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Cientistas avaliam se coronavírus é capaz de infectar óvulos

Novo estudo sugere que o vírus não consegue penetrar nos óvulos e aponta que a Fertilização In Vitro pode ser uma alternativa segura

Médicos ressaltam que cuidados devem continuar (Lars Neumann/Thinkstock)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de outubro de 2020 às 18h19.

Última atualização em 6 de outubro de 2020 às 18h20.

Nove meses já se passaram desde que autoridades chinesas emitiram um alerta sobre casos de pneumonia de origem desconhecida, em dezembro do ano passado. Desde então, muito já se descobriu sobre a ação do novo coronavírus no organismo, mas ainda restam dúvidas, como a contaminação de bebês pelo Sars-Cov-2. Em busca dessa resposta, um novo estudo sugere que o vírus não consegue penetrar nos óvulos, o que eliminaria a chance de transmissão por essa via e, ao mesmo tempo, tornaria a fertilização in vitro (FIV) um procedimento seguro mesmo em casos de mulheres com covid-19.

O estudo foi conduzido da seguinte forma: no dia da coleta dos gametas, a equipe médica decidiu fazer exames nas doadoras, que estavam sem sintomas, e, após dois dias, os resultados deram positivo para o novo coronavírus. Curiosos para saber se o agente infeccioso teria entrado nas células reprodutoras, os médicos do Grupo Eugin conduziram análises posteriores e se certificaram de que não havia RNA do vírus dentro dos óvulos.

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Eduardo Motta, diretor do Grupo Huntington e médico que integra o Grupo Eugin, completa que não é possível ativar um vírus dentro de um óvulo ou embrião. "Esse estudo mostra que, talvez, a FIV possa ser um método seguro para pessoas com algum tipo de infecção viral." No entanto, ele pondera que essa confirmação ainda vai demandar muitos estudos.

Para completar esse cenário, publicações científicas têm mostrado que a maioria dos bebês que nascem de mulheres com covid-19 não está infectada, mas um número pequeno de recém-nascidos testaram positivo. Os casos levaram cientistas a investigarem se existe a possibilidade de contaminação durante a gestação e, se sim, por quais mecanismos isso ocorre. A transmissão por meio da placenta é uma das principais apostas.

"Avaliar placentas de recém-nascidos com covid-19 é fundamental para determinar o papel potencial e a importância da transmissão transplacentária do coronavírus", disse David Schwartz, médico especialista em patologia placentária, em comunicado divulgado pelo Colégio Americano de Patologistas. Ele tem se dedicado a estudar o tema e afirma que os resultados de estudos recentes sugerem que, em casos raros, a transmissão transplacentária do coronavírus está ocorrendo.

O médico Paulo Gallo, especialista em reprodução humana assistida e diretor-médico do Vida - Centro de Fertilidade, explica que, "quando a transmissão ocorre pela placenta, é porque ela é permeável a alguns agentes infecciosos, como sífilis, HIV, zika. Já temos a certeza absoluta que esses agentes infecciosos passam pela placenta", diz. Essa passagem do vírus da mulher para o feto pode ocorrer precoce ou tardiamente, a depender do grau de infecção. "Para a covid-19, ainda não temos evidência alguma da transmissão vertical", reforça o médico.

Cuidados devem continuar

Os autores do estudo do Grupo Eugin ressaltam que, apesar de não terem encontrado gene do coronavírus em óvulos, "não podemos excluir a possibilidade de múltiplas vias através das quais o Sars-CoV-2 pode infectar oócitos humanos". Porém, consideram a importância do achado, que sugere que a transmissão vertical pode não ocorrer por meio dos óvulos e que o manuseio desse material no laboratório pode não constituir um perigo aos profissionais de saúde.

Motta também destaca que os resultados não devem ser considerados um alívio, pois mais estudos são necessários. "Mulheres que engravidam ao longo da pandemia têm de entender que devem continuar com a proteção. Embora a transmissão vertical seja rara, se ela tiver a doença séria ao longo da gravidez, pode proporcionar riscos ao bebê e trabalho de parto prematuro."

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