Conheça o "Trueque", que faz a Venezuela voltar no tempo
Na Venezuela o intercâmbio de mercadorias está sendo realizado até mesmo via Facebook e Twitter
Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2015 às 06h00.
São Paulo - Além da crise política entre governo e oposição, a desvalorização do bolívar levou a Venezuela a uma crise econômica crítica, cujas consequências já estão presentes no cotidiano das pessoas.
Os venezuelanos tiveram que voltar aos primórdios da economia e agora realizam uma espécie de escambo, chamado de “trueque”, um intercâmbio de objetos sem envolver dinheiro.
A forma de comércio é o jeito que a população encontrou para conseguir driblar as longas filas e os preços exorbitantes de alimentos e produtos higiênicos.
Na hora da necessidade, vale tudo. Redes sociais como o Facebook e o Twitter, por exemplo, têm sido utilizadas para a realização das trocas. Pessoas postam fotos de produtos que possuem, perguntando se há interessados em trocar por outros.
Mas também há uma troca de informações: vários usuários perguntam onde podem encontrar algum determinado bem ou indicam o lugar onde fizeram uma aquisição recentemente.
É o que acontece no grupo “Trueques Anti-Bachaqueros – Barquisimeto”, criado no Facebook. A página é fechada por motivos de segurança e é administrada por seis pessoas, responsáveis por manter justas as trocas e determinar as normas de publicação.
“Por motivos econômicos, o Facebook chega a mais pessoas do que o Instagram, por exemplo, que precisa de um smartphone para usá-lo e nem todos aqui têm um”, explica uma das administradoras da página, Mary Sands, em entrevista por e-mail.
A venezuelana explicou que o "trueque" se tornou comum no país porque, além da carência de produtos, quando as pessoas vão às compras, “se compra o que se encontra” e não o que se deseja ou realmente precisa.
“Tem uma grande quantidade de produtos em falta, não só nos supermercados e farmácias, mas também coisas como pneus, produtos de limpeza e até mesmo celulares”, afirmou.
A seguir, veja como uma das usuárias da página realizou o trueque: ela postou uma foto com produtos higiênicos que possuía, como desodorantes, amaciantes e sabonetes, e em troca pedia leite.
No entanto, os membros de grupos de "trueques" precisam tomar cuidado com os chamados “bachaqueros”, pessoas que compram produtos regulados - com preços oficiais - e os revendem a preços bem acima do que é considerado "justo" por lá.
Além de aumentar o tempo nas filas dos supermercados, os "bachaqueros" obtêm um lucro de até 1.000% com a revenda dos produtos regulados. “Nós realizamos essas trocas porque precisamos nos ajudar uns aos outros, sem distinção política”, completou Mary Sands.
Já no Twitter, perfis como “Mami Encontró” ajudam a compartilhar informações sobre os produtos que estão em falta.
“A ideia da conta surgiu porque se tornou difícil a ideia de ser mãe nestes tempos de desabastecimento”, explicou a dona do perfil, Dayimar Ayla, por e-mail. “Faltam fraldas, fórmulas, sabonete, shampoo e remédios”, completou.
Abaixo, uma seguidora do perfil pede informações sobre onde encontrar absorventes em Caracas:
A administradora retuíta os pedidos de seus seguidores para ajudá-los com as informações, mas não realiza o trueque. Mesmo sendo um perfil voltado para os produtos infantis, Dayimar divulga também solicitações de medicamentos e produtos de higiene para adultos.
“O Twitter é uma ferramenta que alcança quase todo mundo, além de ser em tempo real”, afirmou a administradora do perfil.
O grupo de amigos que criou a conta “Del mercado encontré”, também no Twitter, concorda com Dayimar Ayla.
“Vi que muitas pessoas escreviam para informar-se sobre os produtos, mas não existia uma conta específica, por isso resolvi criar”, contou por e-mail um dos administradores, que prefere não se identificar.O perfil funciona apenas para a população de Caracas, capital da Venezuela.
A seguir, uma usuária do Twitter pede informações sobre absorventes, condicionador de cabelo e café em Caracas:
Com grupos também no WhatsApp, os administradores do "Del mercado encontré"se comunicam para saber onde encontrar determinados produtos e publicam as informações para ajudar seus seguidores.
Sobre o futuro da Venezuela, o administrador do perfil se diz sem esperança.
E cita uma informação que o deixa entristecido.
