10 riscos econômicos e políticos de “tirar o sono”
Banco Nomura apontou o futuro da zona do euro como a principal questão (e setembro será um mês decisivo)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2012 às 17h44.
São Paulo – Quem não está preocupado com questões que surgem longe de seu país, deveria. Alastair Newton, analista político do banco Nomura, publicou uma atualização de seu relatório sobre riscos políticos e econômicos presentes no mundo. O documento tem um nome bem sugestivo: “Questões que me deixam acordado à noite”. E não é para menos.
No relatório, são apontados acontecimentos que vão do risco de guerras até as tensões econômicas pelas quais passam a União Europeia .
Alguns desses riscos também já haviam sido destacados em um relatório do Citi, que tinha um foco muito mais nas questões políticas. No estudo do Nomura, estão representados também riscos econômicos, que foram apontados por ordem de “gravidade”. Confira:
1º) Os (vários) riscos na União Europeia
A situação econômica nos países da Europa continua delicada. Newton destaca que setembro será um mês decisivo para a região, com uma série de datas importantes para definir o destino do grupo e do euro. Na semana que vem, por exemplo, a Corte Constitucional da Alemanha decidirá se o fundo de resgate financeiro pode ser ativado. Apesar dos esforços em setembro, o analista político acredita que a região continuará sendo “problemática” pelo menos até o final deste ano.
Dentro dessa questão, o analista aponta outros riscos. Claro que a Grécia continua “tirando o sono” de Newton, mas Espanha e Itália dão cada vez mais motivos para preocupação. Na opinião do analista, esses países estão prestes a receber mais ajuda externa por meio da venda de títulos da dívida interna. Isso dependeria de algumas mudanças que os países precisariam promover para ter sucesso nesse mercado. Além disso, espanhóis e italianos passam por um momento delicado na economia e têm que lidar com outras questões complicadas nos países.
Outra questão importante na União Europeia é a permanência ou não do Reino Unido no bloco. A região não adota o euro, mas faz parte do grupo. Existe a expectativa de que o Reino Unido promova um referendo para que a população diga se quer continuar ou não na União Europeia. A economia em ebulição pode acelerar esse processo, segundo o analista do Nomura.
2º) Eleições nos Estados Unidos
O ano é de eleição presidencial nos Estados Unidos. De um lado, está o atual presidente, Barack Obama. Do outro, está Mitt Romney. As pesquisas mostram uma disputa muito acirrada entre os candidatos.
Em seu relatório, Newton destaca que Romney escolheu Paul Ryan como candidato a vice-presidente na expectativa de levar ao debate a questões econômicas, sociais, e sobre políticas fiscais.
O analista do Nomura lembra que Ryan tem algumas ideias impopulares sobre o corte de alguns benefícios, o que pode custar alguns votos. Mesmo assim, afirma o analista político, a campanha de Obama deve sair como perdedora.
Independente de quem terminar a disputa como presidente dos Estados Unidos, afirma o analista, as discussões após a eleição serão muito delicadas no que diz respeito às negociações sobre novas políticas fiscais nos Estados Unidos.
3º) Israel e Irã
O mundo está preocupado com um possível ataque de Israel ao Irã. O analista do Nomura destaca inclusive que esse é um dos motivos que tem levado o preço do petróleo para cima. Newton acredita que se Israel considerar “absolutamente necessário”, não hesitará em lançar uma ofensiva contra o Irã.
Embora não descarte a possibilidade disso acontecer antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, marcadas para o início de novembro, o analista do Nomura acha essa chance muito pequena. A julgar pelo preço do petróleo, ele acredita que o mercado está mais preocupado com isso do que realmente precisaria ficar.
4º) Sucessão na China
A China está passando por um processo de transição de poder. Embora ainda não exista uma data oficial, a expectativa é de que o Partido Comunista da China realize em outubro seu congresso para renovar a cúpula e começar a transição, que deve durar alguns meses.
Newton afirma que devem ser escolhidos representantes capazes de lidar com a economia, política e questões sociais complexas da China.
Enquanto isso não acontece, o governo chinês deve continuar com medidas que impulsionem a economia para evitar uma desaceleração exagerada nesse período de transição.
5º) Disputas territoriais na Ásia
Algumas disputas territoriais entre países na Ásia são um ponto de preocupação. A China e o Japão, por exemplo, disputam as ilhas Senkaku, como chamam os japoneses, ou Diaoyu, como chamam os chineses.
As tensões entre manifestantes dos dois países aumentam, mas o analista acredita que os governos devem tomar medidas para diminuir essas tensões.
O analista também destaca outra disputa, entre Japão e Coreia do Sul pelas ilhas Takeshima, como chamam os japoneses, ou Dokdo, como dizem os sul-coreanos.
6º) Tempos turbulentos nas Coreias
Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, promoveu recentemente mudanças na cúpula do exército do país, o que sinaliza uma ação para consolidar seu poder. O que não está claro é se esse tipo de mudança vai gerar reformas na economia do país.
Do outro lado, na Coreia do Sul, as eleições presidenciais marcadas para dezembro merecem atenção.
7º) Conflitos e o petróleo
Uma série de conflitos tem levado o mercado a se preocupar com o petróleo e aumentado o preço da commodity. O analista do Nomura destacou algumas dessas tensões. Um dos exemplos é a situação na Síria. Para o analista, a guerra civil naquele país continua preocupando os mercados, embora ele acredite que não oferece ameaça direta ao fornecimento mundial de petróleo.
Outra situação delicada na região destacada pelo analista político é o Iraque, onde os curdos discutem com o primeiro-ministro do país, Nourial-Maliki, sobre uma série de questões, especialmente sobre as políticas de fontes de energia.
Na opinião do analista do Nomura, isso não deve levar a uma queda do regime de Maliki no curto prazo, mas pode inibir investimentos na extração e processamento de petróleo no país.
8º) Incertezas e tensões no Paquistão
O exército paquistanês indicou recentemente que pode lançar ofensiva sobre a militância islâmica. Se isso ocorrer, lembra o analista do Nomura, vai gerar um risco de aumentar a escalada do terrorismo no Paquistão e na Índia.
Uma possível eleição doméstica no país pode aumentar as tensões. O Paquistão não precisa convocar eleições gerais antes de março de 2013, afirma o analista político, mas as chances são de que isso seja feito ainda neste ano, na opinião de Newton.
9º) Eleições na Venezuela
Em outubro, os venezuelanos vão às urnas para escolher um presidente. O analista do Nomura acredita que Hugo Chávez tem uma boa chance de ser reeleito. Independente do resultado, com ou sem Chávez, a situação política na Venezuela pode ser bem complicada.
Se Henrique Capriles, candidato da oposição, vencer, apoiadores militares de Chávez já indicaram que não vão aceitar a mudança tão facilmente. Já no caso de confirmada a vitória do atual presidente, entra em cena seu delicado estado de saúde. Caso Chávez não consiga exercer suas funções, as preocupações se voltam para uma possível transição nada suave no governo do país.
10º) Falta de perspectiva na Rússia
Os recentes protestos na Rússia contra o presidente Vladimir Putin não são um risco real, na visão do analista do Nomura. O grande problema é que isso pode levar a administração a não conseguir promover reformas consistentes no país. Com esses desafios, o clima para investimentos na Rússia também não é dos mais favoráveis.