Economia

Mercado espera corte abrupto dos juros

Alguns especialistas acreditam em corte de 1 a 2 pontos percentuais

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h46.

Há quem acredite que que o Copom possa cortar nesta quarta-feira (23/7) a taxa básica de juros em até 2 pontos percentuais. "No mercado de juros futuros, prevê-se uma queda de 1,5 ponto percentual na reunião do Copom de julho e de 1 ponto percentual nas demais reuniões até dezembro", afirma a consultoria Global Invest. Ao analisar a queda dos preços e a demanda enfraquecida, a consultoria acredita em um corte até mais abrupto dos juros. "O cenário econômico é altamente propício a uma queda da taxa de juros de pelo menos 2 pontos percentuais", afirma o relatório especial sobre o Copom.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), sugeriu que a redução da taxa básica de juros fosse em 2 pontos percentuais. "Se não for no mínimo dois pontos, vamos ficar frustrados", disse. "É preciso ousar nessa reunião do Copom para que se produza uma redução significativa nas taxas de juros", afirmou.

O economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega também acredita que a taxa de juros será reduzida em dois pontos percentuais, passando de 26% ao ano para 24% ao ano. O sócio da Consultoria Tendências disse, em entrevista à Revista Brasil da Radiobrás, que os principais fatores que devem levar à redução dos juros são o controle da inflação, a valorização do real frente a outras moedas, além da melhoria das expectativas do mercado em relação à economia brasileira.

Mas a grande maioria das apostas do mercado financeiro, porém, sinaliza um possível corte entre 1 e 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, emdossada por vários indicadores: a deflação registrada pelos índices de custo de vida, a queda na atividade econômica reforçada por diferentes indicadores e a queda na curva de juros no mercado futuro, bem como a convergência para as metas de inflação definidas pelo Coselho Monetário Nacional (CMN). Ainda não é consenso se o governo mexerá no compulsório já nesta reunião.

"Há espaço para reduzir os juros entre 100 pontos base e 150 pontos base, com a Selic alcançando entre 24,5% ao ano e 25% ao ano e 21% ao ano no final de 2003", afirma o CSFB. "Além disso, não se pode descartar a possibilidade de o Banco Central optar por associar a queda dos juros à redução das alíquotas de compulsório para depósitos a vista, depósitos a prazo e cadernetas de poupança. Seria positivo o início de um ciclo de convergência das alíquotas do compulsório para patamares mais reduzidos, similares aos praticados em 2001", afirmam os analistas do banco.

Para o departamento de análises do Bradesco, chefiado pelo economista Octavio de Barros, as recentes pesquisas que apontam para um crescimento da confiança do consumidor, mas com ressalvas no consumo são fatores fundamentais que sinalizam um corte dos juros. "O fato de que o consumidor, mesmo otimista, deve se mostrar conservador e moderado em suas decisões de consumo não deverá passar desapercebido pelo Copom. Trata-se de uma informação que dá segurança adicional à decisão de redução da taxa de juros à medida que se tem menor incerteza de que o afrouxamento monetário não levaria a um movimento insustentável de demanda por crédito", afirma o relatório do banco.

Na avaliação dos analistas, ser ou não ser agressivo no corte dos juros é o principal dilema do Comitê de Política Monetária (Copom) em sua próxima reunião, que começa nesta terça-feira (22/7) e define ao que tudo indica nova queda na Selic, a taxa básica de juros. A dúvida a ser avaliada no encontro dessa semana é a velocidade da queda na taxa básica e para alguns a velocidade da retomada do crescimento econômico.

"O volume de crédito caiu, o nível de atividade está fraco quer seja medido pela produção, pela renda ou pelo emprego-, o real mantém a valorização e a inflação, a queda", diz Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB. "Não dá para acreditar que o Copom vai perder a oportunidade de fazer um corte mais efetivo." Abate comunga da opinião da maioria dos analistas de que o corte deve ficar em no mínimo 1,5 ponto percentual, apesar de não se surpreender se a queda chegar a 2 pontos por conta da conjuntura econômica. Na reunião de junho, o Copom iniciou a trajetória de baixa da Selic com uma queda de meio ponto percentual. Para Abate, a taxa fecha o ano na casa dos 20%.

"Ninguém mais discute se haverá ou não um corte, mas a dimensão da queda", diz Rodrigo Marques, gestor da Corretora Fator Doria Atherino. Marques descarta uma posição mais agressiva por parte dos gestores da política macroeconômica. Na sua avaliação, o próprio mercado veria com desconfiança e questionaria uma queda brusca. "O Copom já demonstrou não gostar de efeitos especiais e o varejo ainda mostra vontade de reajustar preços: não acredito que o corte passe de um ponto percentual."

O corte de 1,5 ponto percentual, no entanto, parece coerente para a maioria dos analistas. Newton Rosa, economista chefe da Sul América Investimentos, espera um corte dessa dimensão, como um bom começo para reverter o baixo desempenho da economia: "O último relatório Focus do BC mostra que as expectativas do mercado começam a convergir para as metas, reforçando o acerto da política monetária", diz Rosa. "Inflação em queda sistemática e economia flertando com a recessão abrem espaço para uma redução maior da taxa Selic". Em seu relatório, o BBV chamou de "ousadia responsável" cortes acima de 1,5 ponto percentual e também acredita que a queda não ultrapasse esse patamar. O departamento de pesquisas do Unibanco também aponta para o fato de que o mercado está "precificando" uma queda de 1,5 ponto percentual.

A Associação Nacional de Instituições do Mercado Financeiro (Andima), em sua comissão de 20 economistas de instituições financeiras, acredita que as taxas de juros básicos vão atingir a média no ano de 24,4% e chegará, em dezembro, no patamar de 20,6%. Já para 2004, prevêem taxa média de 17,8%, chegando a dezembro com 16,1%.

Os economistas da Andima também concordam que os juros estão perdendo espaço para o reduzido nível de atividade no período. Tudo indica que o risco de desaquecimento da produção foi minimizado pelo governo em sua estratégia inicial de estabilização, analisaram. A comissão da Andima acredita que a mudança de pauta significa que a discussão sobre conjuntura vai incluir uma variável com forte viés político, que deve ser contemplada pelos agentes no futuro.

A expectativa de queda mais acentuada da Selic, taxa básica de juro, foi apurada pela pesquisa de Projeções Econômicas da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). O levantamento de julho, junto a 59 instituições financeiras, mostra que a projeção média para a taxa Selic em dezembro de 2003 agora está em 20,30% - bem abaixo das perspectivas apuradas em junho, que era de 21,24%. A mediana das projeções da taxa para dezembro agora está em 20,10%. É o quarto mês consecutivo em que a taxa de juros para dezembro cai, mas nunca de forma tão expressiva , diz Roberto Luis Troster, economista-chefe da Febraban, ao comparar as pesquisas da entidade.

Em seu relatório sobre os resultados, Troster considerou as recentes projeções de juros "otimistas". Na avaliação do economista, "há consenso de que os juros vão cair, a questão é com que velocidade". Na pesquisa de maio, nenhum banco projetou a taxa Selic inferior a 20% para dezembro de 2003. No mês passado, no entanto, quatro bancos projetaram juros abaixo de 20% para dezembro de 2003. Na pesquisa de julho, o número de instituições que projetam uma taxa inferior a 20% passou para 13.

A pesquisa Febraban de julho também mostra, pelo quarto mês, queda nas projeções de inflação. A taxa do Índice de Preços ao Consumidor Ampo (IPCA), usado para balizador a política monetária, caiu de 12,03% em junho para 10,93% em julho. A projeção para os próximos 12 meses é de um IPCA de 7,36%; e o IPCA para 2004 ficou em 6,69%.

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