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Dólar em queda pode ser veneno para empresas da bolsa

Especialistas alertam que não são apenas as exportadoras que perdem com a brusca desvalorização da moeda americana

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de agosto de 2009 às 13h34.

O setor exportador não deve ser o único prejudicado pela rápida desvalorização do dólar. Especialistas alertam que uma queda prolongada nas cotações da moeda americana poderá ser nociva também para as empresas voltadas ao mercado interno, inclusive aquelas que têm ações na bolsa.

Em 2009, poucas moedas no mundo se fortaleceram tanto frente ao dólar quanto o real. A moeda americana caiu mais de 20% no período, saindo da casa de 2,30 reais em dezembro para a atual faixa de 1,80 real. E, na avaliação dos especialistas, as cotações continuarão recuando, podendo chegar a 1,70 real nos próximos meses.

Para as exportadoras, que têm receitas em dólar, o peso do câmbio sobre os negócios é direto: quanto mais o dólar cai, menos as empresas faturam. Já nas companhias voltadas para o mercado interno, a relação não é tão evidente. "A prolongada desvalorização do dólar cria uma cadeia restritiva na economia. As empresas terão de mudar seu modelo de negócios para não perder competitividade", diz o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Almeida explica que, se o dólar continuar caindo, as empresas brasileiras tenderão a substituir seus fornecedores, dando preferência a produtos e serviços importados, que estão mais baratos. "Com isso, as empresas brasileiras vendem menos, investem menos e crescem menos", afirma.

No mercado interno, os setores mais suscetíveis à queda do dólar, segundo Almeida, são os de bens de capital, calçados, têxtil e vestuário. Mas o gerente operacional da Um Investimentos, Rodrigo Silveira, lembra que a desvalorização da moeda americana tem reflexos nos mais diversos setores. "Até as concessionárias de rodovias, como CCR e OHL Brasil, podem ter uma redução de receita", diz. Com o dólar mais barato, viagens ao exterior ficam mais atrativas, freando o trânsito de automóveis nas rodovias do país. Nesse contexto, o real valorizado também desestimularia a vinda de estrangeiros ao Brasil - uma má notícia para locadoras de veículos, como a Localiza, e para empresas do setor de turismo. 


Novos tempos

Embora o país já tenha lidado com diversos ciclos de apreciação do real, o cenário atual, diz Almeida, não pode ser comparado com o de outros tempos, quando as empresas perdiam com a queda do dólar, mas ganhavam com o aumento nas vendas e nos preços. "Hoje, o mundo não está mais crescendo. Não há aumento de demanda. Apenas a expansão do mercado interno não é suficiente para manter os negócios aquecidos", afirma.

Além disso, os negócios no Brasil esbarram em uma antiga questão: a falta de infraestrutura. "Esse é nosso maior gargalo. Chega num ponto que não adianta produzir mais. Só resta melhorar a eficiência", diz André Sacconato, economista da consultoria Tendências.

Por isso, Almeida acredita que as companhias voltarão a se internacionalizar, apesar da crise lá fora. Algumas, como a Coteminas, já deram sinais de que seguirão nessa direção. Em abril, a fabricante de produtos têxteis controlada pela família do vice-presidente da República, José Alencar, assumiu o controle da MMartan, rede de lojas especializada em artigos de cama, mesa e banho. Na ocasião, o presidente da companhia, Josué Gomes da Silva, afirmou que seu objetivo era promover a expansão internacional da marca. Com essa estratégia, a companhia vem atraindo investidores, como os fundos administrados pela Credit Suisse Hedging-Griffo, que neste mês elevaram a 12% sua participação na Coteminas. "Produzir lá fora ficou mais barato. Não só pelos equipamentos, mas também pelo custo da mão de obra", explica Almeida.

Economia real X bolsa

Paradoxalmente, o mesmo fator que vem derrubando as cotações do dólar está promovendo a alta de quase 50% no Ibovespa nesse ano. Confiantes na economia brasileira, os estrangeiros injetaram no mercado de capitais mais de 20 bilhões de reais neste ano. "Mesmo com todas as dificuldades de logística, os estrangeiros estão vendo melhores chances de retorno aqui que em outros países", diz Sacconato. "Cabe às empresas pressionar o governo para que sejam criadas as regulamentações necessárias para a ampliação dos investimentos em infraestrutura e no setor produtivo."


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