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Crise pode levar à greve geral empresas de comunicação

Movimento ocorre há menos de um mês de uma paralisação geral que atingirá não só Portugal, como a Grécia e a Espanha

Além dos problemas do setor, a mobilização se somará a uma série de protestos iniciados ainda no primeiro semestre em Portugal contra as medidas fiscais exigidas pelo FMI, BCE e UE (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2012 às 17h36.

Lisboa - Em Portugal , quatro dos principais grupos de comunicação do país – veículos públicos e privados – ameaçam entrar em greve, por período indeterminado, devido às medidas de austeridade adotadas pelo governo. As autoridades portuguesas adotaram as medidas na tentativa de conter os efeitos da crise econômica internacional que atingem o país, afetando a economia com aumento da inflação e do desemprego.

O movimento ocorre há menos de um mês de uma paralisação geral que atingirá não só Portugal, como a Grécia e a Espanha. Sindicatos de vários setores profissionais, que atuam na área de comunicação, marcaram para o dia 14 de novembro a data para uma greve ampla em protesto às medidas de austeridade adotadas como meio de reagir à pressão econômica.

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Os jornalistas da agência Lusa, que é a empresa pública de notícias de Portugal, decretaram paralisação temporária até amanhã (21). Os jornalistas protestam contra o corte de 31% da dotação orçamentária a ser paga pelo governo no próximo ano pelos serviços prestados pela agência (de capital misto, 51% do Estado).

Também em greve, os profissionais de imprensa do jornal público protestam contra a recente demissão de 48 empregados – 28 jornalistas de um total de 120. Funcionários, incluindo jornalistas e radialistas, da estatal Rádio e Televisão de Portugal (RTP) observam com desconfiança as sinalizações das autoridades em privatizar as emissoras públicas de comunicação – oito emissoras de TV e 16 de rádio.

Os veículos estão temerários, inclusive, quanto à possibilidade de privatizações. Há desconforto também no jornal Diário de Notícias. O Sindicato dos Jornalistas de Portugal acompanha as negociações da suposta venda do veículo (do grupo português Controlinveste) para um grupo angolano cujo nome é preservado em sigilo.

“Estamos acompanhando com o maior interesse, mas não sabemos se está concretizado”, disse à Agência Brasil o presidente do sindicato dos jornalistas portugueses, Afonso Maia. Segundo ele, o processo não tem sido transparente e nenhum grupo privado estrangeiro assumiu ter feito proposta de compra. “Não aceitamos que passe a ser de um capitalista sem rosto.”

Porém, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), o equivalente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que monitora os meios de comunicação, não confirma a negociação entre o comando do Diário de Notícias e os angolanos.


Para Afonso Maia, os veículos de fato passam por dificuldades econômicas e financeiras. Além da crise, que enxuga o Orçamento do Estado e reduz os anunciantes (especialmente nos veículos impressos), há uma série de mudanças estruturais em curso.

Em Portugal, os jornais passam por mudanças de leitura – os leitores estão migrando para o noticiário online – e de gestão, causadas por falhas nas estratégias de distribuição dos impressos (com perda de assinantes e venda em banca) e por convergência de mídia (falta de retorno dos custos operacionais para funcionamento dos veículos na rede).

O presidente do sindicato observa, no entanto, que as demissões de jornalistas em Portugal é seletiva e afeta mais aos jornalistas mais antigos (com salários maiores). “Isso é uma perda irreparável”, lamentou. “Uma importante capacidade de trabalho está sendo descartada. As redações [dos meios de comunicação] devem ser inter-geracionais [relativo às relações entre gerações]”, defendeu.

Afonso Maia acrescentou ainda que a maioria dos trabalhadores do setor de comunicação deverá cruzar os braços em novembro. No próximo dia 14, está prevista uma greve geral de trabalhadores em Portugal, na Grécia e Espanha – países mais afetados pela crise econômica na zona do euro.

Além dos problemas do setor, a mobilização se somará a uma série de protestos iniciados ainda no primeiro semestre em Portugal contra as medidas fiscais exigidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE), e a União Europeia (UE).

Ao longo deste mês, o governo foi criticado em mais de um ato público por ter encaminhado à Assembleia da República (Congresso Nacional) uma proposta orçamentária que aumenta impostos em várias faixas de contribuição.

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