Guedes irrita parlamentares com uma "aula de história"
Guedes afirmou que a equipe econômica tem o controle da situação e vai acelerar as reformas para evitar efeitos do coronavírus
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de março de 2020 às 07h52.
Última atualização em 13 de março de 2020 às 07h53.
São Paulo — O ministro da Economia, Paulo Guedes , desagradou membros do Congresso ao participar de uma reunião de emergência sobre os efeitos do avanço do novo coronavírus. Deputados e senadores disseram que ele quis dar aula de história, "enquadrar" o Legislativo e eximir o Executivo de responsabilidade, quando se esperava que apresentasse medidas concretas de curto prazo como resposta à crise global.
O encontro foi fechado, na noite de quarta-feira, mas o Estadão/Broadcast teve acesso a um áudio do encontro que reuniu a cúpula do Congresso e também o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Guedes afirmou que a equipe econômica tem o controle da situação e vai acelerar as reformas, mas que a solução para blindar o País dos efeitos da turbulência global depende dos políticos: "A solução é política, e ela é dos senhores. A coisa técnica, o mapa técnico, nós temos, sabemos como ligar as torneiras, sabemos como despejar o dinheiro, realocar o dinheiro, vamos acelerar as reformas. Agora, tem uma coisa que é inescapável, a solução é política."
Guedes se queixou e disse que o governo terá que "contornar" situações criadas pela classe política, como a aprovação do aumento de despesas não planejadas.
Horas antes, o Congresso manteve a ampliação do acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, e gerou um gasto de R$ 20 bilhões ao ano aos cofres públicos. Parlamentares justificaram o voto dizendo que existe uma camada da população que precisa do benefício para evitar uma crise social e a política liberal do governo não atende essas pessoas.
"O Congresso reage (ao governo) e aprova mais despesas, que não são as que queremos atingir, derrubamos o teto (de gastos), vamos para LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), o governo trava os recursos, onde vamos parar? Queremos processo de confronto agora? Disputa política hoje? Ou hoje temos que estar juntos para dar uma solução para a população brasileira?", questionou Guedes, diante dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Aula
Alguns congressistas se retiraram da sala para demonstrar o descontentamento e começou um burburinho. Coube ao presidente do Senado tentar acalmar os ânimos. "Não é possível isso, é inacreditável. Estamos falando de um caso grave, um caso concreto no nosso País, onde todos nós temos que ter a responsabilidade do tamanho das nossas obrigações. Vamos aguardar e ouvir o ministro da Economia, o ministro da Saúde, as autoridades do governo e vamos fazer a nossa parte no Congresso, por favor. Depois a gente discute no plenário", disse Alcolumbre. Um parlamentar reagiu: "Estamos calmos, presidente. O Congresso sempre fez a sua parte".
Um senador que acompanhou a reunião disse que o ministro da Economia quis dar uma "aula de história" a deputados e senadores.
"A China saiu da miséria, o Sudeste da Ásia escapou da miséria, o Leste Europeu escapando da miséria. Todos se integrando às cadeias globais de valor. Criação imensa de riqueza, 3,7 bilhões de seres humanos saíram da miséria graças a essa onda de globalização que interpenetrou as economias e criou bilhões de empregos... Enquanto isso, o Ocidente sofreu. O Ocidente não conseguiu reagir na velocidade necessária, então os sistemas políticos entraram em tensão", palestrou Guedes.