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Perseverance completa um ano de busca por sinais de vida em Marte

Em 18 de fevereiro de 2021, o rover da Nasa pousou em Marte após uma viagem de sete meses

Selfie do rover Perseverance com o helicóptero Ingenuity em solo marciano (Nasa/Reprodução)
AL

André Lopes

Publicado em 19 de fevereiro de 2022 às 09h00.

O rover Perseverance, o veículo de exploração mais complexo jamais enviado a Marte, completou com sucesso o primeiro ano de sua longa missão de buscar vestígios de vida passada no planeta vermelho, mantendo os cientistas de todo o mundo em suspense.

Em 18 de fevereiro de 2021, o rover da Nasa pousou em Marte após uma viagem de sete meses. O mundo inteiro prendeu a respiração enquanto o equipamento descia pela fina atmosfera marciana. Sete longos minutos de "terror" terminaram em um imenso alívio, quando o veículo chegou a salvo a um antigo lago, a cratera Jezero.

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Em seguida, foram três meses de exploração de uma área bastante hostil.

"O solo marciano é um terreno perigoso, cheio de rochas e grandes dunas", descreveu à AFP Pernelle Bernardi, engenheira do Centro Nacional para a Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês) responsável pelo instrumento franco-americano SuperCam, o "olho" do Perseverance.

Em seus primeiros dias, o equipamento foi capaz de gravar sons e transmiti-los aos habitantes da Terra.

"Foi uma das grandes descobertas do ano. Ninguém tinha ouvido Marte 'falar' antes!", lembra Sylvestre Maurice, codiretor científico da SuperCam e astrofísico na Universidade de Toulouse.

Em conjunto com cientistas norte-americanos, Maurice também se encarrega do robô Curiosity, que explora o planeta vermelho a milhares de quilômetros de distância do Perseverance, na cratera Gale.

'Um novo mundo'

"Estamos viciados, descobrindo um novo mundo, um pouco como os exploradores do século XV", explica.

Todos os dias, o especialista revisa com sua equipe as últimas informações detectadas pelo veículo.

"Em 12 meses, coletamos uma infinidade de dados sobre mineralogia, atmosfera e meteorologia, e dezenas de milhares de imagens", afirma.

Além disso, a data do primeiro aniversário da missão coincide com a do milionésimo disparo de laser em Marte, uma tecnologia desenhada para detectar a composição química das rochas: cerca de 885.000 destes disparos foram realizados pelo Curiosity e os outros 125.000 pelo Perseverance.

O mais difícil, no entanto, é pilotar o veículo, uma missão compartilhada alternativamente e conjuntamente a cada duas semanas entre o Cnes (a agência espacial francesa), em Toulouse, e o Laboratório Nacional de Los Álamos (LANL, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

Diariamente, entre 100 e 200 pessoas são responsáveis por movimentar o equipamento. "Quando uma equipe quer dirigir, a equipe da bateria vai dizer 'espere, estamos sem energia, precisamos recarregar'", exemplifica o cientista.

"Pode ser frustrante, mas na maioria das vezes é consensual... os americanos têm uma verdadeira cultura de comprometimento", garante Nicolas Mangold, pesquisador do CNRS responsável pela SuperCam. Para ele, o mais difícil este ano foi a impossibilidade se se reunir fisicamente devido à pandemia.

Até o momento, o Perseverance percorreu quatro quilômetros, incluindo um recorde de 500 metros no último fim de semana.

Mas ninguém precisa ter pressa: o objetivo da missão é recolher 40 amostras bem escolhidas ao longo de seis anos, que deverão se trazidas à Terra em outra missão, programada para a década de 2030.

"É preciso ter paciência, o Perseverance é como uma tartaruga, mas muito inteligente", afirma Jim Bell, professor de astronomia na Universidade do Arizona, o principal encarregado do instrumento Mastcam-Z.

Rumo ao delta

O rover já recolheu sete amostras, mas uma delas falhou, pois estava vazia. "É uma curva de aprendizagem lenta, porém, dadas as limitações, sou o cientista mais feliz", diz o astrofísico americano.

Bell lembra o histórico voo do helicóptero Ingenuity, o explorador do rover, especialmente quando, no segundo semestre de 2021, o Perseverance revelou que o local de aterrissagem tinha sido escolhido muito bem.

"Apenas tínhamos imagens a partir da órbita, que sugeriam se tratar de um ambiente lacustre. Contudo, quando vimos mais de perto, em imagens da superfície, percebemos efetivamente que estávamos em um antigo lago, alimentado por um rio em delta, como o Mississippi [EUA] ou o Mekong [Vietnã]... Foi uma reviravolta total", explica.

Após os primeiros passos no fundo da cratera, o Perseverance se dirigirá rumo ao delta, situado a cerca de dois quilômetros, mas separado por uma duna. "Estamos muito ansiosos!", diz Jim Bell

É precisamente este ambiente com um passado fértil, onde foram acumulados elementos minerais, o mais favorável para o desenvolvimento de vida microbiana.

"Os depósitos dos rios são os que mais provavelmente registraram vestígios" desses organismos primitivos, se é que alguma vez eles existiram em Marte, conclui Nicolas Mangold.

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