Cerveja: número de mortes por câncer no Brasil aumentou 31% nos últimos 15 anos (kazoka30/Thinkstock)
Maurício Grego
Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 21h11.
Má notícia para quem quer aplacar o calor deste verão tomando uma cerveja bem gelada: uma pesquisa da Universidade de Cambrigde comprovou a relação entre o consumo de álcool e o surgimento de tumores.
A partir de testes com cobaias, os cientistas mostraram que a ingestão de álcool danifica o DNA das células-tronco, o que eleva o risco de câncer. O estudo foi publicado no periódico científico Nature nesta semana e teve apoio financeiro do instituto Cancer Research, da Inglaterra.
A ideia de que o álcool pode causar câncer não é nova. De fato, ninguém acorda depois de uma bebedeira achando que fez um grande serviço à própria saúde.
Pesquisas anteriores, principalmente estudos populacionais que associavam a prevalência de câncer ao consumo alcoólico, já sugeriam que existe uma relação entre a bebida e o surgimento da doença em mais de dez partes do corpo, inclusive os mais comuns no Brasil como intestino e mama.
A novidade é que agora os cientistas conseguiram analisar como um derivado do álcool, o etanal ou acetaldeído, interfere permanentemente no DNA de células-tronco no metabolismo de ratos ao dar altas doses de álcool a cobaias.
Os pesquisadores perceberam que essa quebra estimula os cromossomos a se emparelharem aleatoriamente, mudando para sempre as sequências de DNA nas células.
O grande perigo de ter células tronco “defeituosas” é que elas conseguem se multiplicar e se alastrar para diversos tecidos do corpo com mais facilidade – um prato cheio para o surgimento de tumores.
O etanal é produzido quando o nosso corpo está reagindo ao álcool. E você até consegue senti-lo em ação depois de alguns bons drinks (ou nem tão bons): ele é o responsável por desencadear o mal-estar da ressaca.
Prova real
Os cientistas também prestaram atenção em corpo se defende do álcool. Uma enzima chamada aldeído desidrogenase (ALDH) é capaz de catalisar, quebrar o subproduto maléfico do álcool.
Eles testaram os efeitos nos ratinhos bêbados com e sem ALDH e perceberam que os que não tinham a enzima tiveram seu DNA afetado até quatro vezes mais. A outra má notícia que vem junto com a prova real é que milhões de pessoas ao redor do mundo não possuem essa enzima “anti-ressaca”.
“É importante lembrar que a liberação do álcool e os reparos no DNA não são perfeitos e o que o álcool ainda pode causar câncer de vários outros jeitos, mesmo em pessoas com esses mecanismos de defesa em ordem”, disse o líder do estudo, Ketan Patel.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) elenca o consumo de bebidas alcoólicas como um dos principais fatores de risco para a doença. O número de mortes por câncer no Brasil aumentou 31% nos últimos 15 anos. De acordo com informações da OMS, a doença matou 223,4 mil pessoas no país em 2015. Câncer é a segunda causa de mortes por aqui, atrás apenas de doenças cardiovasculares. No mundo, a estimativa é 8,8 milhões de vítimas por ano – o equivalente a população da cidade de Nova York ou de toda a Áustria.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Superinteressante.