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10 estudos que mudarão o que você pensa sobre si mesmo

Alguns dos experimentos psicológicos mais famosos do século passado revelam verdades universais e muitas vezes surpreendentes sobre a natureza humana


	Jovem lendo: muitas vezes sabemos pouco sobre nossa mente, e menos ainda como pensam outros
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Jovem lendo: muitas vezes sabemos pouco sobre nossa mente, e menos ainda como pensam outros (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2014 às 13h32.

Por que fazemos as coisas que fazemos? Não obstante nossos esforços mais sinceros para seguir a máxima “conhece-te a ti mesmo”, a verdade é que muitas vezes sabemos surpreendentemente pouco sobre nossa própria mente, e menos ainda sobre como pensam os outros.

Como disse Charles Dickens, “um fato assombroso que merece reflexão é que cada ser humano é feito de modo a ser um segredo e mistério profundo para cada outro”.

Não é de hoje que os psicólogos buscam entender melhor como apreendemos o mundo e o que motiva nossos comportamentos, e eles já avançaram muito para desfazer esse véu de mistério.

Além de fornecer assunto para bate-papos instigantes em festas, alguns dos experimentos psicológicos mais famosos do século passado revelam verdades universais e muitas vezes surpreendentes sobre a natureza humana.

Veja a seguir dez estudos psicológicos clássicos que podem mudar seu entendimento sobre si mesmo:

Todos possuímos alguma capacidade de cometer o mal.

(Dreamstime.com)

Possivelmente o experimento mais famoso na história da psicologia, o estudo da prisão de Stanford, de 1971, se deteve sobre como situações sociais podem afetar o comportamento humano. 

Os pesquisadores, comandados pelo psicólogo Philip Zimbardo, montaram uma falsa prisão no subsolo do prédio do departamento de psicologia da Universidade Stanford e selecionaram 24 estudantes (que não tinham ficha policial e foram avaliados como psicologicamente saudáveis) para representar os papéis de presos e carcereiros.

Pesquisadores observaram os presos (que tinham que ficar nas celas 24 horas por dia) e os guardas (que dividiam turnos de oito horas), usando câmeras ocultas.

O experimento estava programado para durar duas semanas, mas teve que ser abortado depois de apenas seis dias devido ao comportamento abusivo dos guardas – que chegaram a cometer tortura psicológica – e o estresse emocional e ansiedade extremos manifestados pelos presos.

“Os guardas foram intensificando as agressões contra os prisioneiros, obrigando-os a ficar nus, colocando sacos sobre suas cabeças e, finalmente, os fizeram praticar atividades sexuais mais e mais humilhantes”, Zimbardo contou à American Scientist.

“Depois de seis dias tive que encerrar a experiência porque estava fora de controle. Eu ficava acordado à noite, preocupado com o que os guardas poderiam estar fazendo com os detentos.”

Não notamos o que está bem à nossa frente.

Você pensa que sabe o que se passa à sua volta? Talvez não tenha tanta consciência disso quanto imagina.

Em 1998, pesquisadores de Harvard e da Kent State University convocaram pedestres que transitavam por um campus de faculdade para determinar quanto as pessoas notam do ambiente imediato à sua volta.

No experimento, um ator abordava um transeunte e pedia indicações para chegar a um local.

Enquanto o transeunte estava dando as indicações, dois homens carregando uma grande porta de madeira passavam entre o ator e seu interlocutor, bloqueando completamente a visão que um tinha do outro por alguns segundos.

Durante esse período, o ator era substituído por outro ator de altura e aparência diferente, com penteado, voz e roupa diferentes. Nada menos que metade dos participantes não notou a substituição.

O experimento foi um dos primeiros o ilustrar o fenômeno da chamada “cegueira a mudanças”, que mostra como somos seletivos em relação ao que apreendemos em qualquer cena visual dada.

Parece que nos pautamos muito mais do que talvez imaginemos pela memória e o reconhecimento de padrões.

Adiar a recompensa é difícil, mas somos mais bem-sucedidos quando o fazemos.

(GettyImages)

Um experimento famoso feito na Universidade Stanford no final dos anos 1960 testou a capacidade de crianças da pré-escola de resistir à atração da recompensa instantânea –e rendeu algumas informações úteis sobre a força de vontade e a autodisciplina.

No experimento, crianças de 4 anos foram colocadas sozinhas numa sala com um marshmallow sobre um prato diante delas.

Foi dito a elas que podiam comer o doce na hora ou, se esperassem até a pesquisadora voltar, em 15 minutos, poderiam ganhar dois marshmallows.

A maioria das crianças disse que preferia esperar, mas muitas acabaram cedendo à tentação, comendo o doce antes de a pesquisadora voltar, disse a TIME.

As crianças que conseguiram esperar por 15 minutos usaram táticas para evitar a tentação, por exemplo, dando as costas para o doce ou cobrindo os olhos.

As implicações do comportamento das crianças foram significativas: aquelas que conseguiram adiar a recompensa tiveram muito menos chances de chegar à adolescência obesas, dependentes de drogas ou com problemas comportamentais e tiveram mais sucesso mais tarde na vida.

Podemos sentir impulsos morais profundamente conflitantes.

Um estudo famoso (e um pouco alarmante) de 1961 do psicólogo de Yale Stanley Milgram testou até onde as pessoas se dispunham a ir para obedecer a figuras de autoridade quando estas lhes pediam para fazer mal a outras pessoas, além do intenso conflito interno entre a moral pessoal e a obrigação de obedecer às figuras de autoridade.

Milgram quis fazer o experimento para descobrir como foi possível que criminosos de guerra nazistas perpetrassem atos hediondos durante o Holocausto.

Para isso, ele testou uma dupla de participantes, um dos quais designado o “professor” e o outro o “aprendiz”. O professor foi instruído a aplicar choques elétricos ao aprendiz cada vez que este errava a resposta a uma pergunta.

O aprendiz supostamente estava sentado em outra sala, mas na realidade não recebia os choques.

Em vez disso, Milgram tocava gravações que soavam como se o aprendiz estivesse sofrendo dor. Se o “professor” manifestava o desejo de parar de aplicar choques, o pesquisador o incentivava a continuar.

No primeiro experimento, 65% dos participantes chegaram a aplicar um choque final e doloroso de 450 volts (rotulado o choque “XXX”), apesar de muitos ficarem visivelmente estressados e incomodados por fazê-lo.

O estudo tem sido visto como um aviso sobre os perigos da obediência cega à autoridade, mas a Scientific American o reviu recentemente e sugeriu que os resultados são mais indicativos de conflito moral profundo.

“A natureza moral humana inclui a propensão a sermos empáticos, gentis e bons com nossos familiares e os membros de nosso grupo, além de uma tendência a sermos xenófobos, cruéis e perversos com membros de ‘outras tribos’”, escreveu o jornalista Michael Shermer.

“Os experimentos com choques revelam não obediência cega, mas tendência morais conflitantes profundamente enraizadas nas pessoas.”

Recentemente alguns observadores questionaram a metodologia de Milgram. Um crítico observou que os registros do experimento realizado em Yale sugerem que na realidade 60% dos participantes tenham desobedecido às ordens de aplicar o choque mais forte.

Somos facilmente corrompidos pelo poder.

(Dreamstime.com)

Há uma razão psicológica por trás do fato de as pessoas no poder às vezes tratarem as outras com desrespeito e agirem como se tivessem direitos adicionais.

Um estudo de 2003 publicado no periódico Psychological Review juntou estudantes em grupos de três para escreverem um trabalho curto juntos.

Dois estudantes deviam escrever o texto, enquanto o terceiro deveria avaliá-lo e determinar quanto seria pago a cada um dos estudantes redatores.

No meio do trabalho, um pesquisador trazia um pratinho com cinco biscoitos. Embora o último biscoito quase nunca fosse comido, o “chefe” quase sempre comia o quarto – e o fazia de modo desleixado, mastigando com a boca aberta.

“Quando os pesquisadores conferiam poder a pessoas em experimentos científicos, as pessoas mostravam tendência maior a tocar as outras pessoas fisicamente de modo inapropriado, flertar de modo mais direto, fazer apostas e escolhas arriscadas, fazer as primeiras ofertas em negociações, dizer exatamente o que estavam pensando e comer biscoitos como se fossem o personagem Come-Come (de Vila Sésamo), espalhando migalhas sobre o queixo e peito”, escreveu o psicólogo Dacher Keltner, um dos responsáveis pelo estudo, num artigo para o Greater Good Science Center da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Buscamos a lealdade a grupos sociais e nos envolvemos facilmente em conflitos entre grupos.

(MorgueFile)

Este experimento social clássico dos anos 1950 lançou uma luz sobre a possível razão psicológica pela qual grupos sociais e países se envolvem em conflitos – e como podem aprender a cooperar novamente.

O líder do estudo, Muzafer Sherif, levou dois grupos de 11 meninos, todos de 11 anos, para o Parque Estadual Robbers Cave, no Oklahoma, supostamente para um acampamento de férias.

Os grupos (chamados “Águias” e “Cascavéis”) passaram uma semana separados. Seus integrantes se divertiram juntos e ficaram amigos, sem terem conhecimento da existência do outro grupo.

Quando os dois grupos finalmente interagiram, os garotos começaram a xingar uns aos outros. Quando começaram a competir em várias brincadeiras, surgiram mais conflitos, e em seguida os dois grupos se recusaram a comer juntos.

Na fase seguinte da pesquisa, Sherif criou experimentos para tentar reconciliar os meninos, fazendo-os compartilhar atividades de lazer (o que não deu certo) e depois fazendo-os resolver um problema juntos. Foi isso o que finalmente levou à suavização do conflito.

Só precisamos de uma coisa para sermos felizes.

O estudo Harvard Grant, um dos estudos longitudinais mais abrangentes jamais realizado, foi feito ao longo de 75 anos com 268 estudantes homens da Universidade Harvard que se formaram entre 1938 e 1940 (hoje eles estão na casa dos 90 anos), promovendo uma coleta regular de informações sobre aspectos diversos de suas vidas.

Qual foi a conclusão universal? Que o amor realmente é a única coisa que importa, pelo menos quando se trata de determinar a felicidade e satisfação com a vida no longo prazo.

O psiquiatra George Vaillant, que dirigiu o estudo durante muitos anos, disse ao Huffington Post que existem dois pilares da felicidade:

“Um deles é o amor. O outro é encontrar uma maneira de lidar com a vida que não afaste o amor.” Por exemplo, um participantes começou o estudo com o escore mais baixo entre todos os participantes em matéria de chances de estabilidade futura. E já tinha tentado o suicídio anteriormente. Mas, perto do final da vida, ele era um dos mais felizes. Por que? Como explica Vaillant, “ele passou sua vida procurando o amor”.

Vivemos bem e nos sentimos fortalecidos quando temos autoestima forte e status social.

(Getty Images)

Alcançar a fama e o sucesso não é apenas algo que dá um reforço ao ego – também pode ser uma chave da longevidade, segundo o notório estudo dos ganhadores do Oscar.

Pesquisadores do Sunnybrook and Women’s College Health Sciences Centre, de Toronto, constataram que os atores e diretores premiados com o Oscar tendem a viver mais tempo que seus colegas que são nomeados, mas perdem o prêmio.

Os atores e atrizes ganhadores vivem quase quatro anos mais que seus pares que não ganham.

“Não estamos dizendo que você viverá por mais tempo se receber um Oscar”, disse à ABC News Donald Redelmeier, autor principal do estudo

“Nem que as pessoas deveriam sair para fazer aulas de atuação. Nossa conclusão principal é simplesmente que os fatores sociais são importantes... O estudo sugere que um senso interno de autoestima é um aspecto importante da saúde e do cuidado com a saúde.”

Procuramos constantemente justificar nossas experiências, para que façam sentido para nós.

Qualquer pessoa que já tenha feito a matéria de psicologia básica sabe o que é a dissonância cognitiva, uma teoria segundo a qual os seres humanos têm propensão natural a evitar conflitos psicológicos baseados em crenças incompatíveis ou mutuamente excludentes.

Num experimento de 1959 que é citado com frequência, o psicólogo Leon Festinger pediu a participantes que realizassem uma série de tarefas monótonas, como virar cavilhas numa maçaneta de madeira, durante uma hora.

Em seguida, elas eram pagas ou US$1 ou US$20 para dizer a um “participante” (ou seja, um pesquisador) que a tarefa era muito interessante.

Aqueles que recebiam US$1 classificaram as tarefas como mais agradáveis que aqueles que receberam US$20.

A conclusão: os participantes que receberam mais dinheiro sentiram que tinham tido justificação suficiente para realizar a tarefa entediante por uma hora, mas aqueles que receberam apenas US$1 sentiram que precisavam justificar o tempo gasto (e reduzir o nível de dissonância entre suas crenças e seu comportamento), dizendo que a atividade tinha sido divertida.

Em outras palavras, temos o hábito de mentir a nós mesmos para fazer o mundo parecer um lugar mais lógico e harmonioso.

Acreditamos muito em estereótipos.

(Stock.xchng)

Quase todos nós estereotipamos diversos grupos de pessoas com base em grupo social, etnia ou classe social, mesmo que nos esforcemos para não fazê-lo. 

E isso nos pode levar a conclusões injustas e potencialmente prejudiciais sobre populações inteiras.

Os experimentos sobre o “automatismo de comportamentos sociais” feitos pelo psicólogo John Bargh, da Universidade de Nova York, revelaram que com frequência julgamos pessoas com base em estereótipos dos quais não temos consciência – e que não conseguimos deixar de agir com base nesses estereótipos.

Também tendemos a acreditar nos estereótipos relativos a grupos sociais dos quais consideramos que fazemos parte.

Em um estudo, Bargh pediu a um grupo de pessoas que organizasse palavras relacionadas à velhice, como “Flórida” (onde vivem muitos aposentados americanos), “impotente” e “enrugado”.

Depois disso, eles caminharam por um corredor, andando bem mais devagar que os membros de um grupo que tinham organizado palavras não relacionadas à idade.

Bargh teve os mesmos resultados em dois outros estudos comparáveis em que eram aplicados estereótipos baseados em raça e cortesia.

“Os estereótipos são categorias levadas longe demais”, disse Bargh à Psychology Today.

“Quando usamos estereótipos, apreendemos o gênero, a idade e a cor da pele da pessoa que está diante de nós, e nossa mente responde com mensagens dizendo ‘hostil’, ‘estúpido’, ‘lento’, ‘fraco’. Essas características não estão presentes no ambiente. Elas não refletem a realidade.”

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