reais pela empresa. A BrT teria proposto uma redução de 100 milhões, argumentando que o valor era alto demais. Durante as conversas, porém, a Telecom Itália um dos sócios da BrT e a Telefônica acertaram a compra da CRT, no exterior, por 850 milhões. Dantas teria se negado a selar o acordo e passou a sofrer pressões da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), do Ministério das Comunicações e dos fundos de pensão.

Após duas intervenções da Anatel na CRT, a venda da companhia gaúcha teria sido imposta pelo governo à BrT. "A compra da CRT foi fechada numa sexta-feira à noite, na sede da Anatel", afirmou Dantas, no depoimento. "Acabamos comprando a empresa por 800 milhões de reais, quando o preço justo seria de 550 a 600 milhões", disse. Segundo Dantas, as pressões foram comunicadas, à época, aos então ministros Alcides Tápias (Desenvolvimento), Pimenta da Veiga (Comunicações) e ao próprio presidente Fernando Henrique Cardoso. Da parte dos fundos, a Previ, então presidida por Luiz Tarquínio, foi o fundo que mais insistiu que o Opportunity fechasse o negócio. "Não foram poucas as vezes em que os fundos agiram com pouca racionalidade econômica", disse.

Marcos Valério

Dantas afirmou, ainda, que conheceu apenas superficialmente o publicitário Marcos Valério, apontado como um dos operadores do caixa dois do PT. O banqueiro afirmou que os depósitos da Telemig Celular e da Amazônia Celular, entre 2000 e 2005, nas contas das agências SMPB e DNA referem-se apenas ao pagamento de serviços de publicidade. "Não há nenhum centavo que não tenha sido aplicado em propaganda", disse. Segundo membros das CPIs, há suspeitas de que os 138 milhões de reais depositados nesse período tenham sido usados para financiamento irregular de campanhas eleitorais.

Em meados de julho, a polícia mineira apreendeu cerca de 2 000 notas fiscais da DNA que seriam queimadas pelo policial aposentado Marco Túlio Prata. Entre os papéis, havia diversas notas da Telemig e da Amazônia Celular. Segundo Dantas, trata-se de notas que foram devolvidas pelas suas empresas à DNA, por não concordarem com o valor emitido. Portanto, essas notas não corresponderiam a serviços pagos.

Disputas

Ao contrário do que se esperava, Dantas também foi cauteloso ao se referir à disputa entre os grupos dos ex-ministros petistas Luiz Gushiken (Comunicação Estratégia) e José Dirceu (Casa Civil). O banqueiro afirmou que nunca se reuniu com Gushiken para tratar de assuntos referentes a fundos de pensão, mas admitiu ter ouvido informações de que o ex-ministro atuava em favor dos fundos.

Quanto a Dirceu, o ex-ministro teria orientado Dantas a procurar o ex-presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, que o teria pressionado a abrir mão dos direitos sobre a BrT para vender sua participação aos fundos de pensão. Casseb lhe disse que esta era a posição oficial do governo. Em um segundo encontro, Dirceu teria dito a Dantas que concordava que o governo deveria permanecer fora do assunto. "Dantas não acusou diretamente Gushiken. Foi bastante cuidadoso em relação aos ex-ministros", afirma Ribeiro, da MCM.

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