"A maioria dos supermercados vendem com um sistema que não nos permite comprar duas vezes a mesma coisa na semana, por exemplo”, completou.
São Paulo - Além da crise política entre governo e oposição, a desvalorização do bolívar levou a Venezuela a uma crise econômica crítica, cujas consequências já estão presentes no cotidiano das pessoas.
Os venezuelanos tiveram que voltar aos primórdios da economia e agora realizam uma espécie de escambo, chamado de “trueque”, um intercâmbio de objetos sem envolver dinheiro.
A forma de comércio é o jeito que a população encontrou para conseguir driblar as longas filas e os preços exorbitantes de alimentos e produtos higiênicos.
Na hora da necessidade, vale tudo. Redes sociais como o Facebook e o Twitter, por exemplo, têm sido utilizadas para a realização das trocas. Pessoas postam fotos de produtos que possuem, perguntando se há interessados em trocar por outros.
Mas também há uma troca de informações: vários usuários perguntam onde podem encontrar algum determinado bem ou indicam o lugar onde fizeram uma aquisição recentemente.
É o que acontece no grupo “Trueques Anti-Bachaqueros – Barquisimeto”, criado no Facebook. A página é fechada por motivos de segurança e é administrada por seis pessoas, responsáveis por manter justas as trocas e determinar as normas de publicação.
“Por motivos econômicos, o Facebook chega a mais pessoas do que o Instagram, por exemplo, que precisa de um smartphone para usá-lo e nem todos aqui têm um”, explica uma das administradoras da página, Mary Sands, em entrevista por e-mail.
A venezuelana explicou que o "trueque" se tornou comum no país porque, além da carência de produtos, quando as pessoas vão às compras, “se compra o que se encontra” e não o que se deseja ou realmente precisa.
“Tem uma grande quantidade de produtos em falta, não só nos supermercados e farmácias, mas também coisas como pneus, produtos de limpeza e até mesmo celulares”, afirmou.
A seguir, veja como uma das usuárias da página realizou o trueque: ela postou uma foto com produtos higiênicos que possuía, como desodorantes, amaciantes e sabonetes, e em troca pedia leite.
No entanto, os membros de grupos de "trueques" precisam tomar cuidado com os chamados “bachaqueros”, pessoas que compram produtos regulados - com preços oficiais - e os revendem a preços bem acima do que é considerado "justo" por lá.
Além de aumentar o tempo nas filas dos supermercados, os "bachaqueros" obtêm um lucro de até 1.000% com a revenda dos produtos regulados. “Nós realizamos essas trocas porque precisamos nos ajudar uns aos outros, sem distinção política”, completou Mary Sands.
Já no Twitter, perfis como “Mami Encontró” ajudam a compartilhar informações sobre os produtos que estão em falta.
“A ideia da conta surgiu porque se tornou difícil a ideia de ser mãe nestes tempos de desabastecimento”, explicou a dona do perfil, Dayimar Ayla, por e-mail. “Faltam fraldas, fórmulas, sabonete, shampoo e remédios”, completou.
Abaixo, uma seguidora do perfil pede informações sobre onde encontrar absorventes em Caracas:
A administradora retuíta os pedidos de seus seguidores para ajudá-los com as informações, mas não realiza o trueque. Mesmo sendo um perfil voltado para os produtos infantis, Dayimar divulga também solicitações de medicamentos e produtos de higiene para adultos.
“O Twitter é uma ferramenta que alcança quase todo mundo, além de ser em tempo real”, afirmou a administradora do perfil.
O grupo de amigos que criou a conta “Del mercado encontré”, também no Twitter, concorda com Dayimar Ayla.
“Vi que muitas pessoas escreviam para informar-se sobre os produtos, mas não existia uma conta específica, por isso resolvi criar”, contou por e-mail um dos administradores, que prefere não se identificar.O perfil funciona apenas para a população de Caracas, capital da Venezuela.
A seguir, uma usuária do Twitter pede informações sobre absorventes, condicionador de cabelo e café em Caracas:
Com grupos também no WhatsApp, os administradores do "Del mercado encontré"se comunicam para saber onde encontrar determinados produtos e publicam as informações para ajudar seus seguidores.
Sobre o futuro da Venezuela, o administrador do perfil se diz sem esperança.
E cita uma informação que o deixa entristecido.
"A maioria dos supermercados vendem com um sistema que não nos permite comprar duas vezes a mesma coisa na semana, por exemplo”, completou.