Ciência

Vacina chinesa estará pronta para uso em novembro, dizem cientistas

Das 9 vacinas potenciais em última fase de testes segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), três são chinesas

Vacina: uma das vacinas da China é testada no Brasil (Agence France-Presse/AFP)

Vacina: uma das vacinas da China é testada no Brasil (Agence France-Presse/AFP)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 15 de setembro de 2020 às 08h01.

Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 09h52.

Os chineses podem ter acesso a uma vacina contra o novo coronavírus desenvolvida no país já em novembro ou dezembro. Isso porque os testes de várias vacinas em potencial têm demonstrado bons resultados e a preparação para escalar a produção delas já está sendo feita. A informação foi dada por um dos cientistas chefe do Chinese Centre for Disease Control and Prevention (CDC).

Segundo Wu Guizhen, chefe da área de biossegurança, ele mesmo participou do grupo experimental de uma vacina e tomou uma dose em abril. "Tenho me sentido bem nos últimos meses, nada de anormal, o processo de inoculação não causou dor localizada", afirmou ele na noite desta segunda-feira, 14, em uma emissora de TV da China.

De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), do dia 9 de setembro, 180 vacinas estão sendo desenvolvidas atualmente, sendo que 35 estão em fases de testes. Dessas, 9 estão na última fase de testes, entre elas a chinesa Sinovac, que está sendo testada no Brasil, a do instituto CanSino, a russa do Instituto Gamaleya, a americana Moderna e a britânica de Oxford. Das 9, três são chinesas. Guizhen se diz "otimista" em relação à eficácia e à segurança das candidatas. "Nós esperamos que elas sejam eficazes de um a três anos, mas os resultados serão observados por mais tempo", disse ele.

A afirmação de Wu de que uma vacina deve ser distribuída no país até o final do ano aconteceu pouco depois da OMS fazer um aviso de que provavelmente novas infecções devem acontecer em outubro e novembro. Segundo o presidente chinês, Xi Jinping, todas as vacinas desenvolvidas na China serão de benefício global e disponível para todas as nações.

A corrida pela cura

Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.

Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.

Os tipos de vacina disponíveis

Alguns tipos de vacinas têm sido testados para a luta contra o vírus. Uma delas é a de vírus inativado, que consiste em uma fabricação menos forte em termos de resposta imunológica, uma vez que nosso sistema imune responde melhor ao vírus ativo. Por isso, vacinas do tipo tem um tempo de duração um pouco menor do que o restante e, geralmente, uma pessoa que recebe essa proteção precisa de outras doses para se tornar realmente imune às doenças. É o caso da Vacina Tríplice (DPT), contra difteria, coqueluche e tétano. A vacina da Sinovac, por exemplo, segue esse padrão.

Outro tipo de vacina é a de Oxford, feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios), e contendo espículas do novo coronavírus.

As outras vacinas em fases clínicas já avançadas também são baseadas em espículas, mas apresentadas em forma de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna.

Como estão as 9 potenciais?

Sinovac Biotech: a vacina chinesa que começou os testes em fase 3 no Brasil na última segunda-feira, 20, pretende fabricar até 100 milhões de doses anuais. Por aqui, 9 mil profissionais da área da saúde receberão a vacina.

Sinopharm (Wuhan e Pequim): a vacina com base em vírus inativado, que se mostrou capaz de produzir resposta imune ao vírus, começou as fases 3 de testes neste mês nos Emirados Árabes Unidos. Cerca de 15 mil voluntários participaram do período de testes e a empresa chinesa acredita que a opção estará disponível para o público já no final do ano.

Oxford e AstraZeneca: os resultados preliminares das fases 1 e 2 da vacina com mais de mil pessoas mostraram que ela foi capaz de induzir uma resposta imune à doença. As fases dois (que ainda está ocorrendo no Reino Unido) e três de testes (acontecendo no Reino Unido, Brasil e África do Sul) devem garantir a eficácia completa dela. A opção é tida como a mais promissora pela OMS.

Moderna: a empresa americana iniciou última fase de testes de sua vacina baseada no RNA mensageiro no dia 27 de julho. O teste vai incluir 30 mil pessoas nos Estados Unidos e o governo investiu pesado: cerca de 1 bilhão de dólares para apoiar a pesquisa. A expectativa da empresa é produzir 500 milhões de doses por ano.

Pfizer e BioNTech: a vacina agora também está na fase três de testes e também usa o RNA mensageiro, que tem como objetivo produzir as proteínas antivirais no corpo do indivíduo. A expectativa é testar a vacina em aproximadamente 30.000 voluntários com idades entre 18 e 85 anos no mundo. Desse total, 1.000 serão testados no Brasil. Se tudo der certo, a expectativa é que a eficácia da vacina seja comprovada até o outubro. A empresa espera produzir até 100 milhões de doses até o fim do ano. Outras 1,3 bilhão de doses podem ser fabricadas no ano que vem.

Instituto Gamaleya: em 11 de agosto a Rússia registrou a primeira vacina do mundo contra a covid-19. A vacina russa é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus e é por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima. Na última segunda-feira, 31, o país anunciou que o primeiro lote de sua vacina, a “Sputnik V”, estará disponível já neste mês.

CanSino: a vacina chinesa usa um vírus inofensivo do resfriado conhecido como adenovírus de tipo 5 (Ad5) para transportar material genético do coronavírus para o corpo e, segundo a companhia, conseguiu induzir uma resposta imune nos indivíduos que foram testados. No começo de agosto, a China concedeu a primeira patente da vacina.

Janssen Pharmaceutical Companies: a vacina, em parceria com a gigante Johnson&Johnson, será "produzida em larga escala", segundo as empresas, e conseguiu induzir imunidade robusta em testes pré-clínicos. O plano da Janssen é produzir até 1 bilhão de doses que serão distribuídas mundialmente em 2021, após a aprovação. A tecnologia usada para a produção dela é a mesma utilizada no desenvolvimento da vacina da Ebola, que inclui o uso do vírus inativado da gripe comum, incapaz de ser replicado.

Quais são as fases de uma vacina?

Para uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz, sim, imunidade contra um vírus, já a fase 3 é a última fase do estudo e tenta demonstrar a eficácia da droga.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população.

Com isso, as medidas de proteção, como o uso de máscaras, e o distanciamento social ainda precisam ser mantidas. A verdadeira comemoração sobre a criação de uma vacina deve ficar para o futuro, quando soubermos que a imunidade protetora realmente é desenvolvida após a aplicação de uma vacina. Até o momento, nenhuma situação do tipo aconteceu.

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