Borracha parcialmente feita com pele de tomate e casca de ovo. (Kenneth Chamberlain / Ohio State University/Divulgação)
Vanessa Barbosa
Publicado em 3 de abril de 2017 às 15h37.
Última atualização em 5 de abril de 2017 às 09h51.
São Paulo - Você já leu por aqui sobre o uso de resíduo de abacaxi para produzir "couro" mais sustentável, sobre empreendedores que sabem tirar riqueza do lixo e materiais biossintéticos que podem mudar o mundo em breve.
Na esteira da busca por materiais mais naturais e do combate ao desperdício, pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, descobriram uma maneira de fazer pneus de carro a partir de resíduos de pele de tomate e casca de ovo.
Essa mistura incomum de ingredientes pode substituir o uso de negro de fumo (ou fuligem), material produzido pela combustão incompleta de derivados de petróleo e utilizado como um reforço de enchimento em pneus de automóveis e outros artigos de borracha.
Fornecido como um pó bem fino, o negro de fumo é responsável por cerca de 30 por cento de um pneu e também pela sua cor preta característica. Nos últimos anos, devido ao aumento da demanda da indústria de pneus e ao fato do custo desse material flutuar com o custo do petróleo, pesquisadores vêm buscando novas fontes de borracha natural e enchimento.
Segundo a Dra. Katrina Cornish, pesquisadora sênior da Universidade Estadual de Ohio, a tecnologia tem o potencial para resolver três problemas: torna a fabricação de produtos de borracha mais sustentável, reduz a dependência do petróleo estrangeiro, no caso dos EUA, e ajuda a reduzir o envio de resíduos aos aterros sanitários.
Os americanos consomem 13 milhões de toneladas de tomates, a maioria deles enlatados ou processados de outra forma, e 100 bilhões de ovos por ano.
As usinas de processamento de tomate geram pilhas de peles descartadas, que são muito úteis para a pesquisa da Universidade, especialmente porque os tomates comerciais possuem peles mais grossas.
Enquanto isso, a indústria de alimentos comerciais usa metade dos ovos produzidos no país, o que significa que há uma oferta estável a todo tempo. Não é à toa que são as fábricas de alimentos de Ohio que fornecem esses resíduos para a pesquisa do pneu mais ecológico.
Cindy Barrera, pesquisadora no laboratório de Cornish, descobriu em testes que as cascas de ovos possuem microestruturas porosas que fornecem maior área de superfície para contato com a borracha. As cascas de tomate, por sua vez, são altamente estáveis a altas temperaturas e também podem ser usadas para gerar material com bom desempenho.
"Descobrimos que a substituição de diferentes quantidades de negro de fumo por cascas de ovo moídas e cascas de tomate causa efeitos sinérgicos, permitindo, por exemplo, que a borracha continue forte e mantenha a flexibilidade", diz.
De acordo com as cientistas, em testes, a borracha feita com os novos ingredientes excede os padrões industriais de desempenho, o que pode, em última instância, abrir novas aplicações para a borracha.
A principal diferença em relação à borracha convencional é a cor. Dependendo da quantidade de casca de ovo ou tomate usada, o o novo pneu pode ter tom mais castanho avermelhado, ao invés de preto.
As cientistas, agora, estão testando combinações diferentes e procurando formas de adicionar cor aos materiais. A universidade licenciou a tecnologia, ainda pendente de patente, para a empresa da doutora Cornish, EnergyEne, para desenvolvimento dos próximos passos.