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Variante de Sorocaba é mais transmissível e resistente, diz estudo

A nova cepa detectada pela primeira vez no Brasil tem comportamento parecido com a variante de Manaus, que é mais transmissível e predomina sobre as demais cepas já conhecidas

Coronavírus: a descoberta foi descrita em versão prévia de artigo científico publicado no site medRxiv, de informações científicas, no último dia 4, estando ainda sujeito à revisão (Andriy Onufriyenko/Getty Images for National Geographic Magazine)

Coronavírus: a descoberta foi descrita em versão prévia de artigo científico publicado no site medRxiv, de informações científicas, no último dia 4, estando ainda sujeito à revisão (Andriy Onufriyenko/Getty Images for National Geographic Magazine)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de abril de 2021 às 16h08.

A variante da linhagem sul-africana do coronavírus detectada em uma paciente de Sorocaba, interior de São Paulo, tem maior capacidade de driblar o sistema imunológico das pessoas infectadas e as vacinas já disponíveis apresentam baixa efetividade contra ela.

É o que revela um estudo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), coordenado pelo Instituto Butantan e com apoio de outras instituições, inclusive da África do Sul. A nova cepa detectada pela primeira vez no Brasil tem comportamento parecido com a variante de Manaus, que é mais transmissível e predomina sobre as demais cepas já conhecidas.

A descoberta foi descrita em versão prévia de artigo científico publicado no site medRxiv, de informações científicas, no último dia 4, estando ainda sujeito à revisão. O estudo utilizou amostras colhidas pela rede de vigilância genômica do vírus Sars-Cov-2 do Estado, que integra laboratórios públicos e privados. De acordo com o pesquisador Rafael dos Santos Bezerra, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, os pesquisadores sequenciaram e geraram 217 genomas do vírus, a partir de coletas realizadas em Sorocaba, Araçatuba, Marília, Taubaté, Campinas e Ribeirão Preto, além de cidades da Grande São Paulo e da Baixada Santista.

Conforme o pesquisador, 64,05% dos genomas analisados pertencem à linhagem P.1 surgida no Estado do Amazonas e identificada no Japão, que ficou conhecida como variante brasileira de Manaus. Outros 25,34% eram das linhagens B.1.1.28, que provavelmente originaram a P.1. Já a variante inglesa do coronavírus apareceu em 5,99% das amostras. "A linhagem P.2 (variante detectada inicialmente no Rio de Janeiro) foi detectada em apenas 0,92% dos casos, o que demonstra um possível avanço da P.1 sobre outras linhagens que eram predominantes em São Paulo", explicou.

A linhagem B.1.351 identificada em Sorocaba compartilha 15 mutações com a cepa sul-africana, mas não apresenta seis das mutações definidoras daquela cepa. No entanto, seu genoma apresenta nove mutações exclusivas. "As análises genéticas demonstram a proximidade inegável do nosso isolado com a linhagem sul-africana, sendo que se agrupa com outras sequências deste mesmo tipo, mais precisamente isolados da variante sequenciados na Europa", disse.

Segundo ele, apesar da nova variante ter sido detectada em uma única amostra, "esse fato é preocupante por ela ter um comportamento muito parecido com o da P.1 (variante de Manaus), apresentando maior transmissibilidade e escape do sistema imune". Cientificamente, tanto a de Manaus como a nova cepa de Sorocaba são consideradas variantes de preocupação. "As duas podem agir de maneira muito semelhante por compartilharem três mutações que estão ligadas à maior transmissibilidade", disse.

Conforme o pesquisador, ainda é difícil estabelecer com precisão como a variante do vírus chegou a Sorocaba. A mulher de 34 anos que contraiu a variante não saiu da cidade, nem teve contato com estrangeiros. "Estamos trabalhando no rastreamento de outras pessoas que possivelmente tiveram contato com a paciente. A hipótese mais segura é que seja uma cepa importada, pois Sorocaba é uma área de indústrias com alto fluxo de pessoas, porém apenas com mais isolados poderemos confirmar um possível evento de convergência."

Alerta

De acordo com o cientista, é difícil assegurar que não há mais pessoas infectadas. "Comparado com países como o Reino Unido, o Brasil ainda faz sequenciamento em poucos genomas em relação aos casos identificados como positivos para Sars-Cov-2 no País.

Com o estabelecimento dessa rede de laboratórios e vigilância genômica em tempo real, coordenado pelo Instituto Butantan, conseguiremos mensurar a disseminação dessa variante no estado e como ela vem se comportando, pois assim como a P.1, ela se dissemina de forma mais rápida e isso gera um alerta."

Bezerra lembrou que um estudo realizado pela pesquisadora Penny Moore, do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis em Joanesburgo, África do Sul, e por colaboradores, verificou que as vacinas já existentes no mercado apresentam baixa efetividade contra essa mutação do vírus. "Isso, de fato, é preocupante, sendo necessária uma maior atenção sobre essa variante", alertou lembrando que o estudo ainda passará por revisão da comunidade científica.

Além da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, colaboraram no trabalho pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de KwaZulu-Natal (África do Sul) além da empresa Mendelics sediada em São Paulo.

Conforme a prefeitura de Sorocaba, a paciente que apresentou a variante mora na zona norte da cidade e teve sintomas da doença no dia 5 de março. A identificação da variante B.1.351 foi comunicada ao município no dia 31 daquele mês. Dois familiares da mulher - um filho e o marido - tiveram a covid-19 e estão sendo monitorados.

O Butantan já realiza o sequenciamento genômico em amostra do filho do casal, que teve os primeiros sintomas antes da mãe. A Vigilância Epidemiológica Municipal monitora todos os contatos dessa família e ampliou a investigação epidemiológica, encaminhando amostras positivas para o instituto, mas ainda aguarda o resultado.

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