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Vale tudo na busca de uma "chuva de likes"

Instagrammers confessam que já escolhem onde ir calculando os likes que as fotos vão receber na rede social

Instagram: para quem cuida da arroba como se fosse um filho, vale até fazer estoque de posts com roupas diferentes (Carl Court/Getty Images)

Instagram: para quem cuida da arroba como se fosse um filho, vale até fazer estoque de posts com roupas diferentes (Carl Court/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de setembro de 2018 às 14h46.

Última atualização em 2 de setembro de 2018 às 14h46.

Uma foto do café da manhã, da parede colorida ou do hambúrguer gourmet. Quem nunca publicou suas experiências na internet que atire a primeira pedra. Os "instagrammers" - aqueles que não resistem a compartilhar um belo clique na rede social - estão por toda parte e confessam: já escolhem onde ir pela "chuva de likes" que podem receber.

Sintoma desse novo modo de viver, uma exposição em São Paulo resolveu facilitar. Por lá, nada de proibir tirar fotos. Pelo contrário: as imagens dos 28 cenários - coloridos e nomeados com hashtags - são incentivadas. "Todos foram criados para serem interativos e fotografáveis", diz Vera Kopp, idealizadora da FunCast, no Jardim Pamplona Shopping, na região central paulistana.

Em meio a grupos que faziam caras e bocas diante de paisagens com nuvens de algodão, flores e unicórnios, Lívia Maia, de 23 anos, explica: "É bom para quem quer ter fotos mais parecidas com as de influencers (influenciadores digitais)". A foto que ela tirou em uma cama cheia de plumas já foi parar no Instagram. "E teve 3 mil impressões (visualizações)", comemora a publicitária.

Mas nem tudo é publicado na hora. Para quem cuida da arroba como se fosse um filho, vale até fazer estoque de posts, com roupas diferentes, para provisionar. O analista de polissonografia Rodrigo Almeida, de 27 anos, queria ter opções para deixar seu Instagram mais bonito. "Gosto do feed organizado por cores", dizia ele, enquanto se contorcia para caber em uma banheira cor-de-rosa. Antes, já tinha garantido, para o futuro, o tom de verde em outro cenário.

"Esperávamos adolescentes, mas o público que mais visita é adulto", diz Vera. Desde julho, mais de 5 mil pessoas passaram pela exposição, com ingresso a R$ 50. A ideia veio de fora. Nos Estados Unidos, espaços "instagramáveis" fazem sucesso. O Museu do Sorvete, com doces gigantes, teve ingressos esgotados na inauguração, em Nova York.

Com 57 mil seguidores, a professora de natação Cris Oliveira, de 23 anos, diz que os cenários ajudam no "desempenho" das fotos no Instagram - a maior parte sobre cabelo e maquiagem. Por isso, vive de olho em lugares fotogênicos e busca na internet imagens de onde ir. Prefere pontos charmosos, como vilas. "Já fui a uma cafeteria e consumi para tirar fotos bacanas."

Experiência

Lucia Robertti, de 23 anos, é outra que não resiste a um clique. Quando uma sorveteria abriu na Rua Augusta, na região central, ela juntou as amigas blogueiras e youtubers para conferir. Rodeado de algodão-doce colorido, o sorvete da Dona Nuvem bombou. "Ele é bom, mas tem a ver com o visual também", diz a jovem que trabalha com e-commerce de moda.

"A experiência de tomar o sorvete começa nas redes", conta Manoel Lima, idealizador da Dona Nuvem. E também desemboca lá. Quem publica fotos com a sobremesa nas mãos aparece em um telão na loja. "Pensamos na arquitetura para ser 'instagramável'", afirma ele, que calcula que 95% dos clientes acabam fazendo uma pose. Lucia perdeu a conta de quantas vezes voltou (e postou) e diz que, na saga por cliques, avalia a luz do sol e tenta até combinar a cor do produto com a roupa.

No High Line Bar, na Vila Madalena, zona oeste, o Instagram entrou até no cardápio este ano. Seis drinques fazem homenagens a contas famosas de humor, como a @soueunavida. Há bebidas vermelhas com seringas ou aquelas servidas sobre uma boia de unicórnio. "É uma carta de drinques divertida, com apresentação diferente para a pessoa fotografar e colocar nas redes", diz Erika Souto, responsável pelo marketing do restaurante.

Para Luiz Peres-Neto, pesquisador da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a ideia de "entrar em um circuito de consagração social, de aplausos" está por trás nessas interações. Mas não é só. "A necessidade de narrar uma história é forte nesse tipo de consumo atrelado às redes sociais." Os adeptos da "vida instagramizada" parecem concordar. "Não se perde a experiência. A foto vira parte dela", diz Lucia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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