Ciência

Inteligência artificial pode ser chave para tratar doenças mentais

Pesquisa publicada na Nature indica que IA pode ajudar pessoas com ansiedade ou depressão a analisar atividade cerebral e aplicar uma estimulação direcionada em "momentos de dificuldade"

Durante o procedimento registrado na pesquisa, centenas de eletrodos foram colocados por todo o cérebro para registrar sua atividade (dowell/Getty Images)

Durante o procedimento registrado na pesquisa, centenas de eletrodos foram colocados por todo o cérebro para registrar sua atividade (dowell/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 3 de novembro de 2021 às 11h38.

Última atualização em 3 de novembro de 2021 às 11h42.

Pesquisadores dos Estados Unidos realizaram um estudo piloto em humanos que indica que, através de inteligência artificial e estimulação elétrica cerebral direcionada, é possível melhorar funções cerebrais humanas específicas.

O estudo, publicado no periódico científico Nature Biomedical Engineering, mostra que o método pode ser uma nova abordagem para o tratamento de doenças mentais graves, como ansiedade e depressão.

A pesquisa analisou 12 pacientes submetidos a cirurgia cerebral para epilepsia no Hospital Geral de Massachusetts. Durante o procedimento, centenas de eletrodos são colocados por todo o cérebro para registrar a atividade do mesmo e identificar a origem das convulsões.

Os pesquisadores identificaram que a cápsula interna uma região do cérebro responsável pelo controle cognitivo, processo de mudança entre um padrão de pensamento para outro  melhorava a função mental dos pacientes quando estimulada com pequenas quantidades de energia elétrica.

Depois, a equipe desenvolveu algoritmos para rastrear a atividade cerebral e as ações da cápsula interna após a estimulação.

"Este sistema pode ler a atividade cerebral, 'decodificar' quando o paciente está tendo dificuldade e aplicar uma pequena explosão de estimulação elétrica ao cérebro para impulsioná-lo a superar essa dificuldade", disse Alik Widge, autor sênior da pesquisa.

De acordo com o estudo, pacientes diagnosticados com ansiedade (além de epilepsia) relataram uma melhora após receber o estímulo cerebral. Eles afirmaram que "foram mais capazes de desviar" pensamentos angustiantes e se concentrar no que queriam.

Para Widge, os relatos sugerem que o método pode ser usado para tratar pessoas com ansiedade ou depressão severa, além de outras doenças mentais. "A analogia que costumo usar é uma bicicleta elétrica. Quando alguém está pedalando, mas com dificuldade, a bicicleta sente e aumenta. Fizemos o equivalente para a função mental humana."

O estudo é o primeiro a mostrar que uma função mental humana específica ligada à doença mental pode ser aprimorada de forma confiável usando estimulação elétrica precisamente direcionada.

Ele também trouxe a nova informação de que existem subpartes específicas da cápsula interna do cérebro que são eficazes para o aprimoramento cognitivo.

"Esta poderia ser uma abordagem totalmente nova no tratamento de doenças mentais. Em vez de tentar suprimir os sintomas, poderíamos dar aos pacientes uma ferramenta que lhes permite assumir o controle de suas próprias mentes", disse Widge. "Poderíamos colocá-los de volta no banco do motorista e deixá-los sentir um novo senso de controle."

Agora, a equipe por trás do estudo publicado na Nature está se preparando para os ensaios clínicos. A autora sênior afirmou ao Science Daily que a pesquisa pode ser testada com dispositivos já existentes, o que pode acelerar os resultados dos testes.

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