Ciência

Seria a hora de abandonar as máscaras? Os indicadores mostram que não

O parecer ordenado pelo presidente Bolsonaro desobrigando o uso do protetor facial veio muito cedo

Ao deixar de usar máscara após ser vacinado pode haver o que se chama de "infecções invasivas", o que significa que uma pessoa pode se infectar mesmo depois de ser vacinada. Trata-se de uma ocorrência rara (Amanda Perobelli/Reuters)

Ao deixar de usar máscara após ser vacinado pode haver o que se chama de "infecções invasivas", o que significa que uma pessoa pode se infectar mesmo depois de ser vacinada. Trata-se de uma ocorrência rara (Amanda Perobelli/Reuters)

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 10, que logo será publicado um parecer que desobriga o uso de máscaras àqueles que já estiverem vacinados ou ainda a quem já tiver contraído a covid-19. Entre outras questões, o mandatário parece acreditar que o andamento do Programa Nacional de Imunização (PNI), que vacinou somente 11% da população com duas doses, está em paridade com as únicas duas nações populosas que já deixaram de usar os protetores faciais Estados Unidos e Israel e que já registram acima de 50% de vacinados.

No entanto, o relaxamento está muito longe de ser o próximo passo das políticas de saúde de muitos países desenvolvidos com ritmo de vacinação comparável ao do Brasil. A Alemanha, com 24% de vacinados, reforçou a exigência de máscaras no final de abril, por exemplo. O país estava enfrentando uma desaceleração nas taxas de vacinação e um aumento nos casos. A Espanha, que já imunizou 23% dos seus, também expandiu a propaganda de estímulo ao uso de máscaras no final de março para garantir que contaminações localizadas não surgissem novamente. No Chile, próximo de 50% de vacinados com uma dose, revogar a recomendação do protetor não entrou no radar.

E, até o momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos continuam recomendando o uso de máscara em ambientes fechados e em regiões em que se sabe da existência de surtos mesmo para vacinados.

No caso brasileiro, que ainda registra um número elevado de mortes diárias por covid-19, a notícia e o ordenamento podem criar confusão. A regra atual é usar uma máscara em uma ação que visa a proteção de todos, qualquer que seja o status de imunização. Quando se tornar flexível, cabe à população realizar um cálculo complicado de avaliação de risco diariamente, senão de hora em hora, sobre quando se proteger. É ainda mais complicado quando se leva em conta que pelos estados e cidades do país existem diferentes níveis de população vacinada e com anticorpos.

Se a medida permissiva for levada a cabo, é preciso considerar o que afirmam os estudo mais recentes sobre as possibilidades de contaminação em diferentes casos. Confira algumas respostas abaixo:

Quem já pegou covid-19 está protegido?

É provável que sim. A imunidade natural é durável. Pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, publicaram um estudo em maio afirmando que, 11 meses após uma infecção leve, as células do sistema imunológico ainda eram capazes de produzir anticorpos. Assim, os autores concluíram que a infecção anterior por covid induz uma “resposta imune robusta” e “de longa duração”, levando alguns cientistas a sugerir que a imunidade natural é provavelmente vitalícia.

Quem já se infectou deve ser vacinado?

Sim. Ainda que a imunidade natural aparente ser durável, a vacina pode aumentar e garantir a proteção em níveis mais altos e contra variantes. Um estudo da Mount Sinai School of Medicine de Nova York concluiu que "a resposta do anticorpo à primeira dose da vacina em indivíduos com imunidade pré-existente é igual ou até mesmo excede os valores encontrados em indivíduos nunca infectados, mas protegidos com uma segunda dose"

Reinfecção é um risco?

Quando vacinado não, mas segundo a plataforma Covid-19 Reinfection Tracker, da agência de notícias holandesa BNO News, há 94 casos confirmados no mundo, três resultantes em morte e a maioria deles de casos por imunização natural. Pelos números, esses episódios parecem ser raríssimos. Mas certamente há uma subnotificação, explicada parcialmente pela dificuldade de confirmar com 100% de certeza uma reinfecção. Ainda é preciso considerar as variantes que podem sim driblar os anticorpos. Um estudo brasileiro preliminar, estimou que a variante P1, descoberta pela primeira vez em Manaus, seria capaz de infectar de 25% a 61% dos que já sofreram com a doença.

Quem está mais seguro para abandonar a máscara?

As estimativas apontam que pessoas que vivem em populações com índices de vacinação acima de 70% estão próximos da imunidade de rebanho e por isso seria mais difícil contrair a doença. Contudo, não existe um país com esse nível de vacinados e tais hipóteses ainda não foram estudadas em grande escala. A recomendação é que, mesmo após a vacina, máscaras de nível de proteção pff2 continuem nos rostos daqueles que estiverem em ambientes confinados e de aglomeração.

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