Manter horários regulares de sono pode reduzir riscos cardiovasculares, aponta pesquisa. (stefanamer/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 08h54.
Dormir e acordar em horários diferentes diariamente pode aumentar o risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC), mesmo entre aqueles que cumprem a recomendação de sete a nove horas de sono por noite. Essa foi a principal conclusão de um estudo publicado no Journal of Epidemiology & Community Health.
Os pesquisadores acompanharam 72.269 participantes, com idades entre 40 e 79 anos, que nunca haviam sofrido eventos cardiovasculares graves. Durante sete dias, foi monitorada a regularidade do sono dos participantes, calculada por meio de um índice chamado Sleep Regularity Index (SRI), onde pontuações mais altas indicavam maior regularidade.
Após oito anos de acompanhamento, os cientistas observaram que indivíduos com sono irregular tinham 26% mais chances de sofrer eventos cardiovasculares graves, como infarto, insuficiência cardíaca ou AVC, em comparação aos participantes com sono mais regular. Essa relação foi observada mesmo após ajustes para fatores como idade, atividade física, consumo de álcool e tabagismo.
Embora o estudo seja observacional e não possa confirmar causalidade, os resultados sugerem que a regularidade do sono pode ser mais relevante para a saúde cardiovascular do que apenas o tempo de sono, destacou Jean Pierre Chaput, autor principal do estudo e professor da Universidade de Ottawa, Canadá.
O estudo revelou que pessoas com maior regularidade no sono têm mais probabilidade de alcançar as horas recomendadas de sono por noite. Entre os participantes com SRI alto, 61% atingiram essa meta, comparados a 48% dos que tinham sono irregular. Ainda assim, mesmo os que dormiam as horas recomendadas, mas de forma irregular, apresentaram maior risco cardiovascular.
Chaput enfatizou a importância de respeitar o ritmo circadiano, recomendando manter horários de sono e vigília com variações de, no máximo, 30 a 60 minutos. “Pequenas variações são aceitáveis, mas padrões consistentes melhoram a qualidade do sono, o humor, a função cognitiva e reduzem o risco de doenças como diabetes e doenças cardíacas”, explicou.
Dormir mais nos fins de semana para compensar noites mal dormidas durante a semana pode não ser suficiente, alertou Chaput. Apesar de melhorar o humor temporariamente, padrões de sono irregulares afetam negativamente o ritmo circadiano e podem contribuir para doenças crônicas, como obesidade e hipertensão.
Além disso, especialistas externos ao estudo, como Naveed Sattar, da Universidade de Glasgow, alertaram sobre a necessidade de cautela na interpretação dos resultados. Outros fatores, como consumo de álcool ou estilo de vida, podem ter influência nos desfechos de saúde observados.
O estudo reforça a relevância do sono como um componente essencial do bem-estar, destacando a necessidade de políticas de saúde pública que promovam a regularidade do sono.