Economia

Como um Brexit sem acordo pode se tornar um problema global

Avaliação mais recente mostra queda no PIB britânico de 5,5%, no “pior caso de um cenário sem acordo ou transição”. Isso mostra o tamanho do estrago

Brexit: referendo de 2016 que votou a favor da saída do Reino Unido da UE provocou choque de confiança imediato nos mercados globais (pidjoe/Getty Images)

Brexit: referendo de 2016 que votou a favor da saída do Reino Unido da UE provocou choque de confiança imediato nos mercados globais (pidjoe/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 6 de outubro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 6 de outubro de 2019 às 08h00.

Se o Reino Unido sair da União Europeia sem um pacto de transição, os efeitos indiretos prejudicariam uma economia global já frágil.

O referendo de 2016 que votou a favor da saída do bloco provocou um choque de confiança imediato que se dissipou rapidamente nos mercados globais, mas o pior cenário de um Brexit sem acordo seguramente afetaria o Reino Unido que, segundo a Bloomberg Economics, entraria em recessão.

A dúvida é sobre o alcance do impacto sobre outros países no momento em que a guerra comercial EUA-China já provoca uma retração no setor de manufatura global.

A segunda maior vítima seria a zona do euro: o Banco Central Europeu estima que a região sentiria um impacto equivalente a 10% a 30% do efeito no Reino Unido. Essa é potencialmente a diferença entre desaceleração e recessão.

“As consequências de um Brexit sem acordo seriam muito sérias para o Reino Unido, mas também para cada um dos estados membros da UE”, disse o ex-primeiro-ministro italiano Mario Monti em entrevista à Bloomberg Television esta semana.

Quanto a outros países, o professor da Universidade de Nova York, Nouriel Roubini, escreveu esta semana que o Brexit sem acordo, por si só, “não causaria uma recessão global, mas certamente desencadearia uma recessão europeia, que então se espalharia para outras economias”.

Um Brexit sem acordo é um “risco do tipo catastrófico” que provocaria uma fuga para ativos mais seguros, como os bunds alemães e Treasuries dos EUA, disse Tom di Galoma, diretor-gerente de trading e estratégia de governo da Seaport Global Holdings, um banco de investimentos e empresa de consultoria dos EUA. “Há uma enorme paralisação no crescimento global, principalmente devido às questões comerciais entre EUA e China, mas o Brexit é mais um fator.”

O Reino Unido pretende deixar o bloco no final de outubro, e o primeiro-ministro Boris Johnson prometeu cumprir esse prazo com ou sem um acordo de divórcio.

A avaliação mais recente do Banco da Inglaterra no “pior caso de um cenário sem acordo e sem transição” é de uma queda no PIB de 5,5%. Isso mostra a magnitude do estrago.

A Alemanha, um parceiro comercial importante da China e dos EUA, pode provocar um impacto maior sobre o resto do mundo, que já sofre com a guerra comercial entre as duas maiores economias.

“É outra incerteza”, disse Thomas Graff, chefe de renda fixa da Brown Advisory, que administra US$ 6,2 bilhões em ativos. “Em geral, a incerteza já pesa sobre a confiança das empresas nos EUA. E, se as empresas deixarem de investir para ver o que vai acontecer em relação ao Brexit, isso é suficiente para nos colocar em recessão ou, pelo menos, em mais desaceleração.”

Atualmente, essas consequências mais amplas têm sido negligenciadas fora da Europa, segundo Klaus Baader, economista-chefe global do Société Générale.

“A incerteza é um problema para todos”, disse. Se um Brexit sem acordo causar uma recessão na zona do euro, “isso realmente se torna um problema global”.

(Com a colaboração de Francine Lacqua e Matthew Miller).

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