Verão reúne fatores como desidratação, consumo de álcool e descuido com medicamentos, criando um cenário propício para o aumento dos casos de AVC (Bruno Peres/Agência Brasil)
Redação Exame
Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 16h07.
Os casos de acidente vascular cerebral (AVC) tendem a crescer durante o verão, segundo o neurocirurgião e neurorradiologista intervencionista Orlando Maia, do Hospital Quali Ipanema.
O principal fator é o calor, que favorece a desidratação e aumenta a viscosidade do sangue, elevando o risco de formação de coágulos - principal causa do AVC isquêmico, responsável por cerca de 80% dos casos.
Há dois tipos principais de AVC. O hemorrágico ocorre quando um vaso cerebral se rompe e responde por cerca de 20% dos casos. Já o AVC isquêmico, mais frequente, é provocado pela formação de um coágulo que bloqueia a circulação em um vaso.
Falta pouco: verão começa neste domingo com sol e calor acima da médiaCom a desidratação, explica o médico à Agência Brasil, o sangue fica mais espesso, o que facilita a trombose e o entupimento de vasos.
No verão, há ainda alterações na pressão arterial: a vasodilatação provocada pelo calor tende a reduzir a pressão, condição que pode favorecer arritmias cardíacas e a formação de coágulos no coração, que podem migrar para o cérebro (30% de todo o sangue que sai do coração vão para o órgão do sistema nervoso central).
O período de férias também contribui para o aumento do risco. Segundo Maia, o consumo maior de álcool intensifica a desidratação e eleva a chance de arritmia.
A negligência com medicamentos de uso contínuo, comum nessa época, também pesa contra o controle de fatores de risco.
Essas situações, somadas às doenças típicas do verão, como gastroenterites, que causam diarreia, insolação e esforço físico excessivo, reforçam ainda mais o alerta.
"Tudo isso associado faz com que a pessoa tenha uma maior tendência a ter um AVC no verão", enfatiza Maia.
Mapa do verão: onde deve chover mais do que o normal no BrasilO tabagismo é outro fator relevante: a nicotina favorece processos inflamatórios, aumentando o risco tanto de AVC isquêmico quanto hemorrágico.
"A nicotina bloqueia uma proteína do nosso vaso chamado elastina, diminui a elasticidade do vaso, então pode favorecer ao AVC hemorrágico, como também causa um processo inflamatório no vaso em si, favorecendo a aderir as placas de colesterol a longo prazo e o entupimento dos vasos. Então, o tabaco é diretamente proporcional à situação tanto do AVC hemorrágico como do AVC isquêmico", diz o médico.
De acordo com o especialista, a combinação de estilo de vida inadequado, tabagismo e doenças crônicas mal controladas tem levado a um aumento de casos em pessoas com menos de 45 anos.
No Hospital Quali Ipanema, o número de atendimentos por AVC no verão chega a cerca de 30 por mês - aproximadamente o dobro do registrado em outras épocas do ano.
"Se você pegar o AVC como uma doença isolada, esquecendo que há vários tipos de câncer que podem ser separados, a doença mais frequente na humanidade é o AVC. E uma em cada seis pessoas vai ter um AVC na vida", alerta Maia.
Pela primeira vez em 20 anos, número de fumantes cresce no BrasilQuando não é fatal, o AVC costuma deixar sequelas importantes, como dificuldades de locomoção, fala e visão. Por isso, a prevenção é essencial: manter hábitos saudáveis, praticar atividade física regularmente, controlar a pressão arterial, seguir corretamente os tratamentos médicos e evitar o tabaco.
Há tratamento, mas o tempo é decisivo. Em muitos casos, é possível usar medicação intravenosa para dissolver o coágulo, desde que aplicada até quatro horas e meia após o início dos sintomas.
Em situações específicas, a retirada mecânica do coágulo por cateter pode ser feita em até 24 horas.
Os principais sinais de alerta incluem paralisia súbita de um lado do corpo, fala enrolada, perda de visão, tontura intensa ou perda de consciência.
"É uma doença que acontece, na maioria das vezes, de uma hora para outra. Nessa situação, não tem que esperar nada. A pessoa tem que ser levada a um hospital porque é uma emergência médica", finaliza o neurocirurgião.