Exame Logo

Estudos não comprovam eficácia da ivermectina contra a covid-19

Sem prescrição médica, brasileiros estão tomando o medicamento usado no tratamento contra parasitas

Remédios: pacientes diagnosticados com carcinoma de células renais passaram a contar com uma nova indicação terapêutica (luchschen/Thinkstock)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de julho de 2020 às 12h07.

Última atualização em 17 de julho de 2020 às 12h08.

A ivermectina, usada para tratamento contra parasitas em seres humanos e animais, é tida como a nova medicação que irá curar - ou prevenir - a infecção contra o coronavírus. Mesmo sem nenhum estudo conclusivo comprovando a eficácia do remédio para tratar a covid-19 , o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sincofarma) confirma que houve um aumento das prescrições, mas especialistas alertam para os riscos de uso indevido.

Cientistas australianos publicaram em junho um estudo científico informando que o remédio conseguiu parar a replicação do vírus em laboratório. Foi o bastante para que muitos corressem até a farmácia para obter a medicação que é indicada para tratar de verminose, sarna e bicho geográfico.

Veja também

Professora associada do departamento de Microbiologia da UFMG, Giliane de Souza Trindade afirma que é necessário que as pessoas saibam a diferença de um teste feito em laboratório para outro aplicado em seres vivos. "As pessoas ignoram isso, ficam procurando uma fórmula mágica. É a mesma coisa da cloroquina (que também não tem eficácia comprovada)."

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia soltado uma nota no dia 10, informando que os estudos relacionando a ivermectina ao tratamento da covid-19 não eram conclusivos.

O texto também afirma que o uso do medicamento para indicações não previstas na bula é de escolha e responsabilidade do médico prescritor e que não existem remédios aprovados para prevenção ou tratamento da doença no Brasil.

"O uso desse remédio cria uma falsa sensação de segurança, com efeitos alérgicos e alteração no fígado", explica Jean Gorinchteyn, infectologista do Hospital Emílio Ribas e Albert Einstein.

A auxiliar administrativa Nilza da Silva Gomes, de 49 anos, moradora de Sorocaba, no interior de São Paulo, tomou a ivermectina como prevenção contra a covid-19. Seu marido, da mesma idade, e a filha de 15 anos também fizeram uso do medicamento. "Não sentimos nada diferente, nenhum efeito colateral", afirmou. "Isso não significa que a gente vai se descuidar das medidas preventivas, como o distanciamento social e o uso de máscara. É só uma prevenção a mais", justificou Nilza.

Ela contou que o medicamento, em falta nas farmácias, foi comprado pela sua patroa. "Ela encomendou para a família dela e nos deu as doses de presente. Como a gente já toma outro remédio para verme anualmente, achamos que não teria nada demais, mas o propósito era mesmo de prevenção contra a covid", disse.

Como a dosagem leva em conta o peso corporal, Nilza e a filha tomaram dois comprimidos cada. Já o marido fez uso de três. A dosagem foi repetida depois de 15 dias, no último dia 10.

Nilza disse que sua patroa testou positivo para o vírus durante o tratamento com ivermectina. "Ela tinha tomado a primeira dose, quando fez o exame simples e deu positivo. Então ela tomou a segunda dose fez um novo exame mais completo. Aí deu negativo."

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusPesquisas científicasRemédios

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Ciência

Mais na Exame