Copom corta juros em 0,25 ponto percentual para 13,75%
Banco Central continua ciclo de afrouxamento monetário em decisão já esperada pelo mercado
João Pedro Caleiro
Publicado em 30 de novembro de 2016 às 18h21.
Última atualização em 30 de novembro de 2016 às 18h32.
São Paulo - O Comitê de Política Monetária do Banco Central ( Copom ) anunciou hoje um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros da economia, a Selic, que foi de 14% para 13,75%.
É o segundo corte consecutivo; o anterior, também de 0,25 ponto, ocorreu em outubro e foi o primeiro desde 2012.
A decisão veio de acordo com o que esperava a maior parte dos analistas de mercado; alguns viam espaço para um corte de meio ponto percentual.
A ata será divulgada na próxima quinta-feira, 08 de dezembro, e a próxima reunião está marcada para os dias 10 e 11 de janeiro.
A decisão foi por unanimidade e sem viés. O comunicado cita a fraqueza da atividade, incertezas internacionais e o processo de aprovação das reformas fiscais.
A previsão do último Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira, é que a Selic termine o ano de 2017 em 10,75%.
Quando o Copom aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.
O IBGE divulgou na manhã de hoje que o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 0,8% no 3º trimestre de 2016 em relação ao trimestre anterior, com queda de 2,9% sobre o mesmo período do ano anterior.
O espaço para o ciclo de afrouxamento monetário surgiu na medida em que as expectativas de inflação para 2017 se aproximaram do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%.
Além da fraqueza da atividade, também houve avanço da agenda de reformas com a aprovação da PEC do Teto de Gastos em duas votações na Câmara dos Deputados e uma no Senado.
Um obstáculo significativo é a piora no cenário internacional após a inesperada eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Além da incerteza em relação à sua figura, muitos de seus planos são inflacionários, o que causou um aumento na expectativa de juros futuros nos Estados Unidos.
Juros mais altos no mundo desenvolvido significam fuga de capital dos emergentes e uma margem menor para cortar os juros por aqui.
Veja a íntegra do comunicado:
" O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 13,75% a.a., sem viés.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O conjunto dos indicadores divulgados desde a última reunião do Copom sugere atividade econômica aquém do esperado no curto prazo, o que induziu reduções das projeções para o PIB em 2016 e 2017. A evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica pode ser mais demorada e gradual que a antecipada previamente;
No âmbito externo, o cenário apresenta-se especialmente incerto. O aumento da volatilidade dos preços de ativos indica o possível fim do interregno benigno para economias emergentes. Há elevada probabilidade de retomada do processo de normalização das condições monetárias nos EUA no curto prazo e incertezas quanto ao rumo de sua política econômica;
A inflação recente mostrou-se mais favorável que o esperado, em parte em decorrência de quedas de preços de alimentos, mas também com sinais de desinflação mais difundida;
As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 4,9% para 2017, e mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018 e horizontes mais distantes;
As projeções condicionais do Copom oscilaram em função de fatores com impactos opostos. As projeções para a inflação de 2016, nos cenários de referência e mercado, recuaram e encontram-se em torno de 6,6%. As projeções para 2017, nos cenários de referência e mercado, situam-se em torno de 4,4% e 4,7%, respectivamente. Para 2018, as projeções encontram-se em torno de 3,6% e 4,6%, nos cenários de referência e mercado, respectivamente; e
Os passos no processo de aprovação das reformas fiscais têm sido positivos até o momento.
O Comitê ressalta os seguintes riscos para o cenário básico para a inflação:
Por um lado, (i) o possível fim do interregno benigno para economias emergentes pode dificultar o processo de desinflação; (ii) os sinais de pausa no processo de desinflação de alguns componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária persistem, o que pode sinalizar convergência mais lenta da inflação à meta; (iii) o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia é longo e envolve incertezas;
Por outro lado, (iv) a atividade econômica mais fraca e o elevado nível de ociosidade na economia podem produzir desinflação mais rápida que a refletida nas projeções do Copom; (v) a inflação tem se mostrado mais favorável no curto prazo, o que pode sinalizar menor persistência no processo inflacionário; e (vi) o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia pode ocorrer de forma mais célere que o antecipado.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 13,75% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e 2018, é compatível com um processo gradual de flexibilização monetária.
A magnitude da flexibilização monetária e a intensificação do seu ritmo dependerão das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco mencionados acima. Nesse sentido, o Copom destaca que o ritmo de desinflação nas suas projeções pode se intensificar caso a recuperação da atividade econômica seja mais demorada e gradual que a antecipada. Essa intensificação do processo de desinflação depende de ambiente externo adequado.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel."