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Incêndios no Ártico podem liberar enormes quantidades de CO2, diz estudo

Em apenas dois anos, os incêndios nesta zona remota do mundo destruíram uma superfície equivalente a quase metade do que foi queimado nos 40 anos anteriores

Esses incêndios recentes despejaram cerca de 150 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, estimam os cientistas (AFP/AFP)
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AFP

Publicado em 4 de novembro de 2022 às 16h29.

O aquecimento global é responsável por incêndios cada vez maiores na Sibéria, o que ameaça liberar nas próximas décadas enormes quantidades de gás carbônico, até então preso no solo — alerta um relatório científico publicado na revista Science.

Os pesquisadores temem que um limite seja ultrapassado em breve. Se isso acontecer, pequenas mudanças de temperatura podem provocar um aumento exponencial dos incêndios nesta região, indica o estudo publicado na quinta-feira, 3.

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Em apenas dois anos — 2019 e 2020 —, os incêndios nesta zona remota do mundo destruíram uma superfície equivalente a quase metade do que foi queimado nos 40 anos anteriores, relata.

Esses incêndios recentes despejaram cerca de 150 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, estimam os cientistas, contribuindo, assim, para o aquecimento global no que é chamado de ciclo de retroalimentação.

A área acima do Círculo Polar Ártico está aquecendo quatro vezes mais rápido do que o restante do planeta, e "esta amplificação climática é o que causa atividade anormal de incêndios", declarou à AFP David Gaveau, um dos autores deste estudo.

Concentrando-se em uma área cinco vezes e meia maior que a França, os pesquisadores analisaram a área queimada a cada ano de 1982 a 2020, usando imagens de satélite.

Em 2020, o fogo queimou mais de 2,5 milhões de hectares de terra e liberou uma emissão de CO2 equivalente à emitida pela Espanha em um ano inteiro, concluíram os cientistas.

Naquele ano, o verão boreal na Sibéria foi, em média, três vezes mais quente do que em 1980. Por exemplo, a cidade russa de Verkhoyansk registrou 38°C no verão, um recorde para o Ártico.

A temperatura média do ar no verão boreal — entre junho e agosto — ultrapassou os 10°C apenas quatro vezes no período estudado: em 2001, 2018, 2019 e 2020. Esses também foram os anos com mais incêndios.

O grupo científico teme que este limite de 10°C seja um ponto de ruptura que é ultrapassado cada vez com mais frequência, frisou Gaveau.

"O sistema fica fora de controle e, por causa de um pequeno aumento de mais de 10ºC, de repente vemos muitos incêndios", explicou.

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Cenários possíveis

Os solos do Ártico armazenam grandes quantidades de carbono orgânico, grande parte em turfeiras. Muitas vezes está congelado, ou é pantanoso, mas o aquecimento global derrete e seca o solo nas turfeiras, aumentando a chance de grandes incêndios na região.

O fogo danifica o solo congelado chamado permafrost, que libera ainda mais carbono, em alguns casos, preso no gelo por séculos ou mais.

"Se houver incêndios todos os anos, o solo ficará em condições cada vez piores. Então, haverá cada vez mais emissões deste solo, e isso é o que realmente preocupa", alerta Gavaeu.

Em perspectiva, os cientistas propõem dois cenários possíveis.

No primeiro, nada é feito para combater as mudanças climáticas, e as temperaturas continuam subindo de forma constante.

Nesse caso, incêndios da mesma gravidade de 2020 podem ser registrados todos os anos.

No segundo, as concentrações de gases de efeito estufa se estabilizam e as temperaturas se nivelam na segunda metade deste século.

Nesse caso, incêndios como os de 2020 ocorreriam em média a cada dez anos, disse a principal autora do estudo, Adria Descals Ferrando.

De qualquer forma, "verões com incêndios como os de 2020 serão cada vez mais frequentes a partir de 2050 e além", disse Gaveau.

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