Vista do prédio do Banco Central brasileiro, em Brasília (Gregg Newton/Bloomberg)
Fabiane Stefano
Publicado em 23 de março de 2021 às 15h55.
Última atualização em 23 de março de 2021 às 18h44.
Divulgada nesta terça-feira, 23, a ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicou que a projeção para o IPCA de 2021 no cenário básico está em 5,0%. Com receio de estourar o teto da meta, que é de 5,25%, o comitê elevou a taxa básica de juros da economia (Selic) em 0,75 ponto percentual, sinalizando que o ciclo altista deve ser curto e intenso - e não a conta-gotas.
No mesmo documento, o Copom aponta que alta acima do esperado pelo mercado - cujas projeções giravam em torno de 0,5 ponto percentual - se deu como consequência de um risco fiscal mais elevado. Para o órgão, apesar da aprovação de reformas que podem trazer benefícios à médio prazo, "os riscos fiscais de curto prazo seguem elevados, devido ao agravamento da pandemia, implicando um viés de alta nas projeções e justificando a elevação inicial de juros acima do cenário base".
Para o economista Artur Mota, da Exame Invest PRO, esse trecho confirma o tom hawkish - ou seja, mais contracionista - do documento e indica que, apesar de estar focado nos resultados de 2022, o BC já retoma o olhar para 2021 na tentativa de manter a ancoragem das expectativas futuras.
"Há uma antecipação de risco por parte do BC, que vê a possibilidade de piora fiscal com o avanço da pandemia mesmo após a aprovação dos R$ 44 bilhões extra-teto para o auxílio na PEC Emergencial", explica Mota no relatório da Exame Invest PRO. O risco, agora, é de um estado de calamidade que leve a gastos superiores a esses já aprovados."
Apesar da sinalização que um novo ajuste "da mesma magnitude" deve acontecer já na próxima reunião, em maio, o relatório aponta que a curva de juro DI já começa apontar a chance de uma alta de 1 ponto percentual, quase um terço dos contratos de opções de Copom negociados na B3 apostam nesse cenário.
"O BC colocou um hedge ao sugerir que 'a visão pode ser alterada caso haja mudanças significativas nas projeções', mostrando como estão mais dependentes do fluxo de dados dos próximos dias", explica Mota, destacando a importância de números de IPCA's, produção, venda e emprego.
O economista mantém sua projeção de Selic a 5% no final do ano, mas espera que o comitê atualize sua visão do nível de ociosidade da economia. "Isso poderia pressionar uma elevação da nossa expectativa para o ano", explicou.
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