Ciência

Dois dias após Pfizer, Rússia diz que vacina contra covid é 92% eficaz

A análise foi feita a partir de 20 participantes do estudo que tomaram a vacina russa Sputnik V e placebo

 (Chris Clor/Getty Images)

(Chris Clor/Getty Images)

BG

Bibiana Guaraldi

Publicado em 11 de novembro de 2020 às 07h50.

Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 08h40.

A vacina russa Sputnik V é 92% eficaz na proteção contra a covid-19, de acordo com dados preliminares, disse o fundo soberano do país nesta quarta-feira, 11, enquanto Moscou se apressa para acompanhar as farmacêuticas ocidentais na corrida por uma vacina.

Os resultados iniciais são apenas os segundos a serem publicados a partir de testes em humanos, e são baseados em dados dos primeiros 16.000 participantes do ensaio que receberam as duas doses da vacina, segundo informou à Reuters o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), que financia o desenvolvimento da vacina.

“Estamos mostrando, com base nos dados, que temos uma vacina muito eficaz”, disse o chefe da RDIF, Kirill Dmitriev, acrescentando que era o tipo de acontecimento que os desenvolvedores da vacina contariam um dia para seus netos.

A análise foi feita a partir de 20 participantes do estudo infectados com covid-19, pesquisadores examinaram quantos deles receberam a vacina em comparação com o placebo.

Quer entender a evolução da pandemia e o cenário de reabertura no país? Acesse a EXAME Research.

O número é significativamente menor do que as 94 infecções no teste da vacina que está sendo desenvolvida pela Pfizer e BioNTech. Para confirmar a taxa de eficácia, a Pfizer disse que continuaria seu teste até que houvesse 164 casos de covid-19.

Na última segunda-feira, 9, horas após a farmacêutica americana Pfizer divulgar que sua vacina contra o novo coronavírus apresentou uma eficácia de 90% nos voluntários testados, o ministério da saúde da Rússia também afirmou que a vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya tem a mesma porcentagem de proteção, mas não apresentou dados que comprovassem a afirmação.

O estudo russo continuará por mais seis meses, e os dados do estudo também serão publicados em um importante jornal médico internacional após revisão por pares.

O uso doméstico da vacina russa já foi permitido em agosto, mesmo sem a finalização de todas as fases necessárias para a aprovação de uma eventual vacina contra a covid-19 e o país foi o primeiro (e único) a registrar uma proteção do vírus no mundo.

A Anvisa anunciou na última segunda-feira, 9, a interrupção dos testes realizados no país da vacina chinesa contra o coronavírus, a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac, em parceria com o Butantan. Em nota, a agência afirmou que a ação está relacionada à ocorrência de reações adversas durante os testes, identificadas no dia 29 de outubro.

O evento adverso que fez a Anvisa suspender os testes com a CoronaVac foi o suicídio de um voluntário, mas o Instituto Butantan, ligado ao governo do Estado de São Paulo e responsável pelos testes no Brasil, afirmou que o fato não tem relação com a vacina.

No fim da manhã desta terça-feira, 10, o diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que recebeu com surpresa a decisão da Anvisa e que o evento adverso grave que aconteceu com o voluntário que tomou a vacina contra a covid-19 no teste clínico não tem relação com a imunização. Dimas Covas disse que os documentos foram enviados à Anvisa no dia 6 de novembro, sexta-feira da semana passada, e que não havia necessidade de interrupção.

Apesar de pausa nos testes, o laboratório chinês Sinovac Biotech defende a vacina da covid-19. A vacina CoronaVac já está na terceira e última fase de testes clínicos antes de ser disponibilizada. Mais de 10 mil voluntários receberam doses da vacina.

Como estamos?

Das 47 em fases de testes, apenas 10 estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação. São elas a chinesa da Sinovac Biotech, a também chinesa da Sinopharm, a britânica de Oxford em parceria com a AstraZeneca, a americana da Moderna, da Pfizer e BioNTech, a russa do Instituto Gamaleya, a chinesa CanSino, a americana Janssen Pharmaceutical Companies e a também americana Novavax.

Quem terá prioridade para tomar a vacina?

Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.

Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.

Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.

A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.

Quão eficaz uma vacina precisa ser?

Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.

Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.

Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.

As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.

Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusDoençasPandemiaRússiaSaúdevacina contra coronavírusVacinas

Mais de Ciência

Mergulhadores descobrem maior animal marinho do mundo — e não é a baleia azul

20 frases de Albert Einstein para a sua vida

Cientistas encontram cristais de água que indicam possibilidade de vida em Marte

Cientistas criam "espaguete" 200 vezes mais fino que um fio de cabelo humano