Jesus do Bitcoin convoca ricos para seu paraíso tropical
Roger Ver é um ex-cidadão dos EUA, ex-condenado e investidor milionário que se descreve como libertário e fundador do passportsforbitcoin.com
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2014 às 18h18.
Tóquio - Ele é conhecido como Jesus do Bitcoin no mundo das moedas cibernéticas. Embora não prometa o paraíso , ele está oferecendo um refúgio: um condomínio no Caribe que vem com um novo passaporte e quase nenhum imposto.
Conheça Roger Ver, ex-cidadão dos EUA, ex-condenado e investidor milionário que se descreve como libertário e que fundou passportsforbitcoin.com.
O universo em constante expansão do que se pode comprar com bitcoins inclui uma estadia num hotel em Roma, um quimono em Tóquio e TV a cabo nos EUA. Ver, um investidor pioneiro em startups de bitcoins, agora diz que ele pode colocar cidadania nessa lista.
Especificamente, o direito de morar na Federação de São Cristóvão e Névis, duas ilhas ensolaradas a três horas de voo de Miami. São Cristóvão tem um programa “invista e se torne um cidadão” desde 1984, o mais antigo do tipo, de acordo com o site do país.
Desembolse US$ 400.000 para a compra de imóveis e obtenha um passaporte que lhe permite viajar sem visto a 120 países. Não há impostos sobre renda pessoal ou ganhos de capital e as restritas leis de divulgação das ilhas oferecem proteção contra um controle externo, de acordo com a Rede de Justiça Tributária, um think tank que investiga jurisdições secretas.
O website de Ver, em inglês, russo e chinês, oferece um modo de comprar um pedaço desse paraíso com bitcoins. Ele disse que isso ajudará as pessoas que estão cercadas por restrições governamentais em relação às transações financeiras.
“No próximo mês irei à China para explicar às pessoas que bitcoin é o modo mais fácil de pagar por alguma coisa fora do país”, disse Ver durante uma reunião neste mês, na luxuosa sala de visitas do 51º andar do Roppongi Hills de Tóquio.
O bitcoin foi inventado em 2008 como uma moeda que poderia ser usada sem supervisão governamental. Isso atraiu pessoas que desejavam comercializar bens ilegais, como drogas e armas.
A moeda também conquistou o apoio de libertários como Peter Thiel, o bilionário que ajudou a fundar o PayPal e que planeja construir uma ilha artificial onde as pessoas poderão fazer o que quiserem.
O site de passaportes de Ver, seu mais recente empreendimento, é uma versão em miniatura desse ideal.
Evasão de impostos
“São Cristóvão é muito mais libertário do que os EUA”, disse Ver. “Não chega nem perto. Então, todos os que adotaram os bitcoins desde o início, se tiverem os meios, é claro, vão preferir ser cidadãos de São Cristóvão”.
Independentemente de como paguem, as pessoas costumam buscar países como São Cristóvão para evadir os impostos, disse John Christensen, diretor da Rede de Justiça Tributária.
O Departamento do Tesouro dos EUA disse no mês passado que os passaportes da ilha estão sendo usados para facilitar o crime financeiro.
Uma mulher que atendeu o telefone no gabinete do Primeiro-Ministro de São Cristóvão disse que o programa “não é uma questão de comprar passaportes, mas de conquistar a cidadania”.
No entanto, não é necessária a residência ou uma visita ao país, apenas um investimento de US$ 400.000 – que pode ser revendido depois de cinco anos – ou uma doação não reembolsável de US$ 250.000 ao país, de acordo com o site oficial de São Cristóvão.
Evangelista do bitcoin
Ver disse que ganhou o apelido de Jesus do Bitcoin porque falava do bitcoin a quem quisesse ouvir, muito antes de que outras empresas de capital de risco prestassem atenção à moeda digital.
Uma das pessoas que recebeu uma dose dos sermões de Ver foi o agente que processou seu pedido de cidadania, Paul Bilzerian. Ele é um ex-especulador corporativo que se mudou para São Cristóvão após longas batalhas com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA e duas passagens pela prisão por fraude com valores mobiliários e conspiração para fraudar o governo em milhões.
Os dois se uniram pela crença comum de que se tornaram alvos das autoridades dos EUA, de acordo com Ver. Juntos, começaram o site passportsforbitcoin.com em abril, disse Ver.
O site diz que um segundo passaporte isola a pessoa dos governos que se intrometem nas vidas dos cidadãos.
O site também tem depoimentos de Ver e do filho de Bilzerian, Dan, um jogador de pôquer profissional de trinta e poucos anos que possui milhões de seguidores no Instagram, onde publica fotos dele com mulheres seminuas e com sua coleção de armas.
Ele não respondeu a perguntas enviadas por e-mail encaminhadas através de seu assessor de imprensa.
“Eu valorizo mais a liberdade do que praticamente qualquer outra coisa e um segundo ou terceiro passaporte me dá segurança caso o governo dos EUA decida valorizar a segurança em detrimento da liberdade”, escreveu o filho de Bilzerian no site de passaportes.