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Aplicativo premiado pode ajudar no estudo de doenças reumatológicas

O aplicativo premiado nos Estados Unidos pode ajudar na pesquisa sobre a osteoartrite do joelho, que afeta 230 milhões de pessoas em todo o mundo

Pesquisa científica: a osteoartrite do joelho é considera uma das principais doenças debilitantes do século (SARINYAPINNGAM/Getty Images)

Isabela Rovaroto

Publicado em 9 de setembro de 2019 às 12h09.

O fisioterapeuta e bolsista de doutorado da FAPESP Lucas Ogura Dantas recebeu um prêmio de US$ 30 mil concedido pelo Tufts Medical Center e pelo National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, com o objetivo de apoiar projetos científicos inovadores e de alto impacto.

A premiação será usada para a validação de algoritmos desenvolvidos para o projeto de um aplicativo de celular capaz de medir de modo objetivo a função física de pacientes com osteoartrite de joelho.

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O projeto, conduzido na divisão de Reumatologia do Tufts Medical Center, é coordenado por Timothy E. Mcalindon e teve apoio da FAPESP por meio de uma Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE).

“Apesar de vivermos em uma era tecnológica, a maioria das variáveis de interesse em ensaios clínicos tem como base questionários impressos em papel, nos quais os pacientes devem relatar dores ou dificuldades de dias anteriores. E sabemos que nem todo mundo se lembra. Além disso, os testes de função física são restritos ao ambiente clínico, o que minimiza a conveniência para os pacientes e aumenta relativamente o custo de um estudo”, disse Dantas à Agência FAPESP.

A osteoartrite do joelho afeta 230 milhões de pessoas em todo o mundo e é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das principais doenças debilitantes do século 21. Ainda sem cura, o tratamento para o manejo da doença é feito a partir da combinação de fármacos, exercícios físicos e mudanças no estilo de vida.

“Normalmente, nos ensaios clínicos sobre doenças reumatológicas, realiza-se a avaliação pré-intervenção [medicamentosa ou não medicamentosa] e, depois que termina a intervenção, existe outra fase, chamada de follow-up, na qual o paciente pode ser acompanhado por alguns meses. Em todo o processo, de modo geral, o paciente é avaliado presencialmente apenas algumas vezes. Com o aplicativo, é possível ter informações durante todo o processo”, disse Tania de Fatima Salvini, professora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e orientadora de Dantas.

Com o prêmio, os pesquisadores pretendem validar a tecnologia criada para automatizar grande parte da coleta de dados de um ensaio clínico e fazer com que pesquisadores consigam coletar dados de forma segura no dia a dia dos pacientes, sem estarem restritos aos ambientes clínicos ou de pesquisa.

“Com o uso das notificações nos celulares, podemos lembrar aos pacientes o momento exato do dia em que queremos que realizem os questionários e testes físicos. Coletamos mais dados, com uma maior frequência, tudo de forma remota e segura. Assim, conseguimos ter um acompanhamento diário da flutuação dos sintomas e da função física, aproximando-se mais da realidade de cada paciente”, disse Dantas.

A expectativa é que o aplicativo possa ser usado também para ensaios clínicos sobre outras doenças crônicas reumatológicas em que há dor e perda da função física , como artrite reumatoide, lúpus, espondilite anquilosante, artrite psoriásica, síndrome de Sjogren e gota.

“Já realizamos alguns testes-piloto bem-sucedidos e agora, com o prêmio, será possível melhorar o sistema e validar os algoritmos criados. Após essa etapa, iremos implementar a tecnologia em ensaios clínicos e, futuramente, se tudo correr bem, a ideia é disponibilizá-la em larga escala para instituições de pesquisa e centros de reabilitação”, disse Dantas.

Além de automatizar testes comuns de função física para a área de osteoartrite, o aplicativo também permite que pesquisadores façam o rastreio da dor de pacientes de modo remoto, o que permite uma maior coleta de dados, se comparado ao modo tradicional.

Entre os testes automatizados está o Timed up and go, no qual o paciente tem de se levantar, andar três metros, girar, voltar o caminho percorrido e sentar. Atualmente, pesquisadores medem o tempo total que o paciente leva para completar a tarefa. Com o celular preso ao corpo do voluntário, o aplicativo pode medir não só o tempo em que a tarefa é executada, como também a velocidade e o tempo de levantar, sentar e girar.

“Esses dados permitem que pesquisadores consigam enxergar de forma mais clara o que acontece com os seus pacientes em um estudo. Dessa forma, profissionais da saúde podem criar tratamentos focados em determinado aspecto antes não observado”, disse Dantas.

A ideia de criar o aplicativo surgiu durante o doutorado de Dantas, realizado na UFSCar com apoio da FAPESP. Durante o ensaio clínico, o pesquisador buscou comparar a eficácia de tratamentos não medicamentosos para pacientes com osteoartrite de joelho.

“Ele sempre gostou de tecnologia e tem o apoio de um irmão que trabalha nessa área. Durante seu doutorado, sentiu na pele as dificuldades para monitorar os pacientes fora do ambiente clínico e decidiu desenvolver uma tecnologia para auxiliar nessa tarefa”, disse Salvini.

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