Economia

Crédito brasileiro se conformou com inadimplência alta

Segundo estudo, inadimplência alta no Brasil reflete uma cultura persistente de gastar mais do que a renda


	Pagamentos com cartão: número de registros de inadimplentes do país no ano passado equivale a mais do que as populações de Chile e Paraguai somadas
 (Pascal Le Segretain/Getty Images)

Pagamentos com cartão: número de registros de inadimplentes do país no ano passado equivale a mais do que as populações de Chile e Paraguai somadas (Pascal Le Segretain/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de março de 2014 às 21h49.

São Paulo - Embora tenha caído nos últimos dois anos, a inadimplência do consumidor no Brasil segue alta para padrões internacionais, refletindo uma cultura persistente de gastar mais do que a renda, apontou a empresa de informações de crédito Serasa Experian em estudo divulgado nesta quarta-feira.

Segundo o levantamento, em 2013 somente a Serasa computou 23,5 milhões de pessoas com dívidas vencidas com prazo acima de 90 dias --crescimento de 0,9 por cento em relação ao ano anterior e de 26 por cento sobre 2010.

O número de registros de inadimplentes do país no ano passado equivale a mais do que as populações de Chile e Paraguai somadas e é quase o equivalente à população economicamente ativa (PEA) do Brasil em dezembro, de 24,4 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Apesar da queda recente, a inadimplência segue alta e reflete uma cultura de consumidores gastarem mais do que ganham", disse à Reuters o presidente da Serasa, Ricardo Loureiro, para quem o mercado brasileiro acabou se conformando com esses níveis elevados de calotes.

Segundo a instituição, enquanto a inadimplência das pessoas físicas no Brasil fechou 2013 em 6,7 por cento, no México estava em 5,3 por cento, nos Estados Unidos em 2,4 por cento e no Chile, em 2,1 por cento.

O estudo também mostra que 36,6 por cento das pessoas que deixaram a lista de inadimplentes em 2012 voltaram a ela no ano passado, mostrando uma forte reincidência.

Por outro lado, a Serasa Experian afirmou ter percebido uma tendência de leve melhora nesse indicador, já que a reincidência foi de 38,9 por cento em 2012 e de 39,4 por cento em 2011.

De todo modo, disse Loureiro, o quadro é incômodo e sinaliza para a necessidade do uso de ferramentas de classificação de crédito, como o cadastro positivo, em que tomadores com histórico de adimplência podem se beneficiar de taxas de juros mais baixas nos financiamentos.

Regulamentado desde o fim de 2012, o cadastro positivo ainda não engrenou no país, com credores receosos de serem alvos de processos judiciais por parte de tomadores que se sintam prejudicados pelo mau uso de seus dados. A Serasa diz já ter um banco com mais de 600 mil consumidores que espontaneamente pediram para ter seus nomes no cadastro positivo da companhia.

"Mas até concessão de crédito com base nesses dados ainda não acontece", disse Loureiro.

INADIMPLÊNCIA PODE SUBIR A inadimplência do consumidor no Brasil caiu 2,3 por cento em fevereiro ante mesmo mês de 2013, de acordo com dados da Serasa antecipados pela Reuters nesta quarta-feira, mas a trajetória de queda está acabando e a tendência pode se reverter no curto prazo, diante do efeito da alta do juro básico sobre o custo do crédito.

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