Johnson & Johnson anuncia que dose única de sua vacina tem despertado produção de anticorpos em pacientes (Budrul Chukrut/Reuters)
Marcelo Sakate
Publicado em 26 de setembro de 2020 às 13h39.
Última atualização em 26 de setembro de 2020 às 14h05.
A vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela farmacêutica americana Johnson & Johnson apresentou resultados encorajadores nas fases iniciais e intermediárias de testes para a sua aprovação, de acordo com informações divulgadas na sexta-feira, 25. Uma única dose da vacina estimulou o sistema imunológico de 98% dos pacientes a produzir uma forte resposta ao vírus.
Os resultados foram divulgados em um site especializado com a ressalva de que ainda não foram revisados por pares científicos.
Os chamados anticorpos neutralizantes, que são capazes de defender as células de patógenos, foram encontrados em 98% dos cerca de 1.000 adultos saudáveis que tomaram a vacina. Uma dúvida em aberto é saber se a dose protege da mesma forma pessoas com mais de 65 anos, uma vez que os dados relativos a esse grupo foram insuficientes.
Os pacientes tiveram igualmente uma reação positiva à aplicação de duas doses. Outras empresas que também estão na corrida pelo desenvolvimento de uma vacina para a Covid-19, como a Moderna e a Pfizer, trabalham com a aplicação em duas doses separadas por um intervalo de tempo. Dispor de uma vacina eficaz em uma dose pode aumentar significativamente o alcance de campanhas de vacinação.
Na última quarta-feira, 23, a Johnson & Johnson iniciou a terceira e última fase de testes de sua vacina para a Covid-19 com cerca de 60 mil pacientes.
A empresa aguarda os resultados do teste de estágio avançado até o fim deste ano ou o início do próximo, disse o doutor Paul Stoffels, o diretor científico da J&J, em entrevista com autoridades do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e do governo de Donald Trump.
Ainda na quarta-feira, a J&J publicou um protocolo de estudo detalhado de seu teste de estágio avançado em seu site, seguindo o exemplo dos três outros fabricantes de vacina que divulgaram planos de estudo nas últimas semanas. É uma reação a clamores da sociedade por mais transparência nos testes.
Stoffels disse que a J&J começou o teste de estágio avançado depois de resultados positivos em seus testes de estágios inicial e intermediário nos EUA e na Bélgica, justamente os que acabaram de ser divulgados.
Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.
Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.
Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional a quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.
As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.
Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.
Alguns tipos de vacinas têm sido testados para a luta contra o vírus. Uma delas é a de vírus inativado, que consiste em uma fabricação menos forte em termos de resposta imunológica, uma vez que nosso sistema imune responde melhor ao vírus ativo. Por isso, vacinas do tipo tem um tempo de duração um pouco menor do que o restante e, geralmente, uma pessoa que recebe essa proteção precisa de outras doses para se tornar realmente imune às doenças. É o caso da Vacina Tríplice (DPT), contra difteria, coqueluche e tétano. A vacina da Sinovac, por exemplo, segue esse padrão.
Outro tipo de vacina é a de Oxford, feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios) e contendo espículas do novo coronavírus.
As outras vacinas em fases clínicas já avançadas também são baseadas em espículas, mas apresentadas em forma de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna.
Sinovac Biotech: a vacina chinesa que começou os testes em fase 3 no Brasil na última segunda-feira, 20, pretende fabricar até 100 milhões de doses anuais. Por aqui, 9 mil profissionais da área da saúde receberão a vacina.
Sinopharm (Wuhan e Pequim): a vacina com base em vírus inativado, que se mostrou capaz de produzir resposta imune ao vírus, começou as fases 3 de testes neste mês nos Emirados Árabes Unidos. Cerca de 15 mil voluntários participaram do período de testes e a empresa chinesa acredita que a opção estará disponível para o público já no final do ano.
Oxford e AstraZeneca: os resultados preliminares das fases 1 e 2 da vacina com mais de mil pessoas mostraram que ela foi capaz de induzir uma resposta imune à doença. As fases dois (que ainda está ocorrendo no Reino Unido) e três de testes (acontecendo no Reino Unido, Brasil e África do Sul) devem garantir a eficácia completa dela. A opção é tida como a mais promissora pela OMS.
Moderna: a empresa americana iniciou última fase de testes de sua vacina baseada no RNA mensageiro no dia 27 de julho. O teste vai incluir 30 mil pessoas nos Estados Unidos e o governo investiu pesado: cerca de 1 bilhão de dólares para apoiar a pesquisa. A expectativa da empresa é produzir 500 milhões de doses por ano.
Pfizer e BioNTech: a vacina agora também está na fase três de testes e também usa o RNA mensageiro, que tem como objetivo produzir as proteínas antivirais no corpo do indivíduo. A expectativa é testar a vacina em aproximadamente 30.000 voluntários com idades entre 18 e 85 anos no mundo. Desse total, 1.000 serão testados no Brasil. Se tudo der certo, a expectativa é que a eficácia da vacina seja comprovada até o outubro. A empresa espera produzir até 100 milhões de doses até o fim do ano. Outras 1,3 bilhão de doses podem ser fabricadas no ano que vem.
Instituto Gamaleya: em 11 de agosto a Rússia registrou a primeira vacina do mundo contra a covid-19. A vacina russa é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus e é por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima. Na última segunda-feira, 31, o país anunciou que o primeiro lote de sua vacina, a “Sputnik V”, estará disponível já neste mês.
CanSino: a vacina chinesa usa um vírus inofensivo do resfriado conhecido como adenovírus de tipo 5 (Ad5) para transportar material genético do coronavírus para o corpo e, segundo a companhia, conseguiu induzir uma resposta imune nos indivíduos que foram testados. No começo de agosto, a China concedeu a primeira patente da vacina.
Janssen Pharmaceutical Companies: a vacina, em parceria com a gigante Johnson & Johnson conseguiu induzir imunidade robusta em testes pré-clínicos. A tecnologia usada para a produção dela é a mesma utilizada no desenvolvimento da vacina do Ebola, que inclui o uso do vírus inativado da gripe comum, incapaz de ser replicado.