Economia

BNDES vai captar recursos no exterior

Decisão reflete decisão do governo de cobrar a devolução de cerca de R$ 100 bilhões de empréstimos feitos pelo Tesouro Nacional ao banco

BNDES: operação servirá como marco da nova fase do banco como grande captador no mercado externo (Nacho Doce/Reuters)

BNDES: operação servirá como marco da nova fase do banco como grande captador no mercado externo (Nacho Doce/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de agosto de 2017 às 11h03.

Brasília - O BNDES vai voltar com força ao mercado internacional para captar recursos e fazer frente à decisão do governo federal de cobrar a devolução de cerca de R$ 100 bilhões de empréstimos feitos pelo Tesouro Nacional.

A estratégia é concluir uma primeira captação até o fim do ano, que vai girar em torno de US$ 1 bilhão com prazo de 10 anos. A operação servirá como marco da nova fase do banco como grande captador no mercado externo, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

As captações serão feitas de forma inicialmente gradual, com volumes menores, mas a intenção do banco de fomento é reforçar a curva de juros dos papéis ao longo do tempo, recuperando a tradição que tinha de importante "player" brasileiro no cenário internacional, antes dos aportes bilionários e sistemáticos do Tesouro.

A intenção é ir alongando os prazos dos papéis. A avaliação técnica no BNDES é de que há espaço e demanda para voltar ao mercado externo numa nova posição diante do quadro de grande liquidez internacional. O banco já teve essa função, mas os empréstimos do Tesouro a taxas subsidiadas tornaram as captações dispensáveis.

Agora, com a decisão do governo de pedir nova antecipação de parte dos repasses, como revelou o Estadão/Broadcast, o banco terá de encontrar alternativas para bancar seus financiamentos. O Ministério da Fazenda confirmou ontem que a devolução dos recursos pelo BNDES vai constar na proposta de projeto do Orçamento de 2018. Os valores e a forma de pagamento estão sendo negociados, segundo o órgão. Uma fonte disse à reportagem, sob condição de anonimato, que o valor pode até superar os R$ 100 bilhões.

A avaliação do governo é de que o banco tem tanto dinheiro em caixa que, mesmo com o pagamento, ainda teria poder de fogo para duplicar o ritmo de desembolsos. Nos cálculos da área econômica, só com o retorno de recursos de financiamentos antigos e com os repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ao BNDES, o banco seria capaz de emprestar mais de R$ 100 bilhões ao ano, mais do que o ritmo atual de desembolso. Entre janeiro e julho, foram concedidos R$ 40,2 bilhões em novos empréstimos. Em 12 meses, o acumulado está em R$ 70,5 bilhões, queda nominal de 29% ante os 12 meses anteriores.

O comando do BNDES não vai colocar empecilhos à devolução dos recursos em 2018, mas quer negociar a melhor forma de administração do fluxo de caixa. A questão do "timing" da devolução ao longo do ano é importante por causa da perspectiva de retomada da demanda por empréstimos depois que o banco tomou a decisão de reduzir o spread (diferença entre o custo de captação e o cobrado aos clientes) de suas operações.

Atualmente os grandes projetos estão praticamente paralisados e os desembolsos do banco, em baixa. Por isso, a evolução da demanda em consequência do spread mais baixo será decisiva na negociação do cronograma de devolução.

Realidade

Ontem, o diretor financeiro do BNDES, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, disse que a devolução é uma "necessidade orçamentária" da União, por isso, o banco não tem como negar o pedido. "Não é uma questão do BNDES com o Tesouro, é uma realidade orçamentária. A partir daí temos de seguir os passos orçamentais, como vai ser, quando vai ser", declarou a jornalistas antes da audiência pública na CPI do BNDES, instalada há um mês para investigar empréstimos concedidos pelo banco desde 1997, no âmbito do programa de globalização de companhias nacionais.

O banco vai propor que os recursos sejam devolvidos em parcelas. A devolução é necessária para o cumprimento da "regra de ouro" prevista na Constituição, que proíbe o Tesouro de se endividar para bancar despesas de custeio do governo, como gastos com pessoal e Previdência.

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