“Se queremos realmente uma sociedade democrática, é preciso que todos entendam a ciência”, disse Calvo Hernando (Divulgação/Manuel Calvo Hernando)
Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2012 às 15h59.
São Paulo – O jornalista espanhol Manuel Calvo Hernando, conhecido pelo trabalho pioneiro com divulgação científica, morreu aos 88 anos no dia 16 de agosto, em Madri.
Dedicou-se ao jornalismo científico desde a década de 1950. Foi um dos fundadores da Associação Ibero-Americana de Jornalismo Científico, em 1969, da qual foi secretário-geral, e da Asociación Española de Periodismo Científico, em 1971, da qual foi presidente de honra – a entidade é atualmente conhecida como Asociación Española de Comunicación Científica.
Nascido em Fresnedillas de la Oliva, nos arredores de Madri, Calvo Hernando começou sua carreira como redator do jornal Ya, no qual chegou a redator-chefe e subdiretor. Foi o responsável pela comunicação no Instituto de Cultura Hispánica. Em 1999, aos 75 anos, doutorou-se em Jornalismo Científico.
Autor de mais de 30 livros e centenas de artigos sobre jornalismo científico, foi vice-presidente da Asociación de la Prensa de Madrid e professor na Universidad CEU San Pablo, em Madri. Em 2008, foi homenageado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha pelo trabalho com a divulgação da ciência.
“Se queremos realmente uma sociedade democrática, é preciso que todos entendam a ciência”, disse Calvo Hernando em entrevista à revista Ciência e Cultura em 2005.
A respeito da formação dos jornalistas científicos, disse: “Como os campos científicos são muito específicos, não me parece adequado que os jornalistas sejam formados em cursos de ciência. Mas os jornalistas deveriam fazer uma disciplina de história da ciência e metodologia científica e, depois, fazer como fiz: escolher quatro ou cinco disciplinas – como física, latim, filosofia ou matemática – que, mais tarde, possam servir de base para todo o resto. A partir do momento em que os comunicadores entenderem e souberem o que é a ciência e o método científico, poderão se especializar na área de seu interesse”.
Repercussão no Brasil
“A morte de Manuel Calvo Hernando representa uma lacuna significativa no campo da divulgação científica, pelo papel de incentivador e animador que ele vinha exercendo, desde 1955, quando se destaca como jornalista devotado à cobertura da ciência e da tecnologia”, disse José Marques de Melo, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e diretor da Cátedra Unesco de Comunicação na USP, à Agência FAPESP.
“Tive o privilégio de ser um dos seus alunos de pós-graduação, no curso que frequentei em 1965, no Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para América Latina, sediado pela Universidade Central do Equador. Suas lições foram basilares para a aprendizagem e o exercício crítico do jornalismo científico”, disse.
“Convidei-o a conhecer o Brasil, quando o visitei em Madri, em 1970, ocasião em que manifestou o seu respeito e admiração por José Reis. Nesse mesmo ano veio a São Paulo e, na Escola de Comunicações Culturais da USP, ministrou um curso pioneiro sobre Jornalismo Científico, frequentado pela vanguarda desse setor em nosso país. Retornou em várias outras ocasiões, sempre entusiasmado com a formação das novas gerações”, disse Marques de Melo.
“Foi por inspiração de Calvo Hernando que se fundou, em 1977, a Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), reunindo profissionais e acadêmicos, bem como ajudando a integrá-la na comunidade internacional. Seus livros sobre jornalismo científico constituem fontes indispensáveis aos jovens que se iniciam nesse ambiente”, disse.
O médico e jornalista Julio Abramczyk, também importante divulgador da ciência, é outro que conheceu bem Calvo Hernando. "Para ele não era suficiente usar adequadamente o idioma na divulgação científica. Era necessário empregar também uma linguagem jornalística, isto é, clara, breve, concisa e simples”, disse o colunista de a Folha de S.Paulo.
“Calvo Hernando se destacou por incentivar em vários países da América Latina, por meio de quase uma centena de cursos e palestras, o desenvolvimento e a criação de associações de jornalismo científico”, disse Abramczyk.
“Graças ao seu empenho, São Paulo foi a sede, em 1982, do 4º Congresso Ibero-Americano de Jornalismo Científico, realizado concomitantemente com o 1º Congresso da ABJC, cuja repercussão resultou, na década de 1980, na criação de editorias de Ciência e Tecnologia nos principais jornais do país”, destacou.