Buraco negro mais próximo da Terra (ESO/Divulgação)
Encontrar o singular é um dos trabalhos de quem faz observações astronômicas. Na infinidade do universo, o acaso comumente cria o raro, ainda que seja difícil olhar para ele. Mas foi se guiando neste sentido que, pela primeira vez na história, astrônomos que observavam ondas gravitacionais concluíram que coletaram dados que narram a cena de uma colisão entre dois dos objetos colossais: um buraco negro e uma estrela de nêutrons.
Estes corpos celestes por si só já são extremamente difíceis de serem estudados. Considere que buracos negros são o resultado da "morte" de estrelas com massas muito superiores à do Sol, são densos e 'invisíveis'. Já as estrelas de nêutrons são como sobras das explosões de estrelas bastante massivas, mas ainda assim sem massa suficiente para se tornar buracos negros. Uma interação assim é como ver a dança cósmica de seres mitológicos.
Os estudo foram publicados na revista The Astrophysical Journal Letters nesta terça-feira, 29, e mostram as deformações no tecido do espaço-tempo que foram registradas pelos observatórios Ligo (EUA), Virgo (Itália) e Kagra (Japão) e remetem há longínquos 1 bilhão de anos, segundo foi relatado pelos pesquisadores.
No primeiro registro, detectado em 5 de janeiro de 2020, foi possível aferir que a emissão ocorreu há 900 milhões de anos, quando um buraco negro com massa quase nove vezes superior à do Sol devorou uma pequena estrela de nêutrons com massa quase duas vezes maior que a do Sol.
Já o segundo, de 15 de janeiro de 2020, narra o processo de colisão de um buraco negro com uma estrela de nêutrons a 1 bilhão de anos-luz da Terra. Esses dois corpos tinham massas 5,7 e 1,5 vezes superiores à do nosso Sol, respectivamente.
Previstas na Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, as ondas gravitacionais são ondulações no tecido do espaço-tempo provocadas por eventos cósmicos violentos envolvendo corpos superdensos. Sua existência foi comprovada em 2015, com a detecção de ondas provocadas pela fusão entre dois buracos negros, graças à evolução da tecnologia nos observatórios criados para captar esse tipo de fenômeno.
Até então, no entanto, não havia sido possível captar sinais referentes a colisões entre buracos negros e estrelas de nêutrons. A descoberta de hoje da sinais de que o raro pode se tornar um pouco mais comum.
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