(Pilar Olivares/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de março de 2022 às 08h29.
A defasagem entre os preços cobrados pela Petrobras e os das principais bolsas de negociação do mundo chegou a 24%, para a gasolina, e 27%, para o óleo diesel, segundo cálculo do consultor em Gerenciamento de Risco da consultoria Stonex, Pedro Shinzato. Nesta quarta, 2, o preço do barril do petróleo alcançou a cotação de US$ 112,9.
Para evitar que a alta da commodity corroa seu caixa, a Petrobras recorre aos estoques comprados há cerca de dois meses, a preços mais baixos. O risco é que a reserva acabe e o abastecimento interno seja afetado. O tema é discutido pela direção da empresa, que se reuniu ontem pela manhã para acompanhar de perto as oscilações do petróleo e tentar definir o próximo passo.
Se decidisse repassar integralmente a alta do petróleo para os seus clientes, o preço do litro da gasolina nos postos poderia subir de R$ 6,56 para R$ 7,15 e o do óleo diesel, de R$ 5,65 para R$ 6,64. As altas nas bombas seriam, portanto, de 9% e 17%, respectivamente, pelas contas de Shinzato, que desconsiderou possíveis mudanças em outras componentes do preço de consumidor, como impostos.
"Desde o início do ano, a Petrobras vem continuamente mantendo preços ligeiramente abaixo do PPI (de equiparação ao mercado internacional). Essa diferença coloca em xeque a política de preços da empresa", afirma. Parte do resultado recorde de R$ 106 bilhões de 2021 ocorreu em função do repasse da alta do petróleo no mercado externo para o interno.
Luciano Losekann, especialista em petróleo e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que o cenário é de incerteza, mas que dificilmente o barril será negociado em patamar inferior a US$ 100 nos próximos dias. "Como já tem um mês desde o último reajuste, devemos ter um aumento nos próximos dias, embora acredite que a Petrobras não repasse a alta integral aos consumidores, num primeiro momento."
Dependência
Para deixar o cenário ainda mais complicado, a companhia perdeu a contribuição dos demais importadores para atender ao mercado interno. Apesar de o Brasil ser superavitário em petróleo, possui déficit em refino e, por isso, o consumo interno é coberto também com importação.
No caso do diesel, a dependência de outros países é grande, de 25%. Como os preços da Petrobras se mantêm inalterados desde o início do ano, a concorrência, sem capacidade de competir, cruzou os braços e, desde janeiro, não fornece uma gota de gasolina ou diesel. Em contrapartida, a demanda continua crescendo, como acontece desde 2020. A importação por terceiros está inviabilizada, segundo o presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo.
Isso significa que, praticamente, toda responsabilidade de fornecimento de combustíveis está com a Petrobras e que, se alguém tiver que pagar a conta pela alta do petróleo no Brasil, será a empresa. O tamanho da conta vai depender do reajuste que vai anunciar.
Cotações
Ontem, contratos do petróleo seguiram o ritmo de valorização visto nos últimos dias e voltaram a registrar forte valorização. O Brent para maio - negociado em Londres e o padrão utilizado pela Petrobras - fechou em alta de 7,58%, a US$ 112,93 o barril, no maior valor desde 2014. Em Nova York, o WTI para abril teve ganho de 6,95%, cotado a US$ 110,60 - maior patamar desde 2011.