Ciência

Respirar ar poluído aumenta risco de depressão, aponta estudo

A associação entre poluição e depressão poderia ser explicada pela relação observada entre altas concentrações de poluentes e inflamações cerebrais, segundo os dois estudos

Poluição e Depressão: O risco observado é não linear, ou seja, cresce fortemente acima de um nível de concentração relativamente baixo e tende a estagnar depois (Chris Conway/Getty Images)

Poluição e Depressão: O risco observado é não linear, ou seja, cresce fortemente acima de um nível de concentração relativamente baixo e tende a estagnar depois (Chris Conway/Getty Images)

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AFP

Publicado em 11 de fevereiro de 2023 às 11h03.

Respirar ar poluído por um longo período aumenta o risco de depressão, apontam dois novos estudos, que se somam às evidências crescentes de um efeito prejudicial da poluição na saúde mental.
A primeira pesquisa, publicada na semana passada na revista Jama Psychiatry, acompanhou cerca de 390.000 pessoas por 11 anos no Reino Unido. Os níveis de poluição a que foram expostas foram estimados segundo a localização de seu domicílio.

Os pesquisadores estudaram as taxas de partículas finas (PM2,5 e PM10), dióxido de nitrogênio (NO2) e óxido nítrico (NO), poluição causada em parte por centrais de combustíveis fósseis e pelo tráfego de veículos. “A exposição a longo prazo a múltiplos contaminantes foi associada a um risco maior de depressão e ansiedade", concluíram os cientistas.

O risco observado é não linear, ou seja, cresce fortemente acima de um nível de concentração relativamente baixo e tende a estagnar depois. “Sabendo que as normas de qualidade do ar de muitos países ainda excedem amplamente as recomendações mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021, deveriam ser estabelecidas normas ou regulações de poluição mais estritas”, destacaram os autores do estudo.

O segundo estudo, publicado nesta sexta-feira na Jama Network Open, concentrou-se no efeito de partículas finas (PM2,5), dióxido de nitrogênio (NO2) e ozônio (O3) em pessoas com mais de 64 anos. O objetivo era estudar as consequências da poluição atmosférica no desenvolvimento de uma depressão tardia.

Esses trabalhos usaram uma base de dados do Medicare, seguro de saúde pública reservado aos idosos nos Estados Unidos, e estudaram uma população de 8,9 milhões de pessoas, das quais 1,5 milhão sofrem de depressão.

“Observamos associações nocivas estatisticamente significativas entre a exposição a longo prazo a níveis elevados de poluição atmosférica e o aumento do risco de diagnóstico de depressão no fim da vida”, apontaram os pesquisadores. “Indivíduos desfavorecidos socioeconomicamente apresentaram um risco muito maior de depressão na velhice neste estudo”, ressaltaram. “Eles estão expostos tanto ao estresse social quanto às más condições ambientais, incluindo a poluição atmosférica.”

A associação entre poluição e depressão poderia ser explicada pela relação observada entre altas concentrações de poluentes e inflamações cerebrais, segundo os dois estudos. Esses trabalhos "se somam aos elementos cada vez mais numerosos que mostram que deveríamos nos preocupar com os efeitos da poluição na saúde mental", observou Oliver Robinson, professor de neurociências e saúde mental da University College London, que não participou das pesquisas.

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