Inflação cai 0,36% em agosto no IPCA e acumulado vai a 8,73%
Brasil teve nova deflação em agosto e IPCA voltou a um dígito no acumulado em 12 meses, indo a 8,73%
Carolina Riveira
Publicado em 9 de setembro de 2022 às 09h04.
Última atualização em 9 de setembro de 2022 às 13h34.
A inflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA ), principal índice inflacionário brasileiro, fechou o mês de agosto com queda de 0,36%. O resultado foi divulgado nesta sexta-feira, 9, pelo IBGE.
No acumulado de 12 meses, a inflação ficou em 8,73%, fazendo o Brasil voltar a um dígito de inflação, o que não ocorria desde setembro de 2021.
Nos oito meses deste ano ano até agosto, a alta acumulada é de 4,39%.
O resultado de agosto representa novamente uma deflação, quando há variação negativa no índice. Em julho, a inflação havia variado negativamente em 0,68% (veja no gráfico abaixo).
Usualmente, uma deflação acontece quando a economia está desacelerada. Mas, no caso do Brasil, as quedas têm sido puxadas sobretudo pelas desonerações de insumos como combustíveis e energia elétrica, aprovadas em junho no Congresso, além de preços menores do petróleo no mercado internacional.
Em agosto, o maior impacto negativo sobre o IPCA veio novamente dos combustíveis, que tiveram queda de 10,82% no mês .
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Apesar das quedas, o gerente de pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov, aponta que houve uma deflação menos intensa em agosto do que em julho.
“Alguns fatores explicam a queda menor em relação a julho. Um deles é a retração menos intensa da energia elétrica (-1,27%), que havia sido de 5,78% no mês anterior, em consequência da redução das alíquotas de ICMS", disse em nota.
"Também houve aceleração de alguns grupos, como saúde e cuidados pessoais (1,31%) e vestuário (1,69%), e a queda menos forte do grupo de transportes em agosto. No mês anterior, os preços da gasolina, que é o item de maior peso no grupo, tinham caído 15,48% e, em agosto, a retração foi menor (-11,64%)."
Impacto na Selic
O resultado do IPCA veio em linha com o consenso do mercado, que esperava deflação mensal de 0,4% e acumulado em 8,72%.
O número deve impactar as apostas para a taxa de juros, a Selic. A possibilidade de uma nova alta da Selic voltou a ganhar força nesta semana a partir de declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A Selic está hoje em 13,75%, e o mercado passou a debater a hipótese de uma ida a 14% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em setembro.
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O IPCA em 8,73% no acumulado de 12 meses é o menor desde junho do ano passado, quando a inflação era de 8,35% (veja abaixo).
Mas, passados os efeitos da desoneração, a expectativa é que a inflação volte a ficar pressionada em 2023, o que pode motivar adiamento do fim do ciclo de altas do BC.
As projeções para o IPCA em 2023 têm subido se comparada aos últimos meses, apesar da inflação menor prevista para 2022 e da alta de juros.
No boletim Focus desta semana, que reúne projeções dos principais bancos e casas de análise compilados pelo Banco Central, a mediana da projeção para o IPCA em 2023 ficou em 5,27%. Para 2022, a estimativa é de IPCA em 6,61% no acumulado até o fim do ano.
Gasolina segue em queda, alimentos dão trégua
Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE, dois tiveram queda no mês de julho e os demais subiram. As principais altas vieram do grupo "Vestuário" (1,69%) e de "Saúde e cuidados pessoais" (1,31%).
A maior queda foi novamente no grupo "Transportes" (-3,37% em junho, após outra queda de -4,51% em julho), que inclui os combustíveis.
- A gasolina caiu 11,64%;
- O etanol caiu 8,67%;
- O óleo diesel caiu 3,76%;
- O gás veicular caiu 2,12%.
A queda da gasolina, individualmente, exerceu o impacto negativo mais intenso (-0,67 p.p.) entre os subitens do IPCA, segundo o IBGE. O diesel, que vinha na contramão e teve altas enquanto outros combustíveis caíam, também começou a desacelerar após dois cortes no preço promovidos pela Petrobras, diante de um cenário internacional mais favorável ao preço. Na mesma linha, a gasolina teve quatro reduções de preço na Petrobras desde julho.
- As passagens aéreas também ficaram mais baratas (-12,07%) no IPCA, após quatro meses de alta, com o fim das férias e queda nos combustíveis de aviação ( veja aqui ).
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Outra queda nos grupos pesquisados pelo IBGE veio de "Comunicação" (-1,10%), com redução nos preços dos planos de telefonia fixa (-6,71%) e de telefonia móvel (-2,67%).
O grupo "Habitação" (alta de 0,10%) interrompeu a queda nos preços vista em julho. Na média nacional, houve redução menos intensa nos preços da energia elétrica (que caíram 1,27% em agosto, após queda muito maior em julho, de 5,78%, com o início das desonerações). Uma série de capitais medidas pelo IBGE promoveu reajustes na tarifa de energia.
Um destaque foi o grupo "Alimentação e bebidas" (0,24%), um dos principais fatores de alta nos últimos meses e que desacelerou em agosto, após ter subido 1,30% em julho.
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A alimentação em domicílio, que tem impacto alto na cesta do IPCA, ficou estável em 0,01%. A alimentação fora do domicílio continuou subindo, com alta de 0,89% (alta próximo à de julho, quando já havia subido 0,82%).
O leite longa vida - após ser o vilão dos últimos meses, com alta de mais de 25% em julho - caiu 1,78% em agosto. A tendência é que o fim do inverno traga temporada mais favorável ao leite.
“Nos últimos meses, os preços do leite subiram muito. Como estamos chegando ao fim do período de entressafra, que deve seguir até setembro ou outubro, isso pode melhorar a situação. Mas no mês anterior, a alta do leite foi de 25,46%, ou seja, os preços caíram em agosto, mas ainda seguem altos”, afirmou Kislanov, do IBGE.
- Entre as altas de alimentos, o frango em pedaços subiu 2,87%;
- O queijo subiu 2,58%;
- As frutas subiram 1,35%.
Itens que haviam subido amplamente no primeiro semestre, como tomate e batata, continuaram em queda, com normalização do preço:
- O tomate caiu 11,25%;
- A batata-inglesa caiu 10,07%;
- O óleo de soja caiu 5,56%.