Ciência

Americanos que sofreram com covid ainda assim recusam vacina

Pesquisas mostram mais resistência a vacinas entre pessoas que já tiveram a doença; maioria diz que contágio influenciou a decisão de permanecer não vacinado

Hospital em Reno, Nevada: americanos que se curaram de casos graves de covid-19 recusam vacina (PATRICT. FALLON / Colaborador/Getty Images for National Geographic Magazine)

Hospital em Reno, Nevada: americanos que se curaram de casos graves de covid-19 recusam vacina (PATRICT. FALLON / Colaborador/Getty Images for National Geographic Magazine)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 6 de setembro de 2021 às 16h12.

Última atualização em 6 de setembro de 2021 às 17h03.

Quando Eric Grunor se contagiou com a covid-19 em janeiro, ficou tão doente que nem conseguia se levantar do sofá. Uma noite, acordou às 3 da manhã, com falta de ar e tão cansado que mal conseguia erguer a cabeça.

“Acordei minha esposa e disse: ‘Você precisa me levar ao pronto-socorro’”, disse. “Minha esposa pensou que iria ficar viúva.”

Após três semanas de recuperação em casa, a experiência do corretor de seguros do Texas, de 54 anos, é uma que poucos gostariam de passar duas vezes. Mas ainda assim Grunor não se vacinou, o que o coloca entre um contingente teimoso de americanos que afirmam ter imunidade natural e não precisam se imunizar, uma crença sobre a qual especialistas estão divididos.

“Estou na categoria de pessoas que menos precisariam de vacina neste momento”, disse Grunor. “Para mim, os anticorpos naturais são melhores do que quaisquer anticorpos fabricados pelo ser humano.”

Imunidade natural

Grunor disse que está preocupado com o fato de pessoas vacinadas ainda poderem ser infectadas e acredita que não há clareza sobre a segurança das vacinas no longo prazo. Mesmo se não tivesse se contagiado, disse, provavelmente não teria se vacinado. Sua esposa e filho, que parecem ter escapado da covid-19, também não foram vacinados.

Mais de 100 milhões de pessoas nos EUA provavelmente foram infectadas com covid, de acordo com uma estimativa recente. Muitas delas se tornaram defensoras da imunidade natural e estão entre os cerca de 126 milhões de americanos que ainda não se vacinaram, cerca de 38% da população.

Autoridades de saúde pública buscam promover a imunização universal, mas pesquisas mostram mais resistência a vacinas entre pessoas com infecções anteriores. A maioria diz que o fato de terem se contagiado com a covid influenciou a decisão de permanecer não vacinado.

O debate sobre a imunidade natural aumenta a hesitação e prenuncia mais desafios para as campanhas de vacinação, principalmente devido ao avanço da variante delta. Algumas pesquisas indicam que um caso anterior de covid protege tão bem ou melhor contra a cepa do que a vacinação apenas.

Análise recente em Israel revelou que pessoas com imunização completa corriam risco seis vezes maior de contrair covid do que aquelas que foram previamente infectadas e não vacinadas. Pessoas com infecções anteriores também eram menos propensas a apresentar sintomas e serem hospitalizadas com covid, de acordo com o estudo, publicado antes da revisão por especialistas na área.

Conclusões diferentes

Mas outros estudos sugerem conclusões diferentes: uma ampla análise do Reino Unido, também publicada antes da revisão por pares, revelou que vacinas de duas doses eram pelo menos tão eficazes quanto a imunidade natural. No mês passado, um estudo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças destacou que pessoas que tiveram covid e permaneceram não vacinadas tinham duas vezes mais chances de serem reinfectadas do que as que foram imunizadas.

Especialistas também apontam para questões como o nível de proteção por meio de casos anteriores, duração e quão bem se compara à vacinação. Vários estudos, incluindo o de Israel, mostram que pelo menos uma dose aumenta a proteção conferida por uma infecção.

Paul Offit, diretor do Centro de Educação em Vacinas do Hospital Infantil de Filadélfia, disse que pessoas que tiveram covid estão mais protegidas se forem vacinadas. “E não há nenhuma desvantagem. Não há um bom motivo para não tomar a vacina.”

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