Dispositivo recebe sinais de um implante cerebral e os utiliza para estimular a medula espinhal de um paciente com paralisia, restaurando os movimentos perdidos (Lucie Aubourg/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 27 de setembro de 2023 às 19h59.
Um suíço de 46 anos se tornou a primeira pessoa tetraplégica a testar uma nova tecnologia que, através da combinação de dois implantes, um cerebral e outro na medula espinhal, permite que ele volte a mexer braços, mãos e dedos usando o pensamento.
A combinação destes implantes - que leem os pensamentos usando inteligência artificial e depois transmitem os sinais através do sistema nervoso do próprio paciente - já tinha sido testada em um indivíduo paraplégico, que conseguiu voltar a andar, um avanço que foi publicado na revista científica Nature em maio.Fique por dentro das últimas notícias no WhatsApp da Exame. Inscreva-se aqui 👉 https://t.ly/6ORRo
Agora, esta é a primeira vez que a mesma técnica é utilizada para restaurar os movimentos das extremidades superiores.
"A mobilidade do braço é mais complexa", explicou à AFP a cirurgiã Jocelyne Bloch, que realizou as intervenções para colocar os implantes.
Com os braços, não há o problema do equilíbrio, mas "a musculatura da mão é bastante fina, com muitos músculos pequenos diferentes que são ativados ao mesmo tempo para determinados movimentos", explica.
O paciente, que pediu para permanecer no anonimato, perdeu os movimentos após uma queda. No mês passado, ele foi submetido a duas operações no Centro Hospitalar Universitário Vaudois (CHUV) em Lausanne, Suíça.
O primeiro procedimento foi para colocar, no lugar de um pequeno pedaço de osso do crânio, um implante cerebral de poucos centímetros de diâmetro, concebido pela organização francesa CEA-Clinatech.
Já no segundo, foram colocados eletrodos desenvolvidos pela empresa holandesa Onward na altura da medula cervical, conectados a uma pequeno estimulador com tamanho aproximado de um cartão de crédito implantado no abdômen.
O implante cerebral registra as regiões do cérebro que são ativadas quando o paciente pensa em um movimento e as comunica aos eletrodos, como uma espécie de "ponte digital".
"Por ora, está tudo indo bem", descreveu Bloch, cofundadora da Onward e consultora da empresa.
"Podemos registrar a atividade cerebral e sabemos que o estímulo funciona [...] Mas ainda é cedo demais para falar dos progressos realizados, do que é capaz de fazer agora", comentou.
O paciente está em fase de treinamento para tentar conseguir fazer com que o implante cerebral reconheça os distintos movimentos que ele não consegue mais fazer.
Será necessário repetir muitas vezes esses movimentos antes que eles se tornem naturais. O processo vai durar "meses", segundo Bloch.
Está previsto que outros dois pacientes participem deste estudo, cujos resultados serão publicados mais adiante.
A estimulação da medula espinal já foi utilizada no passado para que pacientes com paralisia pudessem mover seus braços, mas sem ler seus pensamentos com um implante cerebral acoplado.
Por sua vez, implantes cerebrais foram utilizados para que um paciente pudesse mover suas extremidades através de um exoesqueleto controlado mentalmente. Além disso, a organização Battelle utilizou um implante cerebral para que um paciente conseguisse mexer o braço, mas usando eletrodos colocados no antebraço.
"A Onward é única em sua vontade de restabelecer o movimento mediante estímulos da medula espinhal" junto com um implante cerebral, explicou à AFP o diretor da companhia, Dave Marver.
Segundo ele, esta tecnologia pode se tonar viável comercialmente "até o final da década".
O campo dos implantes cerebrais está em alta, com empresas como Synchron e Neuralink. Sua meta é permitir que pacientes com algum tipo de paralisia possam controlar computadores usando o pensamento para realizar ações como escrever, entre outras coisas